Justiça

Ciganos suspeitos de homicídio em Quatro Barras são julgados hoje

Nesta segunda-feira, dia 12, às 9h30, finalmente será realizado no Tribunal do Júri de Curitiba o julgamento de um dos casos mais chocantes dos últimos cinco anos e que abalou a opinião pública da região metropolitana de Curitiba. Os ciganos Vera Petrovitch, Pero Theodoro Petrovich e Renato Michel foram denunciados pelo promotor de Justiça Octácilio Sacerdote Filho pelo crime de homicídio duplamente qualificado. A defesa está por conta do escritório do advogado Cláudio Dalledone Júnior. A vítima é a garota Giovanna dos Reis Costa, de 9 anos, barbaramente assassinada em 10 de abril de 2006, em Quatro Barras. Os réus são acusados de matar a menina para fins de ritual de magia negra.

Tudo aconteceu entre a tarde de segunda-feira e a madrugada de quarta-feira, 10 a 12 de abril de 2006, num raio de aproximadamente 500 metros, no Jardim Patrícia, em Quatro Barras. Entre a casa de onde Giovanna dos Reis Costa saiu e o lugar onde foi vista pela última vez, assim como no local onde o seu corpo foi encontrado dentro de um saco de lixo dois dias depois, a maior distância entre eles não é superior a 1.000 metros. Neste território, também encontrava-se a casa dos acusados pelo crime, ao lado da qual havia um terreno baldio, onde foram encontradas evidências de que a menina estivera por ali: uma sandália e parte do vestuário.

Perto de casa

Giovanna deixou a casa dos pais um pouco depois das 14 horas de segunda-feira, dia 10. Ela não pôde contar com a amiga Fernanda para vender rifas e então convidou Natalia, outra amiga, dois anos mais nova, cuja mãe negou autorização à filha. Então Giovanna foi sozinha. No Supermercado Bom Sucesso, ela tentou vender rifas da Festa da Páscoa da escola para Nilza Monteiro, proprietária do estabelecimento, que já havia comprado outros números. “Dona Nilza, a senhora não quer comprar mais rifas?”, perguntou.

A menina argumentou que teria de entregar o talão quinta-feira na Escola Devanira Ferreira Alves e queria vender todos os números. Nilza perguntou, quantos números faltavam. Era um novo talão. “Então comprei o primeiro número e disse a ela para tentar vender o resto no bairro. Se não conseguisse, poderia voltar que eu comprava”, diz Nilza. Giovanna deixou o estabelecimento, decidida a bater de casa em casa do pequeno bairro para vender as rifas. Cinco anos depois Nilza tenta encontrar Giovanna em sua memória e diz com tristeza no rosto: “Se soubesse que ia acontecer o que aconteceu, eu teria comprado tudo”. Ela não viu mais a garota com vida.

Giovanna deixou o supermercado em direção ao bairro. As horas se passaram. No começo da noite, Altevir Costa, hoje com 45 anos, pai da menina, perguntou em casa pela filha e ninguém soube responder onde ela estava. Primeiro, ele perguntou para a mulher Cristina. Depois, ele perguntou para a irmã Albani Costa, que ainda mora no mesmo lugar, na época vizinha de Altevir. Ninguém sabia de nada.

Perdidos na noite

Altevir Costa recorda: “Quando a noite chegou e ela não apareceu, começou a correria. Os vizinhos ajudaram. Procuramos pelas ruas do bairro e depois fomos para os lados do rio Iraí e da represa. Às 22 horas, fomos na delegacia, mas estava fechada, com um cadeado na porta. Fomos ao módulo policial, mas não puderam fazer nada. Ficamos no portão de casa até a meia noite. Depois ficamos esperando”, diz ele.

A família ficou aquela noite em claro. “No dia seguinte, na terça-feira, contiuamos procurando. Mas aí, logo de manhã, o Sicride (Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas) já estava na cidade. Eles chegaram bem cedo e estavam por todos os cantos. E ficaram o dia todo procurando. Eu também procurei até à noite. Eram quatro horas da madrugada de quarta-feira. Eu não tinha dormido. Meus joelhos estavam doendo de tanto andar. Então a gente parou para descansar. Eu acho que foi naquela madrugada, depois que a g,ente parou, que eles colocaram ela dentro daquele saco naquele mato, perto de casa”, diz ele.

“Eles”, no caso, os ciganos Vera Petrovich (também conhecida por Cartomante Diva) e seu filho, Pero Theodoro Petrovich, então com 59 anos e 19 anos, respectivamente, acusados de matarem a garota em ritual de magia negra destinado a obter o sangue de garota virgem para cerimônia de casamento de um segundo filho de Vera. O sangue daria a este filho “sorte e fertilidade”. Os dois ciganos moravam na rua de baixo (Agnelo Florêncio Ribeiro, 419), num terreno que fazia fundos com a casa de Altevir. Quando o corpo da menina foi achado, eles já tinham sumido da cidade.