Mães que não esquecem

“Queria que este dia fosse apagado do calendário”, diz mãe de Rachel

O dia 8 de fevereiro é o mais cruel de cada ano para Maria Cristina Lobo de Oliveira. “Era um dia de festa o dia do aniversário dela. Hoje, neste dia, eu tento me esconder. Queria que este dia fosse apagado do calendário. É muita dor”, revela. De Rachel Genofre, a menina que foi arrancada deste mundo aos 9 anos, a mãe guarda a redação premiada pelo seção infantil da Biblioteca Pública. “Eu tenho ainda o troféu de terceiro lugar que ela ganhou em 2007, mas não tenho o de primeiro lugar que ela ganhou em 2008, que desapareceu no dia em que ela foi morta”, conta a mãe. Na redação premiada, a aluna do Instituto de Educação do Paraná diz: “Minha família começou em Paranaguá com os tupis-guaranis, eu acho”.

Ela soube no dia 31 de outubro que ganhara o concurso de redação da Biblioteca Pública. Foi a sua última alegria. No dia 3 de novembro de 2008 estava morta. Em sua redação ela deixou uma espécie de testamento: “Só sei que quero que meus próximos parentes tenham o mesmo orgulho de ser índio”. Por ironia, foram dois índios que encontraram o corpo dentro da mala deixada na Rodoferroviária. Outra recordação da mãe de Rachel é a fita gravada no telefone. Na fita a garota diz: “Mamãe eu te amo. Mamãe você é linda”. “Este é o único registro que eu tenho dela”, diz Maria Cristina.

Ao lembrar o caso, Maria Cristina lamenta a sucessão de ações que em vez de solucionar o crime, contribuíram para torná-lo mais obscuro e insolúvel. Como a abordagem com o corpo na mala. “Poderia ter sido cuidado um pouco melhor. A sensação que eu tenho hoje é a de abandono. Não se vê mais trabalho na polícia. O caso está esquecido”, diz a mãe da menina que hoje poderia ser uma bela adolescente. E não é por falta de tentativa de obter informações oficiais sobre o desenvolvimento do caso. “No começo deste ano tentei entrar em contato e não me atenderam. Não tem retorno, não tem conversa. Tentei marcar entrevista com o Secretário de Segurança e não foi possível. Eu não esqueci. E não vou esquecer. Por que as pessoas me perguntam como caso está”, diz ela.

No entanto, a sensação que tem é a de que o caso foi abandonado pela polícia em razão das dificuldades de avançar. Quanto mais o tempo passa, mais difícil fica ter pista que leve ao criminoso. “Pela polícia e pelo governo o caso foi abandonado. Eles não têm feito nada”, diz. Ela sabe que o tempo conspira a favor do assassino: “Hoje em dia sei que está muito mais difícil para resolver o caso. Quanto mais tempo passa, até a nossa memória vai se fragmentando”. É cruel, mas, ainda assim, Maria Cristina tem vaga esperança: “Eu acredito que o assassino ainda vai ser descoberto. Eu espero que um dia este monstro apareça. Até para ter a tranquilidade de saber que ele não fará mal a outras crianças como fez à minha filha”.

A família de Rachel Genofre processou o estado. Em vez de dinheiro pela morte da menina, pediu a adoção de políticas públicas para evitar que casos semelhantes continuem a acontecer. “Mas o processo foi rejeitado porque pedimos políticas públicas. Não pedimos dinheiro porque a vida de minha filha não tem preço”, finalizou ela.

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