Quase no dia da mentira!

Falso vigilante flagrado sem CNH e com ‘carro clonado’

A certeza de que nunca seria pego e que o carro com adesivo de uma empresa de segurança privada lhe daria o “sossego” de não ser abordado pela polícia, fez com que um homem abusasse da sorte. O suspeito, de 47 anos, foi detido na noite de segunda-feira, depois que policiais descobriram que ele atuava para uma empresa clandestina.

Policiais militares do 12.º Batalhão flagraram o homem trafegando por cima da calçada na Rua Chile, no Rebouças. Ele não tinha habilitação, nem os documentos do Gol que dirigia e dizia ser vigilante de uma empresa privada. A PM constatou que o carro estava em nome de uma mulher da cidade de Ubiratã, no interior do estado, e a empresa que o suspeito dizia fazer parte sequer estava registrada na Polícia Federal (PF), portanto agia clandestina.
O suposto vigilante foi encaminhado inicialmente à Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran). Lá, investigadores consultaram o chassi do carro e descobriram que o Gol estava com placas clonadas, ou seja, pode ser furtado ou roubado.

Outra delegacia

Diante de uma possível receptação de veículo, a PM afirma que retirou o preso e o carro irregular da Dedetran e os entregou na Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV), onde se encerrou o atendimento dos policiais militares. No entanto, o delegado Cassiano Aufiero, titular da DFRV, confirmou à Tribuna que este caso não ficou por lá. A assessoria de imprensa da Polícia Civil também fez uma busca em outras delegacias onde o carro e o falso vigia poderiam ter sido entregues, mas não localizou onde o boletim de ocorrência ficou por final. Portanto, não há informações se o falso segurança ficou ou não detido, por qual crime foi autuado e onde ficou o Gol com placas clonadas.

A Tribuna entrou em contato com a empresa de segurança. Uma mulher atendeu o telefone e não quis comentar o assunto.

Barato sai caro

A tentativa de pagar menos por um serviço de vigilância privada é um dos principais motivos que levam as pessoas a contratarem uma empresa de segurança clandestina. Mas o que estas pessoas não sabem é que, além de incentivar o crescimento do mercado negro da segurança privada, este cliente pode acabar arcando com custos trabalhistas deste vigilante no futuro, caso ele entre com processo na Justiça. Isto porque a lei entende que a responsabilidade pela empresa contratada é do contratante. “Sem contar o risco que a pessoa corre em colocar alguém que não tenha idoneidade para cuidar do patrimônio”, explicou João Soares, presidente do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região, e também da Federação dos Vigilantes do Paraná.

O sindicato estima que, em Curitiba e região, para cada vigilante legalizado, existem três clandestinos. “Por isso insistimos no alerta e pedimos para que a população não colabore com esse tipo de empresa. Verifique, tome muito cuidado e, principalmente, denuncie”, pediu o sindicalista.

Como checar

Uma das dicas para que a população perceba se a empresa é clandestina ou não é o preço. A vigilância é um serviço caro (um posto de vigilância 24 horas custa cerca de R$ 18 mil por mês). Por isto, o cliente deve desconfiar de valores abaixo disto. O contratante também deve consultar a Delegacia de Controle de Segurança Privada (Delesp), da Polícia Federal, que vai dizer se a empresa é cadastrada (obrigatório para toda empresa de vigilância) e se a situação dela é regular. Além disto, a lei exige que, para ser um vigilante, o funcionário deve ser cadastrado na Polícia Federal (PF) e não pode ter antecedentes criminais. Os profissionais também precisam ter carteira nacional de vigilante, com curso de formação e reciclagem (feita a cada dois anos) em dia. Para o porte de arma, também devem passar por exame psicológico.
Toda denúncia que chega à PF é checada. Se a clandestinidade é confirmada, a empresa é comunicada e tem um prazo de 30 a 60 dias para se regularizar. Caso contrário, é fechada.

Nova lei em breve

A lei que regulamenta a atividade de segurança privada no Brasil, atualmente, é a 7.102/83. Ela prevê a criminalização das empresas e dos agentes que atuam na atividade irregular, sem cadastro e sem acompanhamento da Polícia Federal. No entanto, para João Soares, presidente do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região, a lei já está ultrapassada e a categoria organizou um novo Estatuto da Segurança Privada, que em breve deve ir para votação do Congresso Nacional. A nova lei tornará mais pesada a punição tanto às empresas e vigilantes clandestinos, quanto à quem contrata os serviços. Empresas que contraram os serviços clandestinos, além de multadas, poderão até ser interditadas.