Hora de voltar

Retorno ao trabalho após a maternidade é um grande desafio

As mulheres modernas são quase heroínas de histórias em quadrinhos. Em suas rotinas, elas precisam ter super habilidades, para serem mães, profissionais e mulheres. Tudo bem feito e ao mesmo tempo. E um dos momentos mais delicados na vida destas batalhadoras é a volta ao trabalho depois do término da licença-maternidade. Saudade, medo e ansiedade acompanham elas nos primeiros dias longe do bebê, com quem viveram tão unidas nos últimos quatro ou seis meses. Mas existem algumas estratégicas que podem amenizar o sofrimento dessas mamães, como explicam especialistas e mulheres que já passaram por isso.

A professora Suellen Cruz, de 30 anos, é um exemplo de quem buscou se preparar com antecedência. Durante os meses de gestação, ela organizou a rotina que teria após o nascimento de Enzo, hoje com sete meses de idade. “Quando chegou a hora de voltar ao trabalho, sofri nos primeiros dias, é claro, mas o que me deixou mais tranquila foi saber que ele ficaria em um lugar seguro. Ainda na gravidez, visitei escolinhas e pedi indicação para as amigas. Outra atitude que me deixa calma é mandar meu leite para a escola, assim sei que meu bebê fica bem alimentado e protegido”.

Outra mamãe que passou por esta experiência foi a assistente administrativa Fabiane Mendonça, de 35 anos. “A primeira filha veio cedo e de forma inesperada, quando eu tinha 16 anos. Já Maria Fernanda foi planejada. Nesta gestação, conversava com ela todos os dias enquanto ela estava na barriga, no caminho para o trabalho. Eu falava para ela que a amava muito, mas que um dia teria que fazer este mesmo trajeto sozinha para ir trabalhar. Acho que ela já começou a “entender” a situação desde este momento”. Durante os seis meses de licença da mãe, Maria Fernanda visitava suas avó e bisavó diariamente – hoje, a criança fica com elas enquanto a mãe trabalha.

Tanto Suellen como Fabiane contam que o dia mais difícil é o primeiro de retorno ao trabalho. Para a psicóloga Alessandra Cristina Taborda, programar as atividades para poder voltar ao trabalho é fundamental. “As mães sofrem muito com o sentimento de culpa, com a dor por deixar o filho sozinho. Quando elas sabem que eles estão seguros, seja com as avós ou na creche, a dor é amenizada”. Para poder desempenhar seu papel profissional com tranquilidade, a psicóloga ensina algumas dicas para as mães. “São atitudes simples como: conversar com o bebê, mesmo que ele não entenda as palavras; tirar o leite todos os dias, isto acalma a mãe e satisfaz o filho; telefonar para saber do filho uma a duas vezes ao dia; reservar momentos para ficar com a criança no fim do dia. E pedir ajuda ao marido, ter um companheiro ao seu lado é bom para toda a família”, afirma Alessandra.

Como enfrentar as dificuldades?

Cansaço físico, pressão psicológica, estresse, conflito entre o vínculo maternal e as responsabilidades profissionais são os principais problemas que as novas mães enfrentam ao retornarem ao trabalho, segundo especialistas. Por isso, segundo a coach Andrea Montrucchio, a primeira recomendação às mulheres é que elas saibam as consequências e as responsabilidades de se ter um filho. Depois disto, é necessário um planejamento que consiga reconciliar o tempo do trabalho e o tempo com a criança.

De acordo com ela, fazer as escolhas certas não é tarefa fácil. É nesse momento de pressão que as mães precisam ter um grande autoconhecimento de sua personalidade e sua capacidade de cumprir compromissos difíceis. Para isto, “é preciso que elas tenham em mente que elas são o centro da situação, que elas sigam as próprias intuições sem se sentir forçadas”, aconselha.

Para a coach Adriana Ferrareto, é a mãe que “deve repensar a agenda dela, rever o tempo disponível, saber se h&aacut,e; necessidade de ter que trabalhar por questão financeira e ter o conhecimento do desafio de delegar a família e o trabalho”. De acordo com uma pesquisa realizada pela empresa de empregos Catho, divulgada em 2013, 25,8% das mulheres entrevistadas levam entre um a dois anos para retomar a vida corporativa.

Um dos principais problemas que as mães enfrentam ao voltarem da licença-maternidade é a desmotivação no trabalho, provocada pelo sentimento de insegurança. “Quando ela volta ao trabalho, ela se sente deslocada e insegura. Ela não sabe se vai voltar ao mesmo posto ou como vai se reenquadrar com o ritmo anterior”, afirma Andrea.

Mas, como as empresas podem ajudar? De acordo com Adriana, no Brasil existem algumas empresas que disponibilizam ajuda à mãe, com creches, apoio psicológico e a concessão à mãe de poder cuidar do filho em casos nos quais o estado de saúde da criança é crítico. Mas o número de empresas no país que promovem esse amparo ainda é pequeno. “É uma questão a ser trabalhada no Brasil. Ainda existe muita insegurança das mulheres depois que elas voltam a trabalhar”, explica a coach. Para a especialista, as empresas deveriam disponibilizar auxílio de psicólogos, de gestores de pessoas e de recursos humanos. “Esse preparo deveria ser anterior à licença-maternidade, enquanto elas são gestantes, e não só depois”.

Colaborou: Rômulo Ogasavara