Clima tenso!

Taxistas e motoristas do Uber em clima de tensão na Câmara de Curitiba

“Diga não à pirataria”. Com este mote, cerca de 300 taxistas protestaram na manhã de ontem pelas ruas da região central de Curitiba, próximas à Câmara Municipal, contra a regulamentação do aplicativo Uber. A Avenida Visconde de Guarapuava foi parcialmente bloqueada e o trânsito, desviado. Após a concentração na Câmara, os taxistas passaram pela Prefeitura de Curitiba até chegar no prédio da Justiça Federal, onde pediram apoio do juiz Sergio Moro.

O protesto aconteceu depois da confusão registrada na sexta-feira (24) à noite, que se estendeu pela madrugada de sábado (25), quando integrantes dos dois grupos entraram em conflito em, pelo menos, três momentos. Os taxistas são contra a operação do aplicativo, que se ampara no Plano Nacional de Mobilidade Urbana para funcionar, enquanto aguarda regulamentação municipal.

Além dos taxistas da capital, o protesto também recebeu trabalhadores de outras cidades da região metropolitana, principalmente os de São José dos Pinhais, que atendem no aeroporto Afonso Pena. Dois caminhões de som foram colocados em frente ao Palácio Rio Branco. Os manifestantes também soltaram fogos de artifício.

Dentro dos portões da Câmara, estavam cerca de 50 motoristas do Uber. Do lado de fora, separados por um cordão de guardas municipais, estavam os taxistas. Apesar do clima tenso, não houve conflito. Os taxistas participantes do ato querem que os vereadores proíbam o aplicativo na cidade, mas o Legislativo já começou a discutir a regulamentação de serviços de transporte alternativos, equiparando encargos aos dos táxis.

Cordão de isolamento foi cruiado para evitar novos confrontos.

Divididos

“Quem vai perder vai ser a sociedade, porque não há controle nenhum”, desabafou Erasto Luiz Ribas, de 43 anos, taxista há 15 anos. Ele opina que a regulamentação do Uber é problemática, pois abriria precedente para atuação de outros aplicativos similares. “Curitiba é uma cidade que tem fama de ter um excelente transporte de táxi. O bom serviço prestado vai ser afetado. É uma questão estrutural, questão de segurança. Todas as pessoas precisam de licenças, habilitações e limitações, para que os serviços sejam oferecidos com qualidade”.

Tania Salazar, motorista do Uber há dois meses, acredita que a regulamentação esteja prestes a acontecer. “Acho lamentável a ação dos taxistas nos chamando de piratas e bandidos. Não somos regulamentados, mas somos amparados por uma lei federal, que nos autoriza na função”.

“Trabalho com medo”, disse Tânia Salazar.
Foto: Gerson Klaina.

A mulher, que tem filhos, disse que trabalha todos os dias, mas com medo. “Tenho que me esconder, pedir para que os passageiros sentem na frente ou façam de conta que me conhecem. Medo eu tenho, porque não quero que meu bem seja danificado ou que algo pior aconteça. Quero sair de casa, saio às 4h, bem e chego melhor ainda por estar trabalhando satisfeita e feliz”, declarou.

Fabio Taborda trabalha há 18 anos com o carro laranja e representa a União dos Taxistas de Curitiba (UTC). De acordo com ele, a chegada do Uber não afeta somente os táxis. “Queremos fazer com que as pessoas entendam que estamos mais preocupados com a população, que vai sofrer. O sistema de transporte da cidade será afetado, o táxi ,foi somente o primeiro alvo. A gente só quer que a lei seja cumprida”, explicou.

Qualidade do serviço

Os motoristas do Uber alegam que o trabalho desempenhado por eles, além de melhor no custo x benefício, é feito com mais excelência. “O serviço de táxi é um transporte público, enquanto o Uber é privado. São distintos. Nossos clientes não são sempre os mesmos, a gente, por exemplo, não para na rua para pegar o passageiro”, disse um homem de 38 anos, condutor do Uber há quatro meses.

De acordo com o motorista do aplicativo, que ficou mais de um ano desempregado antes de começar a dirigir com o Uber, o atendimento é o que tem conquistado cada vez mais clientes. “Nós temos uma atendimento diferenciado, como, por exemplo, a cordialidade, serviço de bordo com internet liberada, telefone se for preciso, carregadores para celular, bebida e comida, dependendo de cada motorista. E isso não significa que os taxistas não possam fazer o mesmo, esse é o sentido de concorrência”.

O presidente da UTC defende que a maioria dos trabalhadores tem se dedicado a fazer um bom atendimento e oferecer o máximo de melhora possível. “Inclusive, temos conversado para que sejam feitas a capacitação, requalificação, reciclagem dos motoristas e até a uniformização. A gente tem realizando um trabalho de conscientização para que haja uma ética profissional, para que alguns taxistas mudem seus comportamentos, pois precisamos melhorar sempre”, disse Fábio Taborda.

“Já temos a concorrência, mas entre os táxis”,
defendeu Fábio Taborda. Foto: Gerson Klaina.

A concorrência, segundo o taxista, existe e deve continuar, mas de táxi para táxi. “Além de termos uma grande quantidade de táxis na cidade, também oferecemos o atendimento em quatro categorias: transbike, compartilhado, convencional e o executivo. A pessoa pode escolher qual quiser”.

Confrontos

Em Curitiba, atuam hoje aproximadamente 5.700 taxistas, contra cerca de 1.600 motoristas do Uber. Sobre os confrontos do final de semana, que foram registrados no Aeroporto Afonso Pena, na Região Metropolitana de Curitiba, nas imediações da rodoferroviária e no bairro Batel, cada lado defende uma versão da história. Duas pessoas foram detidas.

Os motoristas do Uber contaram à Tribuna que o posto de combustível onde costumam se encontrar foi invadido por taxistas. “Nós não agredimos ninguém, eles simplesmente entraram e nos proibiram de nos concentrarmos e até de sairmos de lá. Isso que aconteceu não é legal da parte deles e sim imoral”, disse Tania Salazar.

Já a versão dos taxistas é de que na sexta-feira, em São José dos Pinhais, o confronto aconteceu depois que um motorista de táxi foi acuado por outro motorista do Uber. “Esse taxista pediu reforço e, como somos unidos, chegaram muitos táxis. Houve o atrito e perderam o controle da situação”, comentou Fábio Taborda.

Para os motoristas do Uber, a regulamentação não vai fazer com que os táxis sejam substituídos, mas sim que as pessoas escolham o serviço que querem usar. Já para os taxistas, o que aconteceu no final de semana foi o estopim da revolta e nada que seja feito irá contribuir com a classe. “Não se tem como explicar o que o taxista tem passado neste momento”, defendeu o presidente da UTC.

Taxistas ocuparam a rua em frente ao prédio da Justiça Federal, no Ahú. Foto: Gerson Klaina.

Autuações

A Prefeitura de Curitiba informou que, neste ano, foram feitas 75 ações integradas de fiscalização de serviço irregular de transporte de passageiros, com 370 veículos abordados. Atualmente, quem é flagrado dirigindo sem permissão paga uma multa ,de R$ 85, mas em agosto, o valor será reajustado para R$ 1,7 mil. A medida integra uma lei recentemente sancionada pelo prefeito Gustavo Fruet, que vetou o artigo que proibia a operação de serviços alternativos ao táxi, como o Uber.