Momentos de pavor

Gangue invade Unidade de Saúde para executar rival

A rixa entre as duas gangues que dividem a Vila Torres, no Prado Velho, foi parar dentro da Unidade de Saúde (US) do bairro, na manhã desta sexta-feira (10). Logo depois do assassinato de um adolescente, três homens armados, pertencentes ao grupo da “parte de baixo”, invadiram o postinho, na Rua Manoel Martins de Abreu, procurando por uma jovem, de 22 anos, que aguardava consulta médica. Ela precisou ser escondida em uma sala, para não ser assassinada.

Por ser moradora da “parte de cima”, que fica do outro lado da Rua Guabirotuba, o trio queria executá-la para vingar a morte de um garoto, de 16 anos. O adolescente foi baleado por volta das 9h, supostamente por membros da gangue de cima, durante troca de tiros entre os grupos criminosos, na esquina da unidade de saúde.

Guardas municipais e policiais militares chegaram ao local logo após o confronto das gangues, mas o adolescente já tinha sido levado ao Hospital Cajuru, no carro de amigos. Ele recebeu atendimento, mas morreu por volta das 10h. Com a confirmação da morte, colegas do garoto aproveitaram que a polícia tinha saído da vila e foram atrás da moça. Porém, não ficou esclarecido o envolvimento dela com o crime ou a briga de gangues.

“Tiveram que escondê-la nos fundos. Os marginais permaneceram cerca de dois ou três minutos dentro da unidade e fugiram. Quando chegamos, encontramos apenas o pessoal bastante assustado, mas ninguém ferido”, explicou o guarda municipal Marco Rocha. Policiais militares do 12.º Batalhão abordaram algumas pessoas na região, mas ninguém foi detido.

Escolta

A unidade de saúde fica no “território” da gangue de baixo, por isso a moça precisou ser escoltada por guardas municipais até um ponto de ônibus, na região da trincheira da Rua Chile, onde familiares dela aguardavam. “Foi necessário levá-la de viatura, mesmo assim, pediu para não descer em casa, para a residência não ficar marcada”, comentou Marco.

Além da equipe dele, outras duas foram encaminhadas para ficar de prontidão na unidade de saúde até o fim do dia e garantir a segurança dos funcionários e pacientes. Viaturas da PM continuaram rodando na vila.

Cinco garotos mortos em quatro dias

O garoto morto na Vila Torres é o quinto adolescente assassinado em Curitiba e região desde terça-feira, quando Robson Benjamin Arruda, 16 anos, foi assassinado a tiros por ter chutado um cachorro da vizinhança em Piraquara. No mesmo dia, na favela do Papelão, Capão Raso, um adolescente, de 17 anos, foi baleado com outros dois rapazes em um campo de futebol na Rua São Judas Tadeu. O garoto morreu na hora.

Na quarta-feira (08), Pauliano Gil dos Santos, 17, foi morto no bairro São João Batista, em Almirante Tamandaré. Anteontem à noite, um adolescente, de 15 anos, foi morto com três tiros na Avenida Alan Kardec, Jardim Campo Alto, em Colombo. De acordo com a mãe do garoto, ele era usuário de drogas. As vítimas que não tiveram os nomes divulgados tinham envolvimento com a criminalidade.

Infância

O soldado Alves, do 22.º Batalhão da Polícia Militar, isolava o local onde o garoto foi morto em Colombo e ficou impressionado com a quantidade de crianças que se reuniram em torno do corpo. “Vi um monte de criança pequena, mas não encontrei o pai de nenhuma delas por aqui. Essas crianças veem o garoto morto e, em vez de tomar como lição para a vida, muitas acabam tendo o mesmo destino”, lamentou.