Eleições

Presidente estadual do DEM acredita na grande aliança

O jogo ainda não terminou. Os dados estão rolando. É o que pensa o presidente estadual do DEM, deputado federal Abelardo Lupion, que não considera consumada a candidatura do prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), ao governo do Estado. Nesta entrevista a O Estado, Lupion diz que ainda crê na aliança entre PDT, DEM, PSDB, PPS e PP no Paraná, em um palanque comandado pelo senador Osmar Dias. Para ele, o senador e o PT são incompatíveis e até o dia 3 abril, prazo final para que Beto renuncie ao cargo para disputar as eleições, tudo pode acontecer.

O Estado do Paraná: Deputado, em que o senhor se apóia para pensar que ainda é possível juntar os aliados da reeleição do prefeito Beto Richa, em 2008, novamente na disputa deste ano?

Abelardo Lupion: 3 de abril é o dia de desincompatibilização. Eu sou um otimista incorrigível. O DEM e o PPS estão fazendo todo o possível para a aliança acontecer. Eu e o Rubens Bueno conversamos muito em Brasília com as direções nacionais do PSDB, do PPS, dos Democratas. Achamos que o melhor cenário para a presidência da República é conseguirmos esta união. O PSDB é que tem a obrigação de criar o melhor cenário em cada estado para o seu candidato a presidente da República. O PSDB do Paraná, se não fizer uma aliança como esta, vai jogar o senador Osmar Dias no colo do PT.

OE: Mas o PSDB já não fez a sua escolha ao optar pela candidatura própria?

AL: O PSDB do Paraná está rachado. Tem o PSDB do Álvaro Dias, tem o PSDB do Euclides Scalco. E tem o PSDB do Beto Richa. O PSDB do Álvaro foi derrotado pela executiva. Mas nós vamos ter em junho a convenção, onde não é só o pessoal da executiva do partido que vota.

OE: O senhor acha possível reverter a decisão da executiva que aprovou a pré-candidatura do prefeito de Curitiba?

AL: Eu me coloco no lugar do Beto e faço a seguinte pergunta: Como é que eu vou largar a prefeitura de Curitiba agora? No dia seguinte, vou ser mais um. Não tenho mais o diferencial de ser o prefeito da capital. Vou me lançar numa candidatura onde não tenho ainda nenhum outro partido seguro. O PSDB vai para a disputa na convenção. O PPS não definiu e já conversa com Osmar Dias. O DEM está rachado e vai para a convenção, em junho. O PSB é do adversário nacional, o Ciro Gomes, que pode obrigar a apoiar o candidato do PT a presidência da República. O PMDB já declarou que não vai de Beto porque quem manda no PMDB é o Requião. Eu me pergunto: o Beto vai sair só com o PSDB numa aliança?. O PTB desautorizou a falar que está fechado. O Flávio Martinez e o Alex Canziani já me disseram que somente vão decidir lá na frente. No PP, o Ricardo Barros tem uma posição e o Dilceu Sperafico tem outra. Ele já disse para o Ricardo que o Oeste do Paraná é Osmar e não vai com o Beto. Não existe nenhuma segurança que haverá aliança para o Beto na eleição. A lógica indica que só se larga três anos na prefeitura de Curitiba se tiver coligação certa para ganhar a eleição. Tem que avaliar muito bem. Como é que vai ficar de abril a junho buscando partidos? Acho que a lógica e o bom senso dizem que não é hora de arriscar. O Beto é moço. Ele ganhou um presente, que é a prefeitura de Curitiba porque nós todos o apoiamos. E ele assumiu um compromisso conosco de apoiar Osmar Dias. O momento agora não é dele passar para a história como alguém que deu uma de Pimenta da Veiga, que largou a prefeitura de Belo Horizonte e foi para uma aventura. Perdeu e acabou. O Beto pode virar pó se perder a eleição.

OE: Supondo que o prefeito desista da candidatura, como o senhor defende, quem seria o candidato do grupo, o senador Osmar Dias ou o senador Álvaro Dias?

AL: O senador Osmar Dias seria o candidato. Ele junta todo o nosso grupo. Nós estamos com uma bela chance de ter o governo do Estado. Eleição é urna. A corrida se ganha no “atar” como diz o caboclo. Então, nós precisamos fazer um belo acor,do para sair numa candidatura viável. Senão, não tem tempo de televisão, não tem cabo eleitoral, não tem nada.

OE: O senhor é um dissidente solitário no DEM ou tem outros setores do partido que acompanham sua posição?

AL: Eu não sou dissidente. Os outros é que são dissidentes. Eu tenho a executiva nacional comigo. Estou fazendo o que a executiva nacional acha melhor, que é a aliança. Estou defendendo uma aliança no Paraná para ganhar a eleição para o candidato do PSDB a presidente. Eu não sou dissidente. Eles é que são e pensam só no próprio umbigo. Eu não.

OE: Mas o grupo pró-Beto diz que o senhor se move pelo desejo de ser candidato ao Senado?

AL: Eu já disse ao Beto que se a minha candidatura ao Senado atrapalhar, ela é retirada imediatamente. O que eu quero é a aliança. Não aceito que digam que o meu projeto é pessoal. O meu projeto é de presidência da República e governo do Estado. O resto é consequência. Eu quero eleger bela bancada de deputados estaduais e federais. Eu tenho a maioria do partido, dos convencionais. E tenho deputados comigo. Tenho os deputados Elio Rusch, Luiz Carlos Setim, Cássio Taniguchi. E o partido não é só os deputados. Temos uma militância no Estado. Temos 372 municípios com delegados. São cerca de 400 e eu posso garantir que, com o meu grupo e estes deputados, temos a maioria. Agora, a decisão será na convenção em junho. Ninguém vai passar com o trator por cima de ninguém. E uma eleição difícil? É. Vai para a convenção? Vai. Eu vou tentar levar para o senador Osmar Dias. Outros vão tentar levar para o Beto. Agora, vamos ver lá, quem pode mais, chora menos.

OE: Sempre que o senhor defende a aliança do DEM com o senador Osmar Dias, seus adversários internos dizem que o senhor tenta levar o partido para o palanque da adversária Dilma Rousseff? O senhor subiria no palanque do PT, deputado?

AL: Algum dia eu já disse que eu não vou com o governador José Serra.? Hoje, graças a minha intervenção, o senador Osmar Dias não está fechado com o PT. Ele assumiu um compromisso comigo de fazer cada coisa a seu tempo. A vida inteira eu disse que vou com o Serra. A desincompatibilização é a data que vamos definir quem é candidato e quem não é. Até lá, não há razão para fechar nenhum tipo de acordo.

OE: Se até lá, o prefeito renunciar e ficar sacramentada a candidatura tucana, o que o senhor fará?

AL: A partir da renúncia, começa um novo fato. Mas eu continuarei com o senador Osmar Dias.

OE: Mas, nesse caso, o senador deve retomar as conversas com o PT. Como é que o senhor fica?

AL: Será que vai? Se depender de mim, não. Eu acho que nós podemos ter um plano B, que é não ter candidato a presidente da República. Isso já aconteceu no passado. Libera os partidos para apoiar quem quiser e ele vai ser o candidato de todo mundo, sem ter necessidade de apoiar um candidato a presidente no primeiro turno. Isso é uma posição minha.

OE: E o que Osmar Dias acha? O senhor já fez essa proposta a ele?

AL: Eu já coloquei uma série de propostas. Nós temos que ter criatividade. O Rubens Bueno comunga comigo. Esse é um processo em que está o Rubens, o Ratinho, o PP, o PR. Estes cinco partidos tem que achar uma solução. Veja, eu não vou apoiar a Dilma nem amarrado. O Rubens não vai apoiar a Dilma nem amarrado. Nós vamos apoiar o candidato nosso que será fatalmente o Zé Serra. Não sou homem de mudar de posição. Eu não vou apoiar o PT em nenhum dia da minha vida. Eu tenho uma história de vida de combate ao PT. Eu tenho uma história de vida classista com o senador Osmar Dias. Eu tenho uma história com ele, que é como se fosse o meu irmão. Seria estranho se eu estivesse apoiando o Beto. Aí, sim, poderiam me questionar, estranhar. Ué, mas você não é amigo do Osmar, não lutam pela mesma causa? Eu briguei com o Jaime Lerner por causa do Osmar. Na primeira eleição do Osmar,, o Jaime Lerner lançou o Luciano Pizzatto e a Nitis Jacon. O que eu fiz? Apoiei o Osmar e o Luciano. Desde aquela época, eu tenho propósitos, idéias e princípios. Não tem como não apoiá-lo. Eu saio da política, mas não mudo o discurso. Então, não tem sentido ficarem dizendo por aí que eu estou apoiando o PT.

OE: Mas já estão dizendo….

AL: Veja o absurdo e o jogo baixo que fazem. Esse jogo não está fechado. Como o senador vai fechar com o PT com aquele ideário que eles lançaram sábado passado, de apoio ao MST. O senador assinou a CPI do MST. É incoerente, o senador no palanque do PT. Então, é por isso que é difícil esse acordo acontecer. Como é que fica o cooperativismo paranaense, a Federação da Agricultura, os produtores rurais, o interior do Paraná? O PT nunca ganhou uma eleição no Paraná. O Lula perdeu para o Alckmin. O Lula perdeu. Imagina como será com a ministra. Eu fiz pesquisa na minha região. Dá 70% para o Serra e 15% para a Dilma. A nossa realidade é outra. O PT aqui precisa de carona. O PT precisa de palanque. Nós não precisamos do PT. O Osmar não precisa do PT. Nós não precisamos do PT. O Osmar é muito maior que o PT.

OE: Deputado, e como ficará o DEM depois desse escândalo do Distrito Federal? O senhor avalia que o partido vai sofrer as consequências na eleição?

AL: Vai ter um reflexo positivo. Você não leu o artigo do Ricardo Noblat? Ele escreveu um artigo chamado “Vamos parar de implicar com o DEM”, em que ele mostra que o DEM foi o único partido que não conviveu com a corrupção, expulsou dois governadores do partido, o governador e o vice, e o presidente da Camara Distrital, que seria o terceiro na sucessão. Interviemos no diretório de Brasília. Qual foi o único partido que fez isso? O PT pegou o maior mensaleiro e colocou na coordenação da campanha da Dilma? O PSDB fez alguma coisa com o Eduardo Azeredo? Não fez nada, ele que era o chefe do mensalão em Minas Gerais. Nós fizemos. Não tem só santo nos quadros partidários. O único que teve coragem de tomar atitude foi o DEM. Nós expulsamos os que pisaram na bola.