Eleição

Flávio Arns ainda não decidiu sobre 2010

Cedo demais ou não, as discussões sobre o cenário político em 2010 avançam. A cada dia surgem notícias de possíveis coligações e novas candidaturas. Os nomes dos prováveis candidatos à Presidência da República, ao governo do Paraná e ao Senado já estão na boca do povo.

E o nome de Flávio Arns, um ex-tucano que pelo PT se elegeu senador e foi candidato ao governo em 2006 não aparece nas discussões, embora seu mandato se encerre o ano que vem.

Em entrevista a O Estado do Paraná, Arns contou porque se afastou das articulações eleitorais, mas reve-lou que ainda cogita disputar a reeleição ou outro cargo eletivo em 2010, decisão que só tomará no primeiro semestre do ano que vem. Arns reconheceu que viveu momentos difíceis dentro do PT, mas no momento não pensa em trocar de partido.

O Estado: Senador, a um pouco mais de um ano e meio do fim do mandato, já dá para fazer uma avaliação do seu trabalho no Senado?

Flávio Arns: Foi um trabalho bastante intenso em algumas comissões específicas como Educação, Cultura e Esporte. Dediquei, também, meu mandato à área de saúde, previdência e trabalho e, também em direitos humanos e participação legislativa. Também participei das discussões em ciência, tecnologia, inovação e informática. Fui presidente da subcomissão de tecnologia; fui presidente e vice-presidente da subcomissão de pessoas com deficiência; e, atualmente, sou presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, que é uma área das mais importantes para o país, onde estamos avançando muito em termos de legislação, em recursos para entidades como as Apaes, as co-irmãs e ainda temos muitos desafios a serem buscados.

OE: O senhor tem um trabalho importante com o terceiro setor, e relação forte com as Apaes. Mas, para um senador, não é uma atuação um pouco limitada?

FA: Todo senador tem uma área básica da qual ele vem. Alguém que seja da agricultura vai atuar mais voltado para a agricultura. Um professor, vai se dedicar à área de educação; um médico, à de saúde. A minha área básica, de onde venho, é a sociedade civil organizada, o terceiro setor. E terceiro setor engloba pessoa com deficiência, criança, idoso, meninos de rua, hospitais, pastorais, igrejas. Hoje estou relatando a lei da filantropia, que é muito importante para o País. Já é uma área bastante ampla. Mas a gente nunca se detém apenas à área básica, tanto que já fui vice-presidente da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária. Agora, estou na presidência da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, onde estamos discutindo a Lei Rouanet, uma nova lei de incentivo ao esporte e a substituição do vestibular, por exemplo. Nós temos uma vinculação com uma área específica por conta de nossa formação, mas o trabalho de senador é feito para todas as áreas.

OE: O que o Senado está devendo para a sociedade brasileira que pode fazer até 2010?

FA: Algumas reformas são fundamentais. A primeira delas é a reforma política, com vários aspectos como coligações, financiamento, cláusulas de desempenho, que deveriam ser pensadas não para valer no ano que vem, mas em 2014. Devem ser feitas esse ano, mas para valer a partir de 2014, pois, assim, ninguém legislaria sabendo qual vai ser a sua situação. A reforma tributária é muito importante, particularmente, agora, na questão do auxilio aos municípios. Numa reforma tributária, temos que repensar o papel importante que os municípios desempenham. E uma reforma do próprio Senado também é necessária, para que o Senado tenha mais credibilidade, mais resp,eito, mais transparência dentro daquilo que o Senado, como instituição, faz.

OE: Em 2010 encerra seu mandato. O senhor tentará a reeleição? Pretende disputar outro cargo?

FA: Esse debate nós não tivemos ainda. Eu considero muito precoce para mim, para meu tipo de fazer política, pelo meu envolvimento com a sociedade organizada. Quando eu fui candidato a senador, na vez passada, a decisão aconteceu no mês de abril. E todas as vezes que fui candidato a deputado federal, a decisão aconteceu nesse mesmo período. Da forma como eu vejo a política, como instrumento para contribuir para o desenvolvimento econômico, social, ambiental, para a articulação com a sociedade, eu penso que a gente tem que se preocupar com o hoje, com o trabalho de qualidade que se faz agora, para que isso alicerce o futuro.

OE: O senhor não participou da campanha eleitoral no ano passado e parece estar fora das discussões partidárias sobre 2010. O senhor está se afastando do PT?

FA: Não. Eu penso que pode, eventualmente, até ter havido dificuldade de encaminhamento em períodos passados. O que eu penso é que agora a gente tem que olhar para o futuro. Ver o que ainda podemos construir dentro do partido, em articulação com os setores da sociedade para o futuro. Se tiver havido dificuldades, como houve, no passado, vamos olhar para frente.

OE: O senhor sentiu-se abandonado pelo PT nas eleições para o governo em 2006?

FA:
Em 2006, o contexto era completamente diferente. Na época, o governo Lula estava envolvido com a CPI (do mensalão). O presidente estava até sendo pressionado para não ser candidato à reeleição, de tantas dúvidas que havia. A popularidade dele, apesar de ainda alta, estava abalada. No Paraná, o PMDB estava coligado com o PSDB. Eu não tenho absolutamente nada contra isso, mas isso significava que o presidente Lula não teria palanque no Paraná. Então houve um grande apelo de todos os setores do partido, diante deste cenário, para que eu saísse candidato. Eu achei importante, porque sempre penso que um partido tem que se colocar diante da sociedade com candidaturas próprias. Hoje em dia, o contexto é completamente diferente. Então eu não penso em abandono, mas penso que havia uma dificuldade significativa que chegou a afastar muitas pessoas que se sentiam muito pressionadas a não participar, diante daquilo que acontecia no contexto nacional.

OE: O senhor falou que é hora de olhar para frente e pensar no futuro. Neste olhar para frente passa a possibilidade de trocar de partido?

FA: Eu nem penso nesse assunto, porque estou como presidente na Comissão de Educação, Cultura e Esporte por indicação do partido. O nosso líder, Aloisio Mercadante, me indicou e isso é muito importante para o Paraná, estar num cargo de alta importância. A tendência é tentar dialogar, conversar e buscar os caminhos para o futuro, sem pensar em mudança de partido.

OE: Para o senhor, que trocou o PSDB pelo PT, qual a maior dificuldade que encontrou no novo partido?

FA: Eu fui do PSDB e tenho muito a agradecer ao PSDB, onde eu tive apoio, participação, amizade e respeito. E meu diálogo, hoje, com o PSDB é o melhor possível. Mas, no Paraná, teve dificuldades que, em 2001, fizeram com que o Alvaro Dias, o Osmar Dias e eu saíssemos do PSDB. E, naquela época, fui convidado para ingressar no PT. Mas o PT, quando é governo, naturalmente ele mudou muito de seu discurso e de suas práticas. Então, o que a gente gostaria, e muito, é que o PT tivesse atitudes diferentes em relação a vários aspectos. Tem coisas muito positivas acontecendo no governo, como os avanços em educação, em saúde, em várias áreas, mas essa questão do diálogo, do entendimento com a sociedade, com o terceiro setor, com as pessoas que procuram trabalhar pelo Brasil, nessa área em particular, o PT ainda pode aprimorar e muito a sua caminhada.

OE: Como o senhor vê o cenário para a disputa pela Presidência da República em 2010? Está mesmo polarizado entra a ministra Dilma Rousseff e o governador José Serra?

FA: É muito cedo para se falar em candidaturas. Alguns já se colocam, mas eu penso que em nenhum dos lados está colocado em situação definitiva. Porque até outros candidatos, mesmo dentro dessas coligações, podem surgir. Isso sem contar os outros partidos. A gente não sabe como vai ser o comportamento do PMDB, por exemplo. Temos que aguardar um pouco mais. Porém, o importante é que felizmente o Brasil tem bons candidatos. José Serra é uma personalidade importante. Faz um grande trabalho, é sério, é ético. Trabalhamos juntos vários anos na Câmara dos Deputados. E a ministra Dilma, da mesma forma. Tem um espírito administrativo importante, uma preocupação com Brasil, o respeito de muitos setores e o meu respeito também. Penso que o Brasil tem nomes capazes de fazer um bom debate com a população.

OE: E aqui no Paraná, como o senhor avalia a aproximação do PT com o senador Osmar Dias (PDT)?

FA:
Em primeiro lugar, temos que pensar o princípio. Temos uma distorção no nosso sistema político que permite fazermos coligações já antes da eleição e não para a constituição de governo. E isto, para mim, é uma distorção. Partido político que pretenda ser forte, se desenvolver, discutir com a população, tem que ter candidato. E o PT teria que ter candidato, caso a gente pensasse dessa maneira. Mas não é o que acontece no Brasil. Então, a aproximação com o senador Osmar Dias, a quem eu respeito muito e tenho uma amizade muito grande, de fato, está acontecendo. Tanto que o presidente Lula já deseja, inclusive, tê-lo como líder no Senado. Ele não se definiu porque, ao mesmo tempo, é uma pessoa de palavra e quer, como princípio, cumprir a palavra e gostaria de discutir essa situação com os partidos com quem ele manteve relações nas últimas eleições. Entre eles, o próprio PSDB. Mas, de qualquer forma, essa possibilidade de aproximação do Osmar Dias com o PT é uma possibilidade bastante concreta. E eu penso que o senador Osmar Dias pode contribuir bastante e, da minha parte, apoio, vejo com bons olhos, acho um bom candidato e essa coligação, com um programa de governo voltado para os interesses do Paraná, pode contribuir bastante.

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