Síndrome do pânico e suas consequências

Os transtornos mentais deixam suas marcas diariamente no comportamento das pessoas. Seja na hora de lidar com amigos e familiares ou quando as usuais tarefas do trabalho tornam-se uma missão praticamente impossível.

“Estima-se que cerca de 30% da população tem ou terá algum distúrbio mental durante a vida, sendo que os mais frequentes são os transtornos de pânico e ansiedade”, revela o psiquiatra Roberto Canton.

“Os pacientes que sofrem de transtorno do pânico e ansiedade costumam ter medo de sentir medo”, descreve o médico. Assim, por receio de sofrerem uma nova crise, acabam evitando diversas situações e adotam uma vigilância exagerada sobre os sintomas da doença.

Na vida pessoal, o pânico pode interferir inclusive no comportamento sexual, pois o aumento da freqüência cardíaca pode trazer a impressão de perda de controle. Muitos pacientes desenvolvem também medo de multidões e acabam nem saindo de casa para não enfrentar um restaurante ou um shopping cheio de gente, por exemplo. Na vida profissional, o prejuízo também é grande e as perdas na capacidade produtiva são significativas.

Mais mulheres

Apesar da alta incidência, a doença só foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) recentemente. Antes, os sintomas muitas vezes eram associados às outras doenças e até chegar ao psiquiatra, o médico especializado para tratar o distúrbio, era comum que os pacientes “peregrinassem” por outros consultórios médicos sem ter o seu diagnóstico confirmado.

“Os sintomas do transtorno do pânico são muito intensos, acima do que poderia ser considerado o limite de ansiedade normal, poderíamos dizer até que esta é a manifestação do grau mais alto de ansiedade”, afirma a psicóloga Adriana de Araújo, especializada no tratamento de fobias.

Atualmente, com a maior divulgação dos sintomas da doença, médicos não especializados e pacientes estão mais familiarizados com os sintomas. Ainda assim, os transtornos do pânico demoram a ser diagnosticados corretamente.

O psiquiatra Osmar Ratzke comenta que o primeiro ataque de pânico costuma acontecer nos adultos jovens, entre 25 e 40 anos. Assim como em outras doenças psiquiátricas, como depressão, são as mulheres as mais atingidas pela doença. A proporção é de dois casos entre mulheres para um entre os homens.

Ratzke diz que, em geral, o pânico parece surgir do nada e pode ocorrer enquanto a pessoa pratica suas atividades normais, como dirigindo ou caminhando para o trabalho.

“A crise de pânico inicial se dá, geralmente, quando as pessoas se encontram em elevado nível de estresse, devido, por exemplo, ao excesso de trabalho ou mesmo à perda do emprego”, avalia.

Tratamentos

Em geral, segundo relato das pessoas acometidas pela síndrome, instala-se um tipo de “medo de sentir medo”, isto é, o medo de que a crise retorne a qualquer momento.

“A primeira crise nenhum paciente esquece”, observa o psiquiatra. Devido a um processo de associação, sempre que a pessoa se deparar com alguma coisa que lembre aquele primeiro processo pode remeter à situação das crises anteriores e funcionar como um “gatilho” para novas crises. “Pode ser no shopping, no engarrafamento ou mesmo em situações vividas em casa mesmo”, ressalta.

As crises também podem ocorrer após um acidente, cirurgia ou doença grave, além do uso de drogas e medicamentos estimulantes. O problema é quando os episódios de pânico se sucedem, afetando seriamente a qualidade de vida dessas pessoas.

“Nessas circunstâncias a tendência é o paciente se deixar confinar no ambiente familiar, evitando o convívio social e perdendo assim todo o contato com o mundo real”, observa Ratzke, salientando que a cura dificilmente se dá de forma espontânea.

Os especialistas recomendam o tratamento medicamentoso para combater as crises, visando, numa primeira fase, o restabelecimento do equilíbrio bioquímico do cérebro.

Numa segunda fase, pode se recorrer a um tipo de psicoterapia específica, denomina,do terapia cognitiva. O objetivo, nesses casos, é ajudar o paciente a enfrentar os seus próprios limites e as adversidades com que, com certeza, vai se deparar no decurso da vida.

O organismo sente

Estas alterações atingem, sobretudo a regulação da sudorese e o controle do sistema nervoso autônomo, principalmente ao nível dos sistemas cardiovascular, respiratório, gastrintestinal e urogenital.

*Sudorese – O paciente ansioso tem uma distribuição típica do suor: nas palmas das mãos, axilas e testa.
*Coração – O sintoma mais significativo é a taquicardia. Outros são as palpitações, pressão lata, vasoconstrição que provoca palidez.
*Pulmão – Há uma tendência a uma respiração superficial e rápida, geralmente entrecortada por suspiros freqüentes e sensação de sufoco.
*Sistema gastrintestinal – Falta de apetite, inapetência ou compulsão por comer, diminuição da secreção salivar, diarréias e obstipação.
*Bexiga – Há um aumento da frequência e da urgência miccional.
*Sexo – A ansiedade é responsável pela maior parte das disfunções sexuais de causa psicogênica.

Reconhecendo os sintomas

Pode-se dizer que uma pessoa tem um ataque de pânico se quatro ou mais dos seguintes sintomas se desenvolvem bruscamente:

*Palpitações
*Sudorese
*Tremores
*Sensação de falta de ar
*Dor ou desconforto torácico
*Náusea ou desconforto abdominal
*Sensação de tontura, vertigem ou desmaio
*Sensação de irrealidade ou de estar distanciado de si mesmo
*Medo de perder o controle ou de enlouquecer
*Medo de morrer
* Calafrios ou ondas de calor