Delator é ‘mentiroso contumaz’, afirma Duque durante acareação em CPI

O engenheiro Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, preso na Operação Lava Jato, afirmou nesta quarta-feira, 2, na CPI que investiga corrupção na estatal, que o delator Augusto Mendonça “é um mentiroso contumaz”. Duque e o delator estão frente à frente em audiência de acareação na CPI da qual também participa o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso na Lava Jato.

Duque e Vaccari permanecem em silêncio, alegando orientação de seus advogados. Mas o ex-diretor de Serviços da Petrobras repetiu inúmeras vezes que o delator “é um mentiroso”.

Mendonça confirmou aos deputados da CPI que fez “contribuições” ao PT – valores tirados da propina que afirma ter pago a Duque. A pedido do então diretor de Serviços da Petrobras, Mendonça disse que procurou Vaccari para ajustar os repasses.

“Ele (Mendonça) é um mentiroso,ele sabe disso”, reafirmou Duque, olhando para o delator. “Não consegue provar nada porque ele não tem nada para provar, porque ele mente.”

‘Tigrão’

O misterioso personagem “Tigrão” dividiu a sessão da CPI da Petrobras em Curitiba, base da Operação Lava Jato. Em seus depoimentos à Polícia Federal e à Justiça Federal, Mendonça disse que Duque enviava emissários a seu escritório para retirar propinas em espécie. Os emissários de Duque eram identificados pela alcunha “Tigrão”, segundo Mendonça.

À CPI, Mendonça, que representava a Toyo Setal em negócios com a Petrobras, afirmou que eram pelo menos três os “Tigrões” de Duque. Descreveu um deles como “gordinho” com um metro e 70 de altura, aproximadamente. Este ia “mais vezes” retirar o dinheiro.

“Quem é ‘Tigrão’, onde mora esse ‘Tigrão’? Qual é a identidade desse ‘Tigrão’? questionou o deputado Luiz Sérgio (PT/RJ), relator da CPI. “Era um codinome, não sei quem era. Foram pelo menos três pessoas com esse codinome ‘Tigrão'”, respondeu o delator. “Uma pessoa foi várias vezes e outras pessoas poucas vezes”, completou.

“O sr. Augusto é um mentiroso”, reafirmou Renato Duque. “Ele cita ‘Tigrão’ em sua delação. Como alguém pode entregar uma fortuna para uma pessoa de nome ‘Tigrão’?”, questionou Duque.

O ex-diretor da Petrobras desafiou. “Gostaria de ver o retrato falado desse ‘Tigrão’, não é possível que alguém que receba tanto dinheiro e não exista fisicamente. Uma pessoa peculiar, que varia um metro e 70 a um metro e 80, meio gordinho. Pode ser qualquer um dessa sala”, disse.

Durante a acareação, Duque também disse que a cadeia “faz mal para a alma”. A afirmação foi feita após um parlamentar observar que ele aparentava estar em bom estado físico. “Deputado, a cadeia não faz mal para o corpo, faz mal para a alma”, respondeu o ex-diretor.