FHC e Gustavo Franco fazem palestra em seminário na ABL

Em palestra nesta quinta-feira, 27, ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio, o ex-presidente do Banco Central no governo tucano, Gustavo Franco, elogiou a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda no segundo mandato do governo Dilma Rousseff (PT). O discurso do economista foi pontuado por críticas, ironias e acusações de corrupção à atual gestão petista, mas ele afirmou que a nomeação “surpreendente” de Levy é “um fato histórico” e “sua natureza talvez seja comparável à `Carta aos Brasileiros’, de 2002, como instrumento político que assinalou na ocasião o aburguesamento do PT e uma espécie de rendição pragmática às políticas econômicas e agendas reformistas”.

Franco terminou sua palestra dizendo que o PT pode ser acusado de “muitas coisas, mas não de não possuir inteligência política”. “O momento de fechar o cofre é o momento em que a presidente (Dilma) decide se afastar da área econômica e colocar alguém de mão fechada (Levy). Não sei se vai dar certo, mas é um movimento muito inteligente e faço votos que funcione”, disse o ex-presidente do Banco Central durante o seminário “Reflexões sobre o Brasil Contemporâneo”.

Para ele, o governo do PT “fracassou” na economia por razões internas. Franco afirmou que há no País “um capitalismo de Estado que se prostituiu”, referindo-se a casos de corrupção. Ele comparou os governos do PT e do PSDB e citou o termo “privataria”, usado para definir escândalos de corrupção em privatizações realizadas pela gestão tucana, em contraposição ao que chamou de “pirataria”. “Não houve nada comparável (no governo do PSDB) com o que vimos depois. O que estamos vendo agora é outra coisa, é pirataria”, afirmou. Ele disse que o principal problema econômico no País é o da dívida pública e que a “centralidade desse tema talvez explique por que Levy é um nome muito bom”. O economista tucano avaliou que o Brasil está “obrigado a ter o maior juro do mundo” enquanto tiver uma dívida próxima de 65% do PIB, “a maior dos países emergentes”.

Já o ex-presidente Fernando Henrique centrou seu discurso em críticas à “fragmentação do sistema partidário” e não comentou a escolha de Levy. Ele deixou o prédio da ABL sem dar entrevista, dizendo que estava atrasado para embarcar em um voo. Na palestra, disse que o sistema brasileiro transformou-se em “presidencialismo de cooptação” e que “os partidos tratam de não tomar partido” sobre decisões importantes como drogas, aborto e células-tronco.

“Veja neste momento a dificuldade que tem a presidente da República recém-eleita, quando deveria ter toda a força possível. Dá a impressão de que há um sentimento de quase ilegitimidade de quem ganhou. Ganhou, é legal, mas por que esse sentimento? Porque ganhou não na parte mais dinâmica do País, e, por outro lado, com um sistema de apoio que não se expressa no Congresso, nem no atual e nem no futuro”, disse o ex-presidente.

“Se a situação se agrava, social e econômica, tomara que não, e se a situação política é essa que estou dizendo, é possível que a saída seja a judicialização. Estamos assistindo neste momento a processos complicados de corrupção, e isso afeta os partidos, os governos. Não se pode tirar do nosso horizonte a maneira pela qual fizemos a Constituição, o poder que demos ao Supremo Tribunal Federal. Não é de estranhar que a solução para esse imbróglio não venha do sistema político, mas a partir de decisões judiciais que vão se inspirar em princípios muito mais do que em regras. Não estou pedindo nem propondo, mas dada a situação política, de repente pode ser que haja uma judicialização de decisões que cheguem a afetar o sistema político”, discursou Fernando Henrique na ABL.