Eleições 2014

Dilma a Aécio evitam ataques pessoais no debate da Record

O terceiro debate do segundo turno entre os candidatos à presidência, realizado pela Rede Record, teve menos ataques mútuos entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) e contou mais com a apresentação de propostas. Temas como economia, educação e corrupção foram os mais debatidos.

Na primeira questão, a presidente e candidata do PT à reeleição perguntou a Aécio qual a posição dele sobre a universalização da Lei do Simples. Ele respondeu afirmando que foi no governo do PSDB quem apresentou a proposta do Supersimples, que ampliava o Simples. Aécio disse que uma das prioridades “absolutas” dele, se ganhar a eleição, será apresentar um projeto para simplificar o sistema tributário para as micro e pequenas empresas, mas também para o conjunto da economia. “Temos um sistema tributário complexo e oneroso”, disse.

Após agradecer a “qualidade” da pergunta de Dilma, o candidato do PSDB a presidente disse que quer fazer o Brasil voltar a crescer. “Com o crescimento nulo deste ano, todos serão afetados, os grandes, os médios e principalmente, os microempresários”, declarou.

A presidente e candidata do PT afirmou que Aécio é “muito pessimista” em relação ao crescimento do Brasil. “Não concordo que o Brasil vai crescer 0,3%. Melhor refazer suas contas”, disse. O candidato do PSDB disse que os dados sobre crescimento do País são do Fundo Monetário Internacional. (FMI)

De acordo com Aécio, a presidente e candidata petista “tem problemas com números”. Segundo o candidato tucano, o País entrou em recessão técnica após dois trimestres seguidos de “crescimento negativo”. O tucano também criticou declarações de Dilma de que a inflação está sob controle. Em resposta, a presidente disse que a inflação não está descontrolada, “como querem vocês”. “Vocês sempre gostaram de plantar inflação para colher juros”, acusou Dilma.

Sobre segurança pública, Aécio perguntou a Dilma onde o governo dela “falhou” no enfrentamento da criminalidade. Conforme o tucano, um documento da Unicef mostra que 24 adolescentes e jovens são mortos todos os dias no Brasil.

Dilma respondeu dizendo que o governo federal quer ter responsabilidade sobre a segurança. No entanto, afirmou que a administração federal investiu no setor. Ela também citou números sobre violência em Minas Gerais, dizendo que houve crescimento 52% dos homicídios no Estado, enquanto no Sudeste houve uma queda de 37%. Aécio rejeitou os números, afirmando que, quando ele governou Minas, a taxa de homicídios caiu, enquanto no conjunto dos Estados, o índice cresceu.

Clima

O embate envolvendo a inflação entre Aécio e Dilma provocou as primeiras manifestações na plateia do debate da TV Record. Quando Aécio afirmou que Dilma não pode falar de um governo dele pois ele “não governou o Pais ainda”, tucanos deram risada aprovando a afirmação. Dilma referia-se ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Depois, na sequência quando a petista afirmou que o PSDB está acostumado “a plantar inflação para colher juros” foi a vez de a plateia petista aprovasse a afirmação com manifestações verbais e algumas risadas.

No terceiro bloco do debate, Dilma começou citando programas como o ProUni e o Fies e perguntou a Aécio o que ele achava sobre a ampliação do acesso à universidade. Na resposta, o tucano afirmou que, ao falar de educação, é preciso primeiro falar em creches. “Não há nada que atenda mais a mulher hoje do que ter creche para deixar seus filhos”, disse, argumentando o governo federal não entregou o que prometeu nessa área. “Proponho criar a Nova Escola Brasileira. Me orgulho de ter feito da escola mineira a melhor do Brasil”, voltou a dizer o candidato.

Na réplica, Dilma afirmou que o governo do PSDB sucateou o En,sino Superior no Brasil, que o partido do adversário foi contra o ProUni e chegou a entrar na Justiça contra ele. Ela disse que as creches foram feitas em parceria com os municípios.

“Assim não é possível entender, se a senhora não consegue dizer”, treplicou Aécio, enquanto Dilma mencionava, ao fundo, o programa ProUni. “Vamos entregar as creches que o governo não entregou”, afirmou, emendando que Dilma também não cumpriu a promessa que fez na campanha de 2010 de desonerar empresas de saneamento básico. “A senhora repete agora promessas de campanha.”

Em sua pergunta, Aécio destacou o tema de infraestrutura e questionou o atraso para a entrega das obras iniciadas no governo da petista.

Na resposta, Dilma listou obras como a ferrovia norte-sul, a usina de Santo Antônio e a transposição do Rio São Francisco que, segundo ela, está “em pleno vapor”. “Investimos R$ 200 bilhões em infraestrutura. Se considerar energia, saneamento e recursos hídricos, nos meus quatro anos fiz o que vocês fizeram em oito. Esse é um dos motivos por não haver racionamento de energia”, afirmou Dilma, destacando as linhas de transmissão que ligam o Norte do País às outras regiões.

Na réplica, Aécio voltou a afirmar que as obras não foram concluídas, criticou a falta de parceria público-privadas e destacou o sobrepreço. Na tréplica, Dilma citou sobrepreço em obra de Minas Gerais e rebateu a crítica sobre PPPs. “Para quem tem como maior obra um centro administrativo em Minas Gerais, o senhor é bastante ousado. Essa história de não fazer PPP é uma lenda que vocês criaram. Financiamos a PPP que seu governo fez”, afirmou.

Bancos públicos

O destino dos bancos públicos e da Petrobras também dominou parte do debate na . Aécio afirmou que correligionários de Dilma fazem “grande terrorismo” em relação aos bancos estatais. De acordo com ele, é o “mesmo discurso” de que um eventual governo do PSDB “privatizaria esta ou aquela empresa”. Mas, de acordo com Aécio, numa eventual administração tucana, os bancos públicos serão fortalecidos. Aécio questionou também a campanha do governo em 2010 para a compra de ações da Petrobras com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Ele perguntou a Dilma se é “justo” que a má gestão da Petrobras tire o FGTS do trabalhador.

Em resposta, Dilma afirmou que o candidato do PSDB a presidente “ouviu cantar o galo mas não sabe aonde”. De acordo com Dilma, todos os bancos públicos tiveram os lucros aumentados e ampliados, a taxa de inadimplência foi reduzida e houve a recomposição do funcionalismo. “Escutei várias falas de que iriam reduzir o papel dos bancos públicos e inclusive do seu candidato a ministro da Fazenda”, afirmou ela, em referência ao ex-presidente do Banco Central (BC) Arminio Fraga.

Dilma afirmou que sua relação com os bancos públicos é de “grande respeito”. Ela disse ainda que quem cuida da indústria do País é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A Caixa Econômica Federal, declarou Dilma, faz o Minha Casa Minha Vida. “Esse dinheiro tem subsídio do governo federal.” Segundo a presidente, não há investimento de longo prazo neste País sem o BNDES e os demais bancos públicos. Sobre a compra de ações com FGTS, a presidente disse que todos os que investiram ganharão muito dinheiro. “A Petrobras é e será a maior empresa deste País por muitos anos.” Dilma citou também o pré-sal, que, segundo ela, produz 500 mil barris por dia.

Em resposta, Aécio afirmou que a Petrobras vai muito mal. “Perdeu apenas no período deste governo cerca da metade do seu valor de mercado, perdeu credibilidade”, afirmou o tucano. Olhando para a câmera, o candidato tucano afirmou que, se eleito, vai valorizar os funcionários de carreira dos bancos do governo e que numa eventual gestão a Petrobrás voltará a ser o “orgulho nacional que deixou de ser”. “Não ache que o pré-sal lhe pertence, pois ele foi descoberto pelos investimentos que foram feitos antes do seu governo”, declarou o tucano. Dilma, por sua vez, declarou que Aécio disse uma vez que pensava “em algum momento” privatizar a estatal e que isso não estava na pauta no momento.

Em seguida, a presidente voltou ao tema da segurança pública, defen,dendo que o governo federal tenha responsabilidade sobre o setor. Dilma afirmou que proporá mudar a Constituição para que a segurança pública possa ter a participação conjunta do governo federal com o dos Estados, “numa articulação de combate ao crime organizado de forma integrada”.

Aécio respondeu afirmando lamentar que ela “não tenha feito tudo isso ao longo desses últimos anos. Ele sugeriu a proibição do “represamento, do contingenciamento” dos recursos da área. Aécio disse ainda que quer fortalecer a Polícia Federal (PF), que, de acordo com ele, teve em 2014 o pior orçamento dos últimos cinco anos. Aécio prometeu também, se eleito, fazer com que as Forças Armadas sejam “parceiras” para controlar as fronteiras. “Seu programa para as fronteiras, em três anos, gastou apenas R$ 1 bilhão”, acusou o candidato do PSDB a presidente, dirigindo-se a Dilma. “No meu governo, não vou terceirizar responsabilidades, vou conduzir pessoalmente a política nacional de segurança integrada entre Estados e municípios, com investimentos e inteligência.”

A presidente e candidata do PT à reeleição disse que a administração federal teve uma experiência “muito exitosa” com o governo de Minas Gerais na segurança pública durante a Copa do Mundo. Dilma prometeu, se reeleita, levar a todos os Estados essa integração, com os Centros de Comando e Controle. “Vou integrar a Polícia Federal (PF), a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), as Polícias Militares (PMs) e Civis e as Forças Armadas, para agirem em conjunto”, disse.