Dupla punição

PM promete ser rigorosa com soldado preso por matar rival em jogo de futebol

A Polícia Militar (PM) prometeu ser rigorosa na investigação do crime envolvendo o soldado Gerson, que matou Gilson da Costa de Camargo, de 28 anos, durante uma partida de futebol em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). O policial, que está há cinco anos na corporação, foi preso na manhã desta quinta-feira (21) e está detido na carceragem de um quartel da PM.

O mandado de prisão foi expedido em caráter temporário, com duração de 30 dias, podendo ser prorrogado. Eurico Gerson Araújo Pires, o soldado, é investigado pela Polícia Civil não só pelo crime de homicídio que cometeu, mas também por fraude processual, pois a Polícia Civil sinalizou que a arma que foi entregue como sendo da vítima pode ter sido plantada.

Para o comandante-geral da Polícia Militar, o coronel Maurício Tortato, o crime repercute não só pelo policial em si, mas também aos demais militares estaduais. Conforme o coronel, de comprovado até agora é o crime de homicídio. “Caso se comprove a fraude processual, que envolve a arma, os demais envolvidos também vão responder pela intensidade dos atos”, explicou. 

Comandante-geral da PM Maurício Tortato. Foto: Átila Alberti.

Pelo menos neste momento, ainda não se pode dizer se o policial se precipitou ou não. “Apesar disso, nós não cultuamos os tiros pelas costas, mas as circunstâncias que envolveram os fatos devem continuar sendo apuradas. No que envolve o soldado, se tudo o que é investigado for comprovado, avaliaremos com severidade a permanência dele na corporação”.O coronel explicou também que a culpabilidade, que é investigada pela Polícia Civil e, em paralelo, pela Polícia Militar, através de um Inquérito Policial Militar (IMP), será decidida após a conclusão do processo administrativo, que vem depois da conclusão do IPM. O IPM tem 40 dias para conclusão, podendo ser prorrogado por mais 20 e, após isso, será definida pela instauração do processo administrativo ou não.

No dia do crime, que aconteceu no último domingo depois de uma partida de futebol, muitas pessoas registraram em vídeo e essas imagens, que já são usadas pela Polícia Civil, também podem passar a ser parte do IPM. Sobre possíveis ameaças que as pessoas que fizeram essas imagens estariam sofrendo, o coronel falou que o IPM deve apurar essa informação. “Não temos essa notícia, mas a corregedoria está acompanhando. Essas ameaças devem ser trazidas a conhecimento para a apuração”, alertou.

Gilson da Costa de Camargo deixou esposa e filho.

O policial, que integrava a Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam), até o momento não tinha nenhum fato que o desabonasse nos cinco anos de corporação. “Mas não seria por antecedentes ou não que a Polícia Militar atuaria de maneira diferente nas investigações”. O IPM e o inquérito policial civil vão se juntar, quando concluídos, ao juízo de direito da comarca do tribunal do júri de Campina Grande do Sul. “Se comprovado crime doloso contra a vida. Na corporação, ele pode ser excluído”, reforçou o comandante da PM.

Diretamente, ainda conforme o coronel, a PM está preocupada com as duas situações: a do homicídio e da possibilidade do crime de fraude processual.  “Se houve a fraude, nos preocupa a participação de o,utros policias, inclusive do oficial coordenador de policiamento de unidade que esteve no local. Por isso, diretamente, o soldado é investigado e outros três militares também”. 

De acordo com a Polícia Civil, o revólver calibre 38 que foi entregue na delegacia é de Joinville, em Santa Catarina, e pertence a um comerciante. A arma não teria registro de furto ou roubo. Na tarde desta quinta-feira, o delegado Messias Antônio da Rosa, esteve na cidade do Estado vizinho para descobrir novas informações sobre esta arma e o dono dela. Para o delegado, já é evidente que o soldado não agiu em legítima defesa. 

Prisão pelo Gaeco

Sobre a prisão de outro soldado da PM, suspeito de roubo, e detido pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná, na manhã de quarta-feira (20), o coronel afirmou que a PM já havia sido comunicada em 2015, no começo das investigações. “Para este caso, já determinamos a abertura do processo administrativo para avaliar se ele continua ou não na corporação”. O soldado tem 33 anos e também estava na corporação há cinco anos.

Imagem manchada

A conduta, tanto do soldado Gerson, como a do outro soldado preso pelo Gaeco, mancha a imagem da corporação. “Preservamos nossos valores, nossos propósitos. Quando concluídos, os inquéritos militares serão trazidos à tona”, prometeu o comandante-geral Maurício Tortato.

De acordo com Maurício Tortato, os fatos devem ser apurados de maneira rigorosa, mas são isolados. “Estes casos afetam a imagem da polícia militar, mas não pautam a grande maioria das boas ocorrências e bons atos que são praticados pelos militares que têm o compromisso com a população. Pedimos para que a sociedade não generalize estes desvios de conduta”.