Paraná tem 60 espécies de animais em extinção

No futuro, alguns dos animais que hoje habitam a Terra poderão a ser vistos apenas em imagens de vídeo e fotografias. A cada dia, entre cinqüenta e 250 espécies de plantas e animais (incluindo fungos, microorganismos, invertebrados e vertebrados) são eliminadas do planeta. A informação consta do Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção do Estado do Paraná – elaborado pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e publicado no ano de 2004.

Atualmente, a lista oficial de animais em extinção divulgada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é composta por dezesseis anfíbios, 154 aves, 79 invertebrados aquáticos, 122 invertebrados terrestres, 69 mamíferos, 161 peixes e vinte répteis. Desses, têm ocorrência no Paraná 32 aves, seis invertebrados terrestres, dezenove mamíferos e três répteis.

O processo de extinção é causado pela exploração desordenada dos recursos ambientais por parte do ser humano. Ele cresce junto com a população e à medida que os índices de pobreza aumentam. Porém, são diversos os fatores que levam ao sumiço das espécies, entre eles a destruição total ou parcial de um ambiente através do desmatamento. "Quando o homem acaba com uma floresta, como por exemplo a de araucária, destrói também toda a fauna que existe nela", comenta a bióloga da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Elenise Sipinski.

Quando o ambiente é fragmentado (apenas uma parte é destruída), são formadas pequenas áreas sem ligação. Assim, grupos de animais são separados, não havendo possibilidade de trocas genéticas, alguns indivíduos ficam sem acesso à alimentação e expostos a doenças. "As espécies endêmicas (de ocorrência apenas em uma determinada região) são as mais sensíveis, assim como as que dependem de um ambiente grande e de muita comida".

A introdução de espécies exóticas em um determinado ambiente, conhecida como contaminação biológica, também é um problema. Quando um animal exótico é solto, ele pode vir a se tornar um predador das espécies nativas. Começa a haver competição por alimento e espaço e um acaba matando o outro. A contaminação biológica acontece principalmente quando as pessoas trazem animais de outras regiões do País ou mesmo de países estrangeiros e, sem condições de criá-los, os soltam na natureza.

Tráfico

Porém, os principais fatores que levam à extinção são a caça esportiva, que geralmente atinge animais que têm a carne bastante apreciada, e a captura ilegal, que visa o comércio local, nacional e internacional. O tráfico de animais silvestres é o maior comércio ilegal do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas. Ele movimenta, segundo o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) – mantido através de uma parceria entre PUCPR e Ibama, em Tijucas do Sul – cerca de US$ 20 bilhões ao ano. Estima-se que, no Brasil, o tráfico seja responsável pela retirada anual de 38 milhões de animais das matas. De cada dez, apenas um sobrevive.

Tratamento clínico e encaminhamento é função do Cetas

Receber, tratar e encaminhar os animais para um destino adequado. Essas são as funções do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), criado no ano de 1999, no município de Tijucas do Sul, Região Metropolitana de Curitiba.

Comandado por professores e alunos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o lugar abriga animais oriundos de apreensões feitas pelo Ibama. A maioria dos bichos são vítimas do tráfico, sendo apreendidos no momento da venda ou mesmo quando mantidos como animais de estimação por pessoas não autorizadas.

A professora de Zootecnia e coordenadora técnica do Cetas, Luciana Batalha de Miranda, explica que, quando os animais chegam, são avaliados clinicamente e passam por um período de quarentena. Muitos se encontram em péssimas condições de saúde, necessitando de tratamentos específicos e mesmo cirurgia.

"A maioria chega estressada, com problemas na pelagem, fraturas, vítimas de viroses ou mesmo mortos", declara. "Tudo isso é resultado da forma como eles são armazenados para venda, da manutenção em locais inadequados (como jaulas muito pequenas ou pisos escorregadios) e de alimentação errada".

O tempo que os animais permanecem no Cetas é bastante variável, dependendo justamente do estado de saúde. Quando eles estão em boas condições, são encaminhados para soltura, destinados a zoológicos, criadouros registrados no Ibama e centros de pesquisa. "Geralmente só são soltos os animais recém-capturados. Os que permanecem muito tempo em cativeiro não se adaptam mais à vida em liberdade", comenta a professora.

Cerca de 80% dos animais recebidos pelo Cetas são aves, como papagaios, periquitos, araras, canários e tucanos. Os mamíferos representam 13% -sendo muito comuns os sagüis e macacos-prego – e os répteis, 7%, tendo destaque os tigres-d?água. (CV)

Recife artificial para preservar o peixe mero

No litoral do Estado, um projeto de instalação de recifes marinhos artificiais vem ajudando na preservação do peixe mero, que corre risco de extinção. Mantido pelo Instituto Ecoplan – uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos – o projeto é realizado desde o ano de 1997.

Até agora, entre as ilhas de Itacolomis e Currais, já foram instaladas cerca de duas mil estruturas. Os recifes são feitos de concreto especial, cujo pH é bastante semelhante ao pH da água do mar. Depois de colocados no fundo do oceano, eles servem de abrigo a peixes e outros animais.

"O mero, assim como outros peixes, vem utilizando os recifes de concreto como habitats artificiais, para se protegerem e colocarem ovos", comenta o engenheiro civil do Ecoplan responsável pela fabricação dos recifes, Eduardo Cabral. "Outro benefício aos animais é que os recifes impedem a pesca de arrasto, prendendo as redes ou mesmo rasgando-as".

O mero habita toda a costa brasileira. Porém, nos últimos anos, vem sendo muito difícil encontrá-lo. Devido à pesca indiscriminada, ele pode entrar em extinção. O peixe chega a pesar duzentos quilos e tem a carne bastante apreciada. "O quilo de carnes similares a do mero custa cerca de R$ 35,00. No momento, a pesca do animal está proibida pelo Ibama. Quem desobedece a determinação fica sujeito à multa e mesmo prisão".

Nos recifes de concreto já foi identificada a presença de cerca de 65 espécies de moluscos e crustáceos, além de trinta espécies de peixes. O projeto também vem gerando benefícios sociais, sendo que pescadores do município de Pontal do Paraná iniciaram um projeto de produção de vieiras e mexilhões junto às estruturas artificiais, criando uma nova alternativa de emprego e renda na região. (CV)

Projeto para salvar o papagaio-de-cara-roxa é destaque

No Paraná, um dos trabalhos de conservação mais conhecidos é o que visa preservar o papagaio-de-cara-roxa. Todos os anos, biólogos e médicos veterinários que prestam serviços voluntários à Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) realizam o censo do animal, também estudando seus hábitos e alimentação.

O papagaio entrou para a lista de espécies ameaçadas de extinção em meados da década de oitenta. Atualmente, existem no Estado, mais especificamente na região litorânea, cerca de 3,4 mil indivíduos. Embora seja predominante no Paraná, a ave também habita o sul de São Paulo e o norte de Santa Catarina.

A principal ameaça ao papagaio-de-cara-roxa é o tráfico. Considerado bastante atrativo devido ao colorido vivo de suas penas, o animal geralmente é retirado do ninho ainda filhote. Ele costuma ser comercializado em beiras de estradas, cativeiros clandestinos e feiras irregulares. Muitas vezes, é levado para outras regiões do Brasil ou mesmo para o exterior.

Outro fator que contribui para a extinção é a eliminação da Floresta Atlântica, considerada habitat natural dos papagaios-de-cara-roxa. O corte de árvores faz com que as aves fiquem sem abrigo e sem local seguro para fazerem seus ninhos. Além disso, a alimentação passa a ser escassa. (CV)

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