Oficial da PM escreve dicionário só de gírias do meio policial

“O lóque mandou muito goró, encontrou um outro malária no mocó da farinha, onde também tava rolando uns fininhos, e trocaram uma idéia. Os dois analisaram a lurdinha e decidiram partir na mesma hora pro desenrole. Foram fritar o sujeira que tinha derrubado uma bronca antiga. Depois que o cara foi prá fita, desovaram e saíram pras quebradas, quando perceberam a nave chegando. Ali rolou o espeto. Tentaram dar um grupo, mas deram marcação e caíram com um gambé, que deu uma geral legal e encontrou um jamaicano. Deram azar: o meganha era um macetoso, que sacou a fita e deu uma fumada nos dois, mas sem chapuletada. Saíram engatados, no camburão, direto pro xadrez”.

A maioria dos leitores não deve ter entendido a maioria das frases acima. O texto usa gírias do dia-a-dia de marginais e policiais. Algumas dessas palavras já caíram em uso corrente, mas muitas expressões ainda são de uso exclusivo da malandragem – que inclusive usa as gírias como uma espécie de filtro para detectar possíveis delatores infiltrados na quadrilha. Afinal, se o “mano novo no pedaço” não souber usar corretamente as expressões, cai na desconfiança dos bandidos.

Para decifrar estas e outras expressões, um policial militar escreveu um dicionário especializado. O 1.º tenente Marco Antonio da Silva – que já escreveu outros seis livros, todos publicados – disse que teve a idéia de fazer o Dicionário de termos, expressões e gírias policiais militares por um motivo muito simples. “Era uma coisa que ninguém tinha feito ainda”, resumiu. O livro foi lançado anteontem, na sede da Companhia de Choque, onde o tenente está lotado.

Escritor

Ele é formado em História, tem 30 anos e é policial militar há 11. Atualmente é também instrutor de diversas disciplinas na Academia do Guatupê. Adora escrever: nos tempos da faculdade publicou quatro livros “em esquema independente”, com crônicas, contos e poesias. Há dois anos, lançou Crônicas da Vida Policial, com pequenas histórias relatando “causos” do seu cotidiano como PM. Ano passado, escreveu um livro de caráter didático e preventivo: Prevenindo Crimes e Acidentes. Este ano, saiu o dicionário de gírias – todos editados pela seção de Publicações da Associação da Vila Militar.

Marco Antonio já escolheu o tema de seu próximo livro. Será o segundo volume das crônicas da vida policial. “Nosso dia-a-dia é cheio de histórias interessantes. Acontecem situações que as pessoas nem imaginam”, justifica. Enquanto o novo livro ainda está no forno, os leitores interessados podem se divertir – e aprender muito – com as três publicações. Informações sobre como adquirir os livros – vendidos por apenas R$ 3,00 (crônicas) e R$ 8,00 (prevenindo crimes e o dicionário) – podem ser obtidas pelo telefone 304-4742, no setor de Imprensa da PM.

Tradução

Para os leitores que não entenderam quase nada, segue a tradução do texto que abre a matéria:

“O imbecil bebeu demais, encontrou outro marginal no esconderijo da cocaína, onde também estavam fumando cigarrinhos de maconha, e conversaram sobre um crime. Os dois analisaram a pistola Beretta e decidiram partir na mesma hora para a ação. Foram executar o delator que tinha entregado para a polícia um crime anterior deles. Depois que o homem morreu, livraram-se do corpo e foram para as ruas da favela, quando perceberam a viatura da PM chegando. Ali começou a situação ruim para eles. Tentaram enganar os policiais, mas tiveram atitudes suspeitas e foram abordados por um policial militar, que fez uma revista e encontrou com eles um cigarro grande de maconha. Deram azar, porque o PM era experiente, percebeu que eles tinham cometido outros crimes e chamou a atenção deles, sem no entando usar de violência. Os dois saíram algemados, na viatura, direto para a cadeia da delegacia”.

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