Profissão: estudante

Como hoje é 15 de outubro, é de se esperar que seja o tema dominante em um espaço de reflexão sobre a educação. Alguns fatores me inibem de fazê-lo aqui nesse espaço que cabe a mim. O principal deles é um sentimento adquirido ao longo da vida que me faz acreditar que aquilo que é essencialmente importante, em geral, dispensa palavras e discursos.

Ao longo dos anos em que tenho experimentado as dores e as delícias da profissão de professor, aprendi que há diversas formas de ser homenageado. O brilho nos olhos de um aluno no momento em que, em função do trabalho que juntos desenvolvemos em sala de aula, alguma idéia surge, algum raciocínio se completa, alguma perspectiva nova se abre, é a mais pura e completa satisfação que posso alcançar na labuta diária. Essa é, para mim, a melhor homenagem. Meu desejo é que os professores pelo mundo afora possam cada vez mais vivenciar momentos como esses.

Porém, como já tive oportunidade de expressar anteriormente aqui neste espaço, não é nos resultados imediatos que devemos pautar nossa conduta e nossa prática na educação. Instituições de ensino e profissionais da educação, se querem efetivamente oferecer aos seus alunos e às pessoas que a eles se ligam algo de valor, devem ter o foco no futuro. É lá que o resultado significativo de nosso trabalho irá se consolidar.

Esse é o motivo pelo qual uma notícia publicada esta semana, com base em pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Die-ese), me chamou a atenção. A pesquisa intitulada Ocupação dos Jovens nos Mercados de Trabalho Metropolitanos, realizada nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e Distrito Federal, aponta que dentre os desempregados com mais de 16 anos, os jovens até 24 anos representam 45,5% do total. Já entre os empregados nessa mesma faixa, os jovens representam apenas 20,7%.

À primeira vista a explicação é simples: por serem jovens têm pouca ou nenhuma experiência profissional. Mas numa análise mais detalhada a pesquisa mostra também que 70% desses jovens já tiveram algum tipo de atividade profissional, o que coloca o problema mais no campo do preconceito do que das condições objetivas em relação à formação de boa parte desse contingente. E é aí que entram as escolas, os professores e o marketing educacional. Você, leitor, deve estar se perguntando de que forma se dá essa conexão. Meu objetivo nesse artigo é tentar responder a essa pergunta.

Um dos objetivos mais importantes do marketing é influenciar a percepção das pessoas para que percebam valor nos produtos e serviços que são oferecidos a elas e possam compreender de que maneira eles podem ajudá-las a melhorar seu padrão de vida. Na educação isso não é diferente.

Sem dúvida, a formação para a vida profissional é um valor inestimável que a educação pode e deve propiciar a seus alunos, quer seja na forma de competências e habilidades específicas adquiridas e desenvolvidas no processo educacional, quer seja na construção de valores, comportamentos e atitudes que contribuam para a formação de cidadãos responsáveis e conscientes. Mas essa formação em si não é suficiente se ficar confinada ao espaço da escola.

Dentre os diversos benefícios que as escolas podem oferecer aos seus alunos, está a sua interferência na sociedade com o objetivo de criar e consolidar as condições necessárias para que o processo educacional se consolide em resultados objetivos para seus alunos, tais como a possibilidade de iniciar uma carreira profissional. E isso tem tudo a ver com marketing.

Tanto as escolas públicas quanto as particulares buscam cada vez mais se diferenciar em um mercado altamente competitivo. Em geral, essa disputa é feita de forma isolada, com cada escola ?puxando a brasa para a sua sardinha?, o que em si é normal e deve continuar. O que não se pode perder de vista é a visão mais ampla do papel da educação na sociedade.

A pesquisa apresentada acima mostra que, independente da qualidade e dos esforços de cada escola isoladamente, a concretização dos resultados da educação na vida profissional está sob ameaça. Portanto, está sob ameaça a imagem da importância da educação nesse processo, e está sob ameaça a imagem de todas as escolas e de todos os profissionais da educação.

Cada vez mais se torna comum instituições de ensino passando a se utilizar das ferramentas de marketing, em especial a propaganda, para tentar construir uma imagem positiva na sociedade. Muitas delas, em especial as de ensino médio e superior, o fazem por meio da ligação entre elas e o mercado de trabalho, que se resume na maioria das vezes às empresas. No entanto, são quase inexistentes aquelas que se preocupam em ligar a construção da sua imagem a aspectos sociais mais amplos ligados a essa problemática.

Não basta mostrar que as empresas valorizam profissionais com boa formação educacional e tentar ligar uma instituição educacional específica a essa imagem de qualidade. É necessário um trabalho de valorização dos profissionais em início de carreira, e para tanto é necessário que isso esteja presente na formação concreta desses jovens. Mais do que dar conhecimentos técnicos, devemos ensinar nossos jovens a construir seu valor profissional com base em sua experiência de vida. Por outro lado, deve-se fazer uma trabalho de marketing visando mudar a percepção dos profissionais que já estão no mercado e são os ?contratadores?, ou seja, aquelas pessoas que têm na mão a possibilidade efetiva de abrir as portas para esses jovens.

Trago aqui uma situação vivida por mim que acredito servir para exemplificar o que defendo. Certa vez, como gestor de marketing de uma instituição de ensino precisava contratar uma pessoa para trabalhar especificamente na organização de eventos.

Recebi inúmeros candidatos e candidatas, e ao final precisava tomar a decisão entre duas opções, ambas com características positivas e próximas ao perfil desejado, porém com uma diferença: havia uma das pessoas que não tinha nenhuma experiência profissional formal. Minha decisão foi tomada com base no fato de que essa pessoa havia destacado, em seu pequeno currículo e também numa das entrevistas, que durante o ensino médio havia participado do grêmio escolar, onde havia trabalhado na organização de pequenos eventos.

Fomentar no mercado de trabalho esse tipo de percepção e tentar eliminar preconceitos, bem como oferecer aos nossos alunos uma perspectiva de vivenciar e valorizar experiências de vida diversas como fonte de valor profissional é, sem dúvida, um papel importante da escola seja em que nível for.

Ricardo Pimentel é consultor de marketing educacional e professor da FAE Business School/Unifae e da Faculdade Opet.

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