Políticos usam Orkut para se comunicar com eleitor

Embora esteja longe de revolucionar o modo de fazer política, a internet vem trazendo recursos criativos para que políticos e internautas se comuniquem com o eleitorado. No Orkut, o site de relacionamentos sociais amplamente utilizado por brasileiros, principalmente os jovens entre 15 e 25 anos, encontra-se pelo menos três deputados estaduais, que aderiram ao site nos últimos meses. A reportagem de O Estado achou três parlamentares que possuem perfis no Orkut, depois de pesquisa com base na lista da própria Assembléia Legislativa: André Vargas (PT), Pastor Edson Praczik (PMR) e Marcos Isfer (PPS).

Os deputados têm até agora usado o recurso para relacionamentos pessoais, mas não descartam a possibilidade de o utilizarem para estreitar laços com eleitores ou mesmo como ferramenta para campanha direcionada. Porém, estão de olho na legislação eleitoral. Não querem ter problemas com a Justiça, responder processos ou inviabilizar candidaturas por causa de umas páginas de internet.

O chefe de gabinete do deputado Marcos Isfer, Alaor Valente Tavares, explica que a intenção principal é manter uma comunicação sadia com pessoas que estejam receptivas. Foi ele quem incentivou Isfer a manter uma página no Orkut e, há cerca de duas semanas, o ajudou a criá-la. Tavares entende que se uma pessoa convida o deputado ou é convidada por ele para ser um ?amigo?, essa pessoa está receptiva a receber suas mensagens.

Assim não se caracterizaria como spam, ou envio de mensagens inconvenientes. Mas, ressalta ele, não é uma ferramenta de campanha. ?Até porque a legislação eleitoral a esse respeito não está consolidada. Falta regulamentação a respeito do Orkut?, diz.

De acordo com o deputado André Vargas, ele ainda vai avaliar o potencial do Orkut como instrumento político. ?Vou analisar a legislação, ainda não tenho a noção de como isso vai ser possível, mas é uma opção interessante, por ser um instrumento de diálogo e de participação?. Vargas, que há cerca de um mês entrou para o mundo ?orkutiano? por incentivo de sua filha, entende que mesmo no site é preciso sedimentar as relações. ?O que vale é a solidez do relacionamento?, afirma.

O deputado Pastor Edson Praczik (PMR) já adiantou que, se for possível, irá utilizar a sua página de Orkut para fins políticos. ?Eu ainda não a usei com esse objetivo. Até agora meus interesses são pessoais, participando de comunidades de software livre?, explica. Segundo Praczik, foi por causa do software livre, cuja causa ele defende, que entrou no Orkut.

Perfis

Embora os parlamentares tenham suas páginas pessoais no site de relacionamentos, dificilmente alguém que não os conhece conseguirá saber muito mais que o óbvio, ao analisar o perfil dos deputados. Todos os três disponibilizam o endereço de suas páginas oficiais, mas são raras as características pessoais que listam. Das poucas informações disponíveis, sabe-se que Praczik considera sua visão política de esquerda-liberal – uma esquerda que não seria radical. De Vargas, que se auto-atribui detentor de humor extrovertido e extravagante. E de Isfer, o internauta poderá constatar que é advogado e que gosta de comida árabe. Nada fora do comum, uma questão de imagem, e de privacidade.

Orkut: TSE ainda não tem regras

A respeito do uso do Orkut como ferramenta de campanha, o professor de direito eleitoral da Faculdades Curitiba e procurador-geral do município, Ivan Bonilla, explica que reconhecidamente a internet é um veículo para a promoção eleitoral e que antes de 5 de julho não se permite a apresentação do candidato com o objetivo de pedir votos. Mas, lembra Bonilla, manter um canal de comunicação com a população, como acontece no Orkut, é justificável e elogiável. ?São pessoas públicas, faz parte da atuação delas se articularem e debaterem. Há uma linha tênue entre a atuação parlamentar e a busca de votos?, afirma.

Bonilla diz que na resolução do Tribunal Superior Eleitoral ainda não se acordou sobre o Orkut como ferramenta de campanha. Ele explica que toda a campanha pela internet vai ter de ser identificada pelo domínio.can.br (?can?, de candidato) e que, a princípio não haveria problemas da utilização do Orkut para divulgação de idéias, uma vez que não pedindo votos, não caracterizaria promoção.

Agora, em relação às comunidades do Orkut em que se discute ou se enaltece a figura de algum político, Bonilla diz que serão situações que precisarão ser verificadas, uma vez que candidatos poderão pedir a terceiros, que os promovam na internet. Segundo ele, esse tipo de tática pode ser descoberta através de investigação em servidores.

?É claro que pode ocorrer de que algumas pessoas promovam candidatos para tentar incriminá-los, acusando-os de fazer propaganda fora de prazo. Mas isso pode ser descoberto, por meio de investigações, identificando os responsáveis, por meio de rastreamento em servidores de internet por onde trafegou a informação?, explica Bonilla.

Falsificação

Ao pesquisar personalidades políticas no Orkut é possível encontrar perfis falsos do governador Roberto Requião e do prefeito de Curitiba, Beto Richa. Bonilla lembra que é preciso observar a autenticidade, para não ser mal informado. ?Muitas vezes são montados para falsificar as idéias, ou para degradar. Nestes casos, há penalidades, já previstas em lei.?

Ele explica que ?o curioso é que são crimes antigos, já tipificados e descritos em leis, que são executados por instrumentos absolutamente modernos?. Bonilla lembra que há perfis que podem ter tom irônico, outros elogiosos, que ficam no limite da legalidade. ?Mas, se degradar a pessoa pública, pode ser considerado crime contra a honra?, afirma. (Rhodrigo Deda)

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