Santa Cândida

Bandidos roubam igreja e ‘fazem boquinha’ antes de ir embora

Os constantes assaltos já fizeram com que moradores e, principalmente, comerciantes desistam de chamar a Polícia Militar na Rua Fernando de Noronha, no Santa Cândida. Na madrugada desta terça-feira (19), para aumentar o número dos arrombamentos e assaltos, uma igreja evangélica foi furtada e os bandidos chegaram a comer linguiça e beber refrigerante antes de irem embora.

O arrombamento só foi percebido pela manhã, quando o pastor chegou para abrir a igreja. “Eles entraram pelo portão e foram direto para a cozinha, que fica anexa ao prédio da igreja. Lá fritaram a linguiça, comeram o que puderam e beberam refrigerante. Depois, subiram no telhado da igreja e terminaram o que haviam planejado”, contou sem se identificar.

Os bandidos levaram da igreja duas caixas de som, além de bicicletas e roupas de uma casa que fica no mesmo terreno. O prejuízo do arrombamento é pequeno se for comparado ou somado aos outros furtos e roubos a todos os comerciantes da rua. Na semana passada, de acordo com os comerciantes, outra igreja – na mesma rua, próxima a que foi arrombada na madrugada – foi assaltada e levaram cerca de R$ 7 mil.

“Estamos abandonados. Não adianta chamar a Polícia Militar, porque sempre que eles chegam já é tarde. E a culpa não é dos policiais não, é de quem deveria aumentar o policiamento e as condições de trabalho destes policiais, pois eles também estão abandonados”, lamentou o pastor.

Cansados

Na rua foi difícil encontrar um comerciante ou morador que já não foi vítima ou, pelo menos, não conhece alguém com uma história real para contar. “Fomos assaltados, sempre a mão armada, mais de cinco vezes. Já cansamos e não chamamos mais a polícia. O nosso jeito é rezar e ficar sempre de olho”, disse uma funcionaria de um material de construção.

Entre os comércios, o local que recebe mais vezes a visita dos bandidos é uma farmácia. “Temos, pelo menos, um assalto por semana. Todos os roubos são registrados por câmeras de segurança, mas não adianta, ninguém faz nada. Sequer temos viatura passando pela rua, os bandidos fazem com a gente o que querem”, lamentou uma vendedora da farmácia.

A ousadia dos bandidos é tanta que em uma loja de equipamentos automotivos já chegaram até a levar carro de cliente. Nas casas, eles agem sempre de forma parecida: entram pelos telhados e levam o que conseguem.

Como escapar

Depois de tanto ouvir as reclamações, os comerciantes acabaram tomando atitudes que jamais pensariam. “Conhece aquela frase que diz: se não pode vencê-los, junte-se a eles? Pois então, funciona mais ou menos assim, mas no sentido de que não mexemos com eles e eles não mexem com a gente. Pelo menos não corremos riscos de algo pior, como uma morte, acontecer”, lamentou uma das comerciantes.

Além de agir como se não estivessem preocupados com a rotineira presença dos bandidos, os comerciantes desabafaram também que já não confiam mais nos próprios clientes. “Acontece que não sabemos mais quem é cliente e quem não é. Pois os bandidos entram, passam por clientes e depois assaltam. Então, dependendo de quem entra, eu já fico assustada e não sei como tratar a pessoa, porque não sei se ela vai me roubar ou precisa de algum produto. É frustrante”.

Na farmácia, sem conseguir reduzir o número de assaltos, os funcionários encontraram uma forma de diminuir os valores em dinheiro que são levados, parando de aceitar contas e boletos bancários. “Isso facilitava e muito a vida de quem não pode ir ao banco ou a uma lotérica, mas também fazia com que ficasse ainda mais dinheiro em caixa. Então, não aceitamos mais”, disse a funcionária.