PSOL do RJ pede expulsão do deputado federal Cabo Daciolo

Depois de contrariar três vezes as diretrizes do PSOL desde que foi eleito em outubro passado, o deputado federal Cabo Daciolo (RJ), de 38 anos, foi suspenso pela executiva estadual, que também pediu à direção nacional a expulsão do parlamentar. A gota d’água foi o discurso de Daciolo na última quinta-feira, na Câmara, em defesa dos policiais militares acusados do assassinato do auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza, na favela da Rocinha (zona sul). Os PMs cumprem prisão preventiva.

“Vinte e cinco militares respondem por um crime que não cometeram. Doze desses estão presos. Vamos solicitar a presença dos Direitos Humanos da Presidência da República”, discursou Daciolo. Amarildo foi torturado e morto por PMs na Rocinha, em julho de 2013. O crime inflamou as manifestações contra o então governador Sérgio Cabral (PMDB). Partidos como o PSOL pressionaram pela apuração do caso. O corpo nunca foi encontrado.

Líder da greve dos bombeiros em 2011, quando os militares ocuparam o Quartel General da corporação, Benevenuto Daciolo, agora na reserva, chamou atenção de líderes do PSOL. Alguns militantes alertaram para o “messianismo” do bombeiro, que é evangélico, mas o ingresso no partido foi aprovado.

Na diplomação dos eleitos, em dezembro, Daciolo deu o primeiro susto no partido, ao publicar fotos ao lado do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), adversário histórico do PSOL. Pouco antes, o bombeiro participara de protesto organizado pelo PSOL contra Bolsonaro, por ter dito que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque ela “não merece”. A segunda dor de cabeça veio há duas semanas, quando Daciolo anunciou que apresentaria uma proposta de emenda à Constituição para alterar o artigo 1º de “todo poder emana do povo” para “todo poder emana de Deus”. No dia seguinte, pressionado pelos partido, que defende o Estado laico, retirou a proposta.

Suspenso na noite de quinta-feira, Daciolo continua a exercer o mandato na Câmara, mas deixa de representar o partido. O presidente do PSOL-RJ, Rogério Alimandro, disse que, mesmo na hipótese de a legenda perder um parlamentar, o pedido de expulsão será mantido. “Melhor perder um deputado do que perder a vergonha”, afirmou. Além de Daciolo, o partido tem quatro deputados federais. “Sempre olhei a filiação de Daciolo com muita preocupação, mas me surpreendeu que, em tão pouco tempo, ele tomasse tantas atitudes incompatíveis com o partido”, disse Alimandro. No fim de 2014, Daciolo defendeu a presença de um militar de alta patente à frente do Ministério da Defesa. A direção nacional do PSOL entendeu que se tratava de “manifestação individual”.

Daciolo insistiu nesta sexta-feira na defesa dos acusados da morte de Amarildo, em vídeo publicado no Facebook. Lembrou os 49.831 votos que recebeu, “80% de militares”. “Quero justiça para esses militares que estão presos. Coloco todos os que me perseguem, coloco o PSOL do Rio de Janeiro, coloco esses militares em suas mãos, Senhor”, declarou Daciolo. O parlamentar promete fazer uma visita aos PMs e insistir na campanha pela libertação deles.