Armados pra Copa

Violência da Vila Torres assusta turistas para a Copa

A Vila Torres, Prado Velho, no meio do corredor que recebeu milhões em investimentos para receber os turistas na Copa do Mundo, tem sido uma “pedra no sapato” da segurança pública. O ano promete ser violento na região, já que, desde outubro, a briga entre as duas gangues da vila se tornou mais acirrada e já fez mais de 15 vítimas, entre mortos e baleados, alguns sem ter nada a ver com a “guerra”. As polícias Civil e Militar ainda não falam em projetos ou ações específicas para apaziguar o local que, do ponto de vista social e da segurança, não recebeu nenhum centavo dos investimentos na Copa.

A última vítima da briga de gangues foi Daniel Lourenço de Carvalho, 26 anos, o “Duia”, baleado na frente da esposa e do filho ainda bebê, dentro de seu carro, na noite de segunda-feira. O delegado Fábio Amaro, da Delegacia de Homicídios (DH), explicou que Daniel pertence a um dos grupos e por isto sofreu o atentado.

O rapaz estava em um Gol branco, com placas de São José dos Pinhais, passando pela Avenida Senador Salgado Filho, no Uberaba, quando um Honda Civic preto emparelhou e um dos ocupantes atirou nele. Daniel foi baleado no ombro e na coxa e, mesmo assim, dirigiu até encontrar uma viatura da Polícia Militar para pedir socorro. Daniel foi encaminhado ao Hospital Cajuru, fora de risco.

De acordo com o delegado, Daniel é investigado, sob suspeita de matar Jhonn Willian Santos Oliveira, 18 anos, na Rua Manoel Martins de Abreu, em 26 de outubro. O rapaz seria da Gangue de Baixo, da qual outros dois integrante, Maycon Testa e Jorge Fabrício, foram baleados no fim do ano passado, no Centro de Curitiba. Os atentados, segundo as investigações, são vingança pela morte de componentes da Xicarada, ou Gangue de Cima, no ano passado.

Vítimas

Desde outubro, a briga de gangues na Vila Torres resultou em oito mortos e sete baleados. Entre os feridos está uma mulher, de 19 anos, que voltava da creche com a filha no colo quando foi atingida por uma bala perdida. A mãe fez seu corpo de escudo e por pouco a criança não foi atingida. O clima estava tão tenso na região que, em 17 de dezembro, um posto de saúde e o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do bairro tiveram que fechar as portas, por conta de tiroteios. Este foi apenas um, dos pelo menos quatro confrontos armados promovidos pelas gangues da vila.

Polícias afirmam monitorar a região

A Polícia Militar direcionou uma de suas operações para dentro da Vila Torres, no final de outubro. Mas, tão logo a polícia tirou os pés da favela, a briga de gangues voltou a amedrontar os moradores.

A PM informou que o 12º Batalhão tem feito policiamento ostensivo e afirmou que o serviço de inteligência monitora a região e que a corporação prepara policiamento para que esta e outras áreas à beira do corredor (como a Vila Icaraí, no Uberaba), durante os jogos.

O delegado Fábio Amaro, da Delegacia de Homicídios, concorda que deve haver um policiamento ostensivo, mas acredita que a Vila Torres não representa perigo para os turistas. Na opinião dele, a briga entre gangues é um conflito interno, pelo poder dentro da favela. O delegado reforçou que o trabalho da Polícia Civil está sendo feito, que é investigar homicídios, instaurar inquéritos, fazer diligências e ouvir testemunhas em busca dos autores.

“Às vezes, em locais de crime, a gente já sabe quem é o autor, mas não posso simplesmente levá-lo à delegacia e prendê-lo. A Justiça exige que eu tenha provas e é isto que demora, o processo de ouvir testemunhas, diligências, aguardar resultados de laudos, o que gera falsa sensação de que a polícia não está fazendo nada”, disse Amaro.

Medo

Outro empecilho à produção de provas é o medo. “A solução dos crimes seria, mais rápida se a Justiça garantisse proteção à testemunha. As pessoas não vêm à delegacia colocar no papel o que sabem porque, quando chega na fase de processo penal, a testemunha é colocada cara a cara com o autor do crime durante as audiências. O homicida fica sabendo quem o denunciou, já que a Justiça garante ao réu o direito de saber quem produziu provas contra ele”, explicou Amaro.

O delegado contou que a população da Vila Torres “morre de medo” das gangues e se cala. “A maioria dos crimes da Vila Torres foram esclarecidos com informações de pessoas ligadas às vítimas, porque os moradores de bem sabem que podem morrer e não querem colaborar, com razão. Eles têm que aguentar no silêncio”.