Eleitor pede de dentadura a cimento

Ao longo do tempo, a legislação eleitoral apertou o cerco sobre os candidatos a mandatos políticos para impedir a troca de votos por favores e agrados, mas a cultura do “toma-lá-dá-cá” ainda sobrevive entre os eleitores.

É o que constatou o deputado Nereu Moura (PMDB), que se deu ao trabalho de elaborar uma lista dos mimos mais solicitados pelos eleitores a candidatos que apóia em várias cidades do interior nesta campanha eleitoral. A dentadura permanece invicta em primeiro lugar, seguido pelo não menos tradicional par de óculos.

A lista de Moura segue com outros 21 itens. Entre os mais requisitados estão combustível, jogos de camisa, exames médicos, pagamento das tarifas de luz e água, alimentos, passagens de ônibus, remédios, carteira de motorista, reforma do carro, pneu, cimento e areia e cessão por alguns dias de trator e outros equipamentos agrícolas.

Ao ver o ranking feito pelo peemedebista, outros deputados trataram de acrescentar mais alguns pedidos incomuns. O deputado Alexandre Curi (PMDB) disse que a assessoria de seu gabinete tem registrado nos últimos tempos uma demanda crescente por perucas e cirurgias para redução do estômago. “A assessoria nem me passa esses pedidos. Ficam lá registrados”, disse.

Antonio Belinati (PP), candidato a prefeito em Londrina, disse que alguém sempre aparece pedindo gasolina para ajudar na campanha. Mas ele acha que o volume de pedidos caiu bastante em algumas décadas.

Entretanto, itens como alimentos e remédios e pagamento das contas de água e energia são sempre solicitados, relatou. “Eu sou supervisado e radicalizei nessa campanha. Não pago nem um lanche para mendigo”, disse.

Para Moura, o problema se agrava nas pequenas comunidades, onde os candidatos às eleições municipais são conhecidos e têm que bater de porta em porta para pedir o voto.

“Apesar de todo o rigor da lei, ao que parece muita gente ainda não atendeu ao apelo de não vender o voto. Por isso é que candidato com muito dinheiro sempre tem a chance de virar o jogo porque ainda tem gente que pensa que a campanha eleitoral é a hora de se locupletar. É uma situação preocupante”, afirmou o deputado.

Antes da campanha, Moura percorreu vários municípios para orientar os candidatos sobre a legislação eleitoral. “Mas vários adversários ainda fazem o que não se deve e eu fiquei com a pecha de que estava arranjando um pretexto para não ajudar ninguém”, disse.

O radialista e deputado Luiz Carlos Martins (PDT) achou um jeito melhor de lidar com as necessidades dos seus eleitores. No programa que comanda, Martins criou a “Corrente da Amizade”, onde um cidadão ajuda o outro. Ele só atua como intermediário dos empréstimos e trocas. “A gente precisa saber distinguir o que é malandragem e o que é realmente necessidade. A corrente é um negócio bonito”, disse o deputado.

Ele lembra que os mal-intencionados, normalmente, são os mesmos e costumam também se repetir nos pedidos, referindo-se às solicitações que são feitas ao seu gabinete na Assembléia Legislativa. “Muitas vezes, os que realmente precisam não têm nem dinheiro para pegar o ônibus e vir à Assembléia pedir nossa ajuda”, comentou.