‘É um órgão de Estado’, afirma ministro sobre a PF

Horas antes do protesto do vice-presidente da República, Michel Temer, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao qual a Polícia Federal é subordinada, usou um evento realizado em Guarulhos para exaltar as investigações da instituição.

“Pouco importa se as pessoas que cometem ilícitos são amigos ou inimigos dos que governam. Pouco importa se aquela pessoa que descumpre a lei tem um poder econômico ou tem poder político, ou se é um simples operário. A polícia republicana tem essa dimensão. É um órgão de Estado. Um governo que respeita uma polícia de Estado se limita a estabelecer diretrizes e não interfere no seu cotidiano”, disse Cardozo a jornalistas, após inaugurar a nova Delegacia Especial da PF no Aeroporto Internacional de São Paulo.

Recado

Indagado a quem ele estava mandando recado ao enfatizar que a PF “é republicana”, o ministro disse: “A Polícia Federal é uma polícia de Estado que age dentro de diretrizes governamentais, mas com autonomia. Às vezes as pessoas não entendem isso. Às vezes, acham que, quando aliados do governo são investigados, o ministro da Justiça perdeu o controle da polícia. Quando são adversários investigados, a Polícia Federal está sendo instrumentalizada. Não é nada disso. A Polícia Federal cumpre a lei e a Constituição, independentemente de quem esteja envolvido na prática de possíveis atos ilícitos”.

Cardozo dedicou quase todo o tempo do discurso para enaltecer a atuação da PF. Tentando mostrar descontração, disse que sofre “bullying” – antes de sua fala, o presidente do GRU Airport, Antonio Miguel Marques, responsável pela administração do aeroporto, havia dito que sofreu bullying “quando diziam ‘imagina como vai ser na Copa'”.

“Esse bullying eu sofro muitas vezes com a dificuldade que as pessoas têm ainda de entender uma Polícia Federal republicana”, acentuou Cardozo. “Porque é difícil estabelecer na mente de pessoas, às vezes é mais fácil mudar muitas coisas do que mudar ideias. As pessoas não conseguem entender como é que nós podemos ter uma polícia de Estado, qual a relação que a polícia de Estado tem com um governo. O governo é eleito pelo povo para dirigir o Estado, é ele quem dá as diretrizes. Os órgãos atuam dentro daquilo que a lei estabelece para cumprimento dessas diretrizes, mas o fazem dentro de suas competências constitucionais e legais.” O ministro argumentou, por fim: “Vamos voltar alguns anos atrás e vamos olhar o que a Polícia Federal é hoje. Ela se transformou numa das polícias mais respeitadas do mundo”.

Telefonema

Horas depois do evento, Temer foi a público dizer que a PF estava sendo “instrumentalizada” para atingir candidatos, numa referência à blitz no jatinho do aliado Lobão Filho (PMDB), que disputa o governo do Maranhão, realizada na noite de quarta-feira. Após a reclamação do vice-presidente, eles se falaram por telefone e Cardozo prometeu, segundo relato de Temer, “verificar” a ação da PF, que investigava suspeita de uso de recursos ilegais na campanha de Lobão Filho. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.