Extorsão praticada por policiais é confirmada

Dois dos sete policiais acusados de extorquir quase R$ 9 mil de um empresário em Piraquara, em fevereiro deste ano, já responderam a Inquérito Policial Militar (IPM) por tortura, conforme informou o comandante do 17.º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Maurício Tortato, que ontem concedeu entrevista coletiva para falar a respeito do assunto.

Quatro policiais – um sargento com mais de 10 anos de serviço, um cabo e dois soldados – foram presos no último fim de semana, quando apresentarem ao comando.

Os outros três soldados apresentaram-se ontem à tarde e a exemplo dos colegas, também foram presos. Caso eles não se apresentassem, seriam considerados desertores.

A vítima, de 38 anos, foi abordada três vezes pelos policiais que estavam atrás de R$ 7.500, dinheiro referente à venda de um terreno. O empresário optou por manter o valor em casa porque os bancos estavam fechados por causa da greve dos vigilantes.

Na noite de 6 de fevereiro, houve a primeira abordagem, feita por três policiais da Rádio Patrulha de Pinhais Em circunstâncias ainda investigadas, eles souberam que o empresário estava com o dinheiro guardado em casa. “A vítima contou que comentou com alguém que tinha essa quantia”, acrescentou o coronel.

A primeira informação divulgada era de que o empresário teria pendências judiciais – o que poderia ter motivado o desvio de conduta da equipe. Porém, o comandante Tortato afirmou que o empresário não tem passagem pela polícia, o que pode caracterizar roubo qualificado em vez de extorsão.

Violência

Em horário de serviço e usando a viatura da corporação, dois milicianos fardados e um em traje civil invadiram a casa do empresário proferindo ameaças de morte a ele e à família, caso não entregasse o dinheiro.

Sem poder reagir, ele entregou a quantia da venda do terreno e ainda um pouco mais, no total de R$ 8.100, além de objetos da residência. Depois disso, foi levado até um local ermo e novamente ameaçado caso denunciasse a violência.

Coagido e acuado, o empresário ficou em silêncio até ter sua casa novamente invadida, nos dias 24 e na madrugada de 25 para 26. No dia 24, outra vez mediante ameaça, a vítima entregou mais R$ 800 a uma equipe de São José dos Pinhais.

No dia seguinte, quatro homens em trajes civis, que se identificaram como PMs, voltaram à residência em dois veículos particulares e levaram o televisor e o computador.

Não suportando mais as ameaças, o empresário criou coragem e decidiu acionar a Polícia Militar, oficializando a denúncia na sede do 17.º BPM. Agentes do serviço de inteligência realizaram diligências que confirmaram a denúncia. “Tínhamos que tomar providências imediatas para garantir a segurança da vítima”, explicou o tenente-coronel.

Os mandados de prisão preventiva foram expedidos pela Justiça Militar Estadual após solicitação do comandante. Foi instaurado o inquérito policial militar que poderá acarretar na expulsão dos PMs da corporação.

“Não temos provas materiais, mas indícios e provas circunstanciais que indicam a autoria”, afirmou Tortato. O prazo para conclusão do inquérito é de 20 dias, quando será então remetido à apreciação da Junta Militar Estadual. “Não mediremos esforços no sentido de corrigir eventuais desvios de conduta ou qualquer tipo de ofensa aos princípios e valores que regem a Polícia Militar”, garantiu o comandante.

O oficial explicou que o empresário não foi incluído no programa de proteção à vítimas por ser muito “oneroso” e informou que o empresário está sendo orientado para evitar possíveis represálias.