Eleições 2014

Aécio e Dilma partem para o tudo ou nada no último debate

O último debate presidencial do segundo turno, realizado pela Rede Globo na noite desta sexta-feira (24), foi marcado por ataques dos dois lados e uma sequência de embates sobre corrupção e comparação de governos passados. O moderador, William Bonner, teve que pedir várias vezes para que a plateia se mantivesse em silêncio.

Na primeira pergunta, Aécio Neves (PSDB) questionou a candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) sobre a denúncia da revista Veja de que ela e o ex-presidente Lula teriam conhecimento sobre o suposto esquema de desvios na Petrobras. Para abrir a pergunta, Aécio afirmou que essa foi “a campanha mais sórdida” da história democrática do País e voltou a colar sua imagem ao candidato morto em acidente aéreo, Eduardo Campos (PSB), e a Marina Silva (PSB), dizendo que foram todos vítimas de calúnias e difamação promovidas pelo PT.

Dilma respondeu em linha semelhante ao que havia feito ao longo do dia, no programa eleitoral e nas redes sociais. Disse que a revista Veja faz oposição sistemática a seu governo e que seus eleitores sabem disso. “Essa revista tenta dar golpe eleitoral e não é a primeira vez. O povo não é bobo, candidato, o povo sabe que está sendo manipulada a informação porque não há nenhuma prova”, afirmou Dilma, que acusou Aécio de “endossar” a estratégia da revista. Dilma repetiu ainda que irá à Justiça para se defender.

Aécio, por sua vez, respondeu embasando a denúncia da reportagem, argumentando que a delação premiada, por meio da qual surgiu a informação questionada por Dilma, só traz benefício ao delator se forem apresentadas provas. O tucano citou também reportagem da revista IstoÉ que fala do nível da campanha presidencial. Aécio emendou mais reclamações contra a campanha petista, citando carros de som no Rio que teriam divulgado que quem votasse 45 seria automaticamente desligado do Bolsa Família.

Dilma usou uma de suas expressões marcantes nos debates e se disse “estarrecida” com o fato de Aécio achar que ela cercearia a imprensa. “Eu, na minha vida pública, jamais persegui jornalistas. Tenho respeito pela liberdade de imprensa porque vivi tempos escuros deste País”, afirmou Dilma em crítica velada ao tucano. Dilma disse ainda, em referência à Veja e à IstoÉ, que todos sabem “pra quem elas fazem campanha”.

Logo após, ao perguntar, Dilma escolheu um tema que considera simbólico para reforçar sua gestão sobre a economia: o emprego. Contrapôs a criação de empregos no seu governo e no governo Lula contra a gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso, citando também a valorização do salário mínimo e questionando se o indicado de Aécio para o ministério da Fazenda, Armínio Fraga, não poderia comprometer a política de aumento real dos salários.

Aécio respondeu dizendo ter orgulho da indicação de Armínio, diferentemente de Dilma que “demitiu” seu ministro Guido Mantega. O candidato do PSDB repetiu a argumentação de que o Brasil cresce menos que outros países na região, com alta taxa de juros, inflação em alta e com menos investimentos. “Seu governo afugentou investimentos. A situação do Brasil é extremamente grave, é preciso que a senhora reconheça isso. O governo Dilma fracassou na economia”, argumentou. Aécio também repetiu seu bordão de que o País é um “cemitério de obras inacabadas”, com “omissão criminosa” em políticas sociais e segurança pública. E trouxe o tema da inflação, dizendo que Dilma será a primeira presidente a entregar inflação maior do que recebeu.

Dilma disse que o governo Fernando Henrique entregou inflação maior que a recebida e afirmou que, em seu governo, houve aumento real de 71% de salário mínimo contra a marca de arrocho salarial, das gestões tucanas.

Aécio rebateu dizendo que a “história não se reescreve” e que apenas o futuro pode ser escrito de forma diferente. O tucano afirmou que o Plano Real, que teve oposição do PT, levou a inflação de 916% para 12%

Porto em Cuba

Aécio voltou ao tema do porto em Cuba, financiado pelo BNDES. O tucano disse trazer uma nova informação ao afirmar ter tido acesso a um relatório sobre o empreendimento. Segundo Aécio, tal documento mostra que o governo brasileiro deu prazo de 25 anos para Cuba, ao contrário de um prazo normal de 10 anos, e que o governo brasileiro aceitou fazer o empréstimo em pesos cubanos em um banco da ilha de Cuba, em vez de o fazer em alguma moeda forte e com instituição respeitada. Aécio afirmou que pedirá investigação à Procuradoria Geral da República sobre a questão

Dilma disse que a questão do porto em Cuba deve ser olhada com “cautela” e repetiu que foi um empréstimo para empresa brasileira e que gerou empregos para brasileiros. E emendou críticas ao governo de Aécio em Minas que, segundo ela, não teve clareza, ao declarar destinação de verbas para empresas de comunicação da sua família. Aécio havia destacado na pergunta que o governo Dilma havia dado um “carimbo de confidencial” ao empréstimo do BNDES para o empreendimento em Cuba.

Depois de ser questionado por Dilma sobre o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, Aécio repetiu que a campanha da presidente faz “terrorismo eleitoral” ao afirmar que eventual governo seu acabaria com programas sociais. “Pessoas na lista do cadastro (do Minha Casa, Minha Vida) estão recebendo mensagem dizendo que, se votarem em mim, sairão do cadastro”, reclamou. O tucano reforçou que pretende manter o programa e ampliá-lo para a faixa de até três salários mínimos. “Ninguém pode querer se apropriar de programas como se fossem seus. Vamos subsidiar, sim, o que não vamos fazer no nosso governo é o ‘bolsa empresário’ que ajuda um grupo muito restrito de brasileiros em detrimento da maioria.” Aécio acusou o governo também de não entregar os 3,5 milhões de habitações prometidas, mas apenas metade disso.

Dilma rebateu que Aécio precisa entender melhor as regras do programa, explicando que ele não passa por órgãos políticos, evitando privilégios a empresas nas construções. Ela disse não acreditar na proposta do adversário, acusando o PSDB de ter enfraquecido os bancos públicos e tê-los deixado endividados – a Caixa Econômica Federal é o banco usado no financiamento do programa habitacional. Aécio, por sua vez, acusou o governo da petista de aparelhar os bancos públicos, dizendo que um terço das diretorias do Banco do Brasil é ocupado por filiados do PT. “No meu governo, os bancos públicos serão fortalecidos, não aparelhados.” Sobre os bancos públicos, Dilma disse que o PSDB “minguou” a Caixa. “Agora vocês vêm com essa conversa que vão fazer política social. A prática fala muito mais que palavras vazias”, rebateu a presidente.

Pronatec

Ao ter a oportunidade de fazer outra pergunta no debate, Dilma ressaltou sua vitrine eleitoral, o Pronatec – programa de ensino técnico. Ela repetiu a crítica de que o governo tucano impediu a União de investir em escolas técnicas, dizendo que na era Fernando Henrique foram feitas 11 escolas técnicas federais contra 422 nos governos Lula e Dilma. “Nosso número foi só 1.600% maior que vocês fizeram em oito anos.” Aécio também voltou à sua resposta de que o programa foi inspirado em iniciativas do PSDB. E disse que este é outro programa que ele pretende ampliar e aprimorar. Aécio destacou que o Pronatec está sob suspeita de falha cadastral, que leva a repasses incorretos a instituições mesmo depois de alunos terem deixado os cursos.

“São graves as denúncias de que vocês não contabilizaram alunos que deixam o Pronatec”, afirmou. O tucano criticou ainda o não avanço em termos de qualidade na educação brasileira ao longo da gestão Dilma. “Em qualquer ranking internacional, é vergonhosa a posição do Brasil, inclusive em relação a vizinhos.” Aécio reafirmou que, se eleito, pretende deixar como marca de sua Presidência a melhoria da qualidade, educacional do País.

Em troca de acusações sobre destinação de verbas para programas sociais e assistenciais, o candidato Aécio Neves, acusou o governo federal de Dilma Rousseff de tentar acabar com as APAE’s (Associações de Pais e Amigos de Excepcionais). “Nós investiremos nas Apaes, no meu governo elas serão fortalecidas”, afirmou, em debate na TV Globo.

Dilma, por sua vez, disse que o PSDB de Aécio não repassou às APAE’s nem no governo federal nem no governo de Minas o valor que sua gestão repassou às instituições. Ela disse ter repassado R$ 5,9 milhões às APAE’S.

O tucano afirmou, na sua pergunta, que o governo Dilma atrasou repasses do Fundo Nacional de Assistência, prejudicando programas assistenciais para deficientes. “Apenas 11% foram executados até o fim de outubro”, acusou.

Dilma rebateu dizendo que Aécio está “muito mal informado” sobre os esforços de seu governo em levar atendimento a pessoas com deficiência. “Não tenho dúvida em afirmar ao senhor que meu governo não atrasa programas sociais, nunca atrasou nem contingenciou”, defendeu.

A candidata à reeleição contra-argumentou também a afirmação de Aécio de que os programas sociais da gestão petista partiram de programas do PSDB. Segundo Dilma, o Bolsa Família tucano gastou R$ 4,2 bilhões em oito anos. “Isso é o que gastamos apenas em dois meses. Não tem a menor dimensão nem comparação com o governo que vocês fizeram.”