Instituto de Criminalística também está sucateado

O abandono das autoridades e a falta de investimento em equipamentos e funcionários não são “privilégios” apenas do Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba.

Se o necrotério está sucateado e em condições caóticas de funcionamento, conforme foi mostrado com exclusividade pelo Paraná Online,na edição de ontem, no Instituto de Criminalística (IC) – órgão situado ao lado do IML, na Rua Visconde de Guarapuava, centro – a realidade é quase a mesma.

A diferença é que ao invés de corpos, as pilhas são de revólveres, pistolas, espingardas e até fuzis. Pelo menos 5 mil armas entopem uma das salas do órgão, à espera de perícia, e parte delas está lá há quase dez anos.

Aliocha Maurício
Perita Joice alerta para a falta de pessoal e outras deficiências.

A chefe da divisão técnica da capital, Joice Malakoski, confirmou que o IC sofre com falta de pessoal. “É a nossa maior deficiência. Ficamos cerca de 15 anos sem concurso e, apesar do ingresso de novos peritos, em 2009, ainda sofremos com o número reduzido de profissionais”, declarou.

Hoje, o órgão conta com 172 peritos e cerca de 45 auxiliares no Paraná, sendo que o ideal, para Joice, seria em torno de 400 peritos e 100 auxiliares. “Ao longo dos anos, os materiais para exames foram se acumulando devido à falta de profissionais”, acrescentou.

Capital

O problema recai, principalmente, sobre a Capital, onde está o único laboratório capaz de realizar a maioria dos exames, como o de balística, por exemplo. Uma arma apreendida em Foz do Iguaçu, que necessite de confronto balístico, tem que ser periciada em Curitiba, onde há somente 12 profissionais para esse trabalho.

O resultado é o acúmulo de armas armazenadas no instituto, que já passam de 5 mil. “É um número grande em termos processuais, que causa morosidade no andamento das investigações. Algumas armas estão aqui há quase 10 anos, já deveriam ter sido periciadas e entregues às autoridades responsáveis”, afirmou Joice.

Outra preocupação da perita é com relação à segurança dos funcionários, devido à presença de um verdadeiro arsenal dentro do Instituto. A apreensão se justifica pela facilidade com que as pessoas acessam o pátio do órgão.

“Já solicitamos o aumento da segurança na seção à Secretaria de Segurança Pública”, ressaltou. Uma solução apontada por Joice seria a descentralização do laboratório de Curitiba, que permitiria que as perícias também fossem realizadas em outras cidades, reduzindo a carga de exames na capital.

Trabalho tem bastante

Da mesma forma que o IML, o Instituto de Criminalística deveria, em função de sua importância, receber atenção especial das autoridades. O órgão é responsável pelas perícias dos materiais relacionados a crimes. “Uma assinatura falsificada na venda de um imóvel, por exemplo, será confirmada ou não por meio de um exame pericial. Nos crimes sexuais, o trabalho da perícia também é fundamental porque o exame de DNA é prova irrefutável que define se foi o suspeito ou não quem praticou a violência. Além disso, há os confrontos balísticos, os exames de fonética, informática e outras áreas”, descreveu Joice.

“Normalmente o inquérito tem uma prova material a ser cumprida”, concluiu. Os peritos também atuam em casos de acidentes de trânsito, arrombamentos, incêndios, e,xplosões, desabamentos e uma infinidade de outras ocorrências.

Colaboração
Armas que precisam ser examinadas ficam nas prateleiras.