De cada três votos de Crivella, dois saíram da capital

Dois terços dos votos que levaram o candidato do PRB, senador Marcelo Crivella, ao segundo turno da disputa pelo governo do Rio saíram da capital e de oito municípios da região metropolitana do Rio. Segundo números da Justiça Eleitoral, do 1.619.165 de votos obtidos pelo parlamentar no domingo, 69% – 1.117.030 – saíram das cidades de Rio de Janeiro, São João de Meriti, Nilópolis, Duque de Caxias, Mesquita, Itaguaí, Magé, Belford Roxo e São Gonçalo. Nelas, a votação ficou acima do porcentual que o candidato atingiu no Estado – 20,26%. Somados a outros cinco municípios onde Crivella superou este patamar (Macaé, Rio das Ostras, Cabo Frio, Mangaratiba e Petrópolis), chega-se a 1.228.301 sufrágios. Isso é 76% (três quartos) dos votos de Crivella.

Já Anthony Garotinho (PR), que perdeu para Crivella, no domingo, 5, o lugar no segundo turno, teve dois terços (67%) de seus votos (1.054.512) espalhados por 66 municípios, a maioria do interior dos Estado. Nessas cidades, o candidato e ex-governador teve porcentual de votos acima do que obteve no Estado, 19,73%. A maior parte dessa votação (também dois terços) se concentrou em municípios da periferia da capital: São Gonçalo, Queimados, Itaguaí, Magé, Nova Iguaçu, Belford Roxo, Mesquita, São João de Meriti e Duque de Caxias. Na cidade do Rio de Janeiro, porém, o postulante do PR teve apenas 332.847 votos, equivalente a 10,79%, menos da metade de Crivella. Ficou atrás até de Tarcísio Motta (PSOL), que ficou em terceiro no município, com 458.024 votos, 14,62%.

Para o cientista político Cesar Romero Jacob, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, os perfis de votação de Crivella e Garotinho repetiram padrões de voto que ocorreram em 2002, 2006 e 2010 nas disputas pelo governo fluminense. São ligados ao perfil sócio econômico e às crenças religiosas dos eleitores, com a forte presença de evangélicos entre os eleitores da periferia. Crivella é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, e Garotinho se declara evangélico. Esse eleitorado de corte religioso, afirma Jacob, quando há mais de um “irmão” disputa um cargo público importante, em geral prioriza um deles. Foi o que ocorreu, afirmou, em 2002, quando Rosinha Garotinho (então no PSB) derrotou Benedita da Silva (PT).

“A votação de Rosinha foi na periferia metropolitana”, afirmou, recordando a semelhança da situação com das eleições de 2014.

Jacob explicou que, do ponto de vista eleitoral, há três áreas bem distintas no Rio. Uma vai da Barra da Tijuca à Tijuca, passando pela zona sul. Nela, moram os fluminenses com melhor escolaridade e renda, que rejeitam os candidatos identificados com a periferia. Outra se estende entre os municípios de Itaguaí e Tanguá, onde estão os piores indicadores sociais e econômicos, além de se concentrarem igrejas evangélicas neopentecostais. Nela, candidatos de perfil popular são bem votados. Há ainda uma área intermediária, na zona norte, com índices sociais médios. Nela, há bairros mais pobres, como Maré, Alemão e Jacarezinho, onde esses candidatos também são bem sucedidos, e regiões de classe média, onde seu sucesso é menor.

“Os candidatos da orla, metáfora para a área mais rica, perdem na periferia”, disse Jacob, explicando que o inverso (candidatos da periferia perdem na orla) também ocorre.

O porcentual expressivo de votos de Garotinho no interior (cerca de 1/3 da parte mais expressiva de sua votação, 552.865 votos) pode ser explicado, segundo Jacob, ainda pela ação do ex-candidato do PR quando era governador.