Constatação

Mãe de menina morta diz que crime poderia ter sido evitado

A morte da menina Vitória Emanuele Urch de Oliveira, 2 anos, com um tiro na cabeça disparado pelo próprio pai na zona rural de Piaraquara, poderia ser impedida. Segundo a mãe da criança, Beatriz Urch dos Santos, desde que ela se separou do marido, o eletricista Marco Antônio de Oliveira Leal, 36, há dois meses, ele ameaçava matar não só a menina, mas os dois filhos mais velhos do casal, de 6 e 9 anos. Mesmo registrando boletim de ocorrência na delegacia da cidade, sobre a intenção assassina do ex-marido, Beatriz alegou não ter recebido atenção das autoridades.

“No Dia das Crianças ele foi extremo. Me ligou várias vezes, dizendo que tinha matado as três crianças e que era apenas para eu ir buscar os corpos. Fiquei desesperada, mas descobri que ele estava mentindo. No dia seguinte, registrei queixa na delegacia”, contou Beatriz, com cópia do BO nas mãos. Mesmo informando a polícia sobre as ameaças de Marco Antônio, nada foi feito e as crianças permaneceram na casa da avó paterna.

Reprodução/Aliocha Maurício

“Quando nos separamos, não tinha para onde ir e as crianças ficaram na casa da mãe dele, que sempre cuidou muito bem delas. Fui morar com uma amiga, mas ele me aterrorizava. Estava obcecado por mim e ficou cego a ponto de matar nossa filha. Não acreditava que ele seria capaz desse ato”, lamentou a mãe.

Beatriz comentou que deixou do marido porque vinha sofrendo com a violência dele dentro de casa. “Sempre foi muito ciumento. Me deixava na porta do emprego e ia me buscar, mesmo assim dizia que eu tinha outra pessoa. Abandonei-o porque ameaçou me matar. Depois disso, passou a ameaçar as crianças”, relembrou Beatriz.

Mesmo com a tristeza profunda causada pela perda de Vitória, a mãe disse estar, de certa forma, aliviada por os outros filhos terem sido poupados. Segundo ela, apesar da crueldade demonstrada pelo ex-marido, Vitória sempre foi muito apegada ao pai. “Nos álbuns de família ela sempre aparece abraçada a ele”. Beatriz também relatou que Marco Antônio assistia, com frequência, alguns seriados americanos policiais e tinham interesse por crimes misteriosos.

Execução

Durante o passeio na região de Roça Nova, Marco Antônio deixou os dois filhos mais velhos perto da represa e se distanciou alguns metros com Vitória. A menina e o pai subiram o barranco, onde costumavam ir para apreciar a vista, então houve o disparo.

“Eu mandei ela virar de costas e ir andando. Atirei quando chegou perto do barranco, depois ela caiu da ribanceira. Não sei o que me deu, não consigo explicar porque matei ela”, disse Marco Antônio. Ele alegou que estava tomando remédios controlados e apertou o gatilho por estar sofrendo surto psicótico.

Os dois irmãos ouviram o tiro e saíram da água. Como o pai não dizia nada, suspeitaram que tinha feito algum mal contra Vitória, por isso o mais velho pegou a chave do carro e jogou no matagal. Marco Antônio se obrigou a pedir carona a uma dupla de pescadores e voltou para a casa da mãe, onde deixou os dois garotos e saiu a pé.

Depois de ouvir o relato dos irmãos, os familiares resolveram chamar a Polícia Militar. Três equipes do Batalhão de Polícia de Guarda (BPGd) foram até a residência, no bairro Guarituba, e descobriram que Marco Antônio estaria no Jardim Holandês. No fim da tarde conseguiram capturá-lo na Rua Betonex, portando o revólver 38 usado para atirar em Vitória.

De início, Marco Antônio disse aos policiais que a menina estava bem, na casa de um paren,te no centro da cidade. Os PMs foram ao endereço indicado, mas descobriram que era mentira e voltaram a questioná-lo. Foi ai que o homem confessou pela primeira vez ter matado a filha. Levou os policiais até os pés da ribanceira onde o corpo estava.

Por ser um local de difícil acesso, a perícia terminou somente de madrugada e o corpo foi recolhido pelo Instituto Médico-Legal quando o dia quase amanhecia. Por volta das 7h30, Marco Antônio foi entregue na delegacia, junto com o revólver, e foi autuado em flagrante por homicídio.

Lineu Filho
Os bombeiros foram chamados, porque os moradores ameaçavam queimar a casa toda.

Revolta dos vizinhos

Os moradores da Vila Nova, no Guarituba, onde Marco Antônio morava com a mulher e os três filhos, ficaram revoltados com o crime. Na noite de quarta-feira (29), quando um parente da família chegou à casa do casal, na Rua Uruguai, para pegar alguns objetos, os vizinhos tentaram atear fogo na residência.

Os bombeiros foram chamados, porque os moradores ameaçavam queimar a casa toda. Eles não conseguiram cumprir com a intenção, mas como forma de protesto pela morte da criança, queimaram objetos que estavam no terreno, mas com a promessa de atear fogo na residência outro dia. “Esperem e vocês vão ver”, disse uma vizinha.

Agressivo

Os moradores confirmaram a versão de Beatriz, de que Marco era um homem agressivo. “Ela estava sofrendo com as ameaças dele. Foi por isso que ela saiu de casa. Ele disse pra ela que se ela levasse as crianças, ele mataria não só os filhos, mas ela também”, disse um morador próximo, que pediu para não ser identificado. Segundo o vizinho, Marco teria a arma porque estava envolvido com o tráfico de drogas. “Nós estamos inconformados com o que aconteceu. Ele não merecia estar preso. Merecia estar morto”, disse.