Ceará: candidata do PSOL distribui ‘cordel socialista’

“Santinho” ela até tem, mas é com outro tipo de panfleto, esse da cultura popular nordestina, que a artesã Adelita Monteiro, candidata a deputada federal pelo PSOL, quer conquistar o eleitorado: um cordel socialista, ou “revolucionário”, como ela define. “Quem madruga Deus ajuda / Não é bem verdade não: / Quem chega antes na firma? / Trabalhador ou patrão? / Quem madruga é o empregado / Quem enrica é o chefão”, escreveu ela, entre outros versos, no folheto que distribui pela cidade junto com os santinhos e adesivos.

Aos 31 anos, Adelita tenta pela segunda vez ser eleita. Na primeira, para o mesmo cargo, em 2010, teve 1.957 votos. “Repetir os dois mil já seria muito”, admite ela, que lamenta a falta de tempo para fazer campanha (é dona de uma loja com peças suas e de outros artesãos no Centro de Turismo do Ceará, galeria que ocupa o prédio da antiga cadeia pública, inaugurada em 1866).

Ela se define como uma socialista científica, não utópica. “Queria mesmo era ter uma grande rede de lojas e ganhar muito dinheiro para empregá-lo na luta contra o capitalismo. É como aquela frase: ‘Eu queria ser pobre por um dia, porque todo dia é foda'”, brinca. Nas prévias do PSOL cearense, perdeu para Aílton Lopes a candidatura ao governo do Ceará. No último Datafolha, de 1 de outubro, Lopes teve 1% das intenções de voto.

O cordel ela fez antes do período eleitoral (nas folhas, aparece somente seu nome, sem o número da chapa à deputada federal). “Não querem que você saiba / Que o mundo tem solução / Botam na sua cabeça / Que a coisa tem jeito não / Pra você ficar calado / Obedecendo ao patrão”, lê-se noutro trecho, conclamando para a “revolução”.

Apesar de também desenhar as roupas que vende, Adelita prefere ser chamada de artesã: “Não acho menos importante que ser estilista”, afirma a candidata, que tem como mentor Gilvan Rocha, um dos fundadores do PT no Ceará, agora filiado ao PSOL. Para custear a campanha, com limite de gastos de R$ 50 mil declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ela conta com doações e também a venda de uma caneca feita por uma amiga artesã e decorada com “poemas revolucionários” de Adelita, a R$ 38 cada. “Já arrecadamos R$ 3 mil”, comemora.

Nascida em Limoeiro do Norte, cidade sertaneja do Nordeste do Ceará, Adelita mudou-se com os pais e a irmã para Fortaleza há 20 anos. Sem muito dinheiro, fixaram-se no modesto bairro de Granja Portugal, onde a socialista mora até hoje e tem concentrado suas atividades de campanha. “É muito difícil. As pessoas não têm condições mínimas de moradia. Falta gás, chega um candidato e paga. Há muita compra de votos. Por isso cada voto que conseguimos lá é com muita luta”.

O marido também é militante do PSOL. Em junho do ano passado, levou 16 tiros de balas de borracha da PM em manifestações, contou Adelita. A mãe e a irmã eram contra tamanho engajamento político da caçula. “Agora, depois de 16 anos, chegaram à conclusão de que não era só uma fase”, brinca. “Meu maior orgulho hoje é levar minha mãe comigo para as manifestações”.

Para a socialista, às vezes falta tolerância à esquerda. “Temos de aprender a aceitar o diferente, não ler somente o que queremos e conversar só com os que pensam como nós. Nisso, poderíamos aprender um pouco com os evangélicos, porque eles não desistem de quem pensa diferente. Partem para a disputa ideológica, e é isso que devemos fazer”.