Violência

Batalha contra o medo no comércio de Curitiba

Todos os dias um posto de combustível sofre com algum tipo de assalto em Curitiba. A falta de segurança faz com que menos de 50% desses estabelecimentos comerciais permaneçam abertos depois das 22h. A estimativa, do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis no Paraná (Sindicombustíveis-PR), é apenas um exemplo de como abordagens criminosas ao comércio da cidade são responsáveis pelo fechamento de locais que poderiam continuar abertos no período da noite.

Além de latrocínios, uma abordagem típica do que sofrem os postos de gasolina são os chamados “assaltos do crack”, de acordo com o presidente do Sindicombustíveis-PR, Roberto Fregonese. “São aqueles assaltos que levam de R$ 100 a R$ 200 do frentista e causam pânico no estabelecimento”, explica. Junto com os postos e lotéricas, outro ramo que tem sido alvo principal dos assaltantes são as farmácias. Nas últimas duas semanas, somente nos bairros Pinheirinho, Sítio Cercado, Bairro Novo e Boqueirão a polícia registrou 12 roubos a farmácias. Em toda a cidade, são mais de 70 assaltos a esse tipo de comércio.

Pequenos comerciantes de bairro também sofrem com os assaltos, à noite ou mesmo durante o dia. No bairro Boqueirão, nem a proximidade com o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) parece inibir a ação dos bandidos no local.

Semanas atrás foi a vez de a panificadora e lanchonete Thaliza, localizada na Rua Waldemar Loureiro Campos, sofrer um novo assalto, durante a noite, depois que os ladrões forçaram a porta de entrada do estabelecimento. “Como não tinha muito dinheiro no caixa, levaram produtos mesmo da panificadora, como bolachas e salgadinhos”, relata um dos atendentes.

Raquel é obrigada a trabalhar sempre com as portas fechadas.

Poucas quadras em frente, na mesma rua, a reportagem de O Estado encontrou o salão de beleza Raquel Cabeleireiras funcionando de portas fechadas. Foi a alternativa encontrada pela dona, Raquel Rasera, depois do assalto sofrido também há pouco tempo. “Próximo das 15h entraram dois menores de idade com armas aqui dentro. Agora, mesmo com o risco de perder novas clientes, vamos trabalhar passando a chave na porta de entrada para ter mais segurança”, afirma Raquel.

A constante troca de tiros numa invasão próxima dali, no final da Rua Professor José Nogueira dos Santos, e a sensação de insegurança são outras reclamações dos moradores. Mesmo com o 20.º Batalhão da Polícia Militar (PM) perto dali, comerciantes dizem não ver viaturas da polícia circulando pela região. “Quando ligamos para lá (PM) para pedir ajuda, eles alegam que não têm viatura para vir até o local ou demoram até mais de uma hora e meia para aparecer”, conta a dona do salão. Durante a tarde em que a reportagem de O Estado circulou pela região, também não cruzou com nenhuma viatura nas proximidades. “O Cope está aqui do lado, mas não é função deles atender esse tipo de ocorrência. Parece que nem a presença do Cope afugenta os bandidos”, completa a comerciante.

Parceria ajuda região central da cidade

Parceria entre a prefeitura de Curitiba e a Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio) busca atender o apelo por mais segurança para os comerciantes do centro da cidade, com a restauração do antigo Paço da Liberdade e do eixo das ruas Riachuelo e São Francisco. Instalar mais câmeras de segurança e baixar as luzes dos postes de energia estão entre as ações propostas. Um projeto que está na Câmara de Vereadores propõe a redução de IPTU para comerciantes que se dispuserem a revitalizar a fachada do prédio em que ocupam e pe,nalidades àqueles que estiverem com aparência de abandono. A expectativa é que, dentro de dois a quatro anos, a região tenha uma cara nova, segundo o diretor de planejamento da Fecomércio, Dieter Lengning. “É um enorme desafio, mas essa mudança beneficia os comércios estabelecidos no local, os proprietários dos imóveis, o turismo local”, avalia. “Já se notam mudanças e os próprios empresários da região tem demonstrado fantástica disposição em recuperar seus estabelecimentos e isso cria uma espiral positiva”, completa. De acordo com Lengning, a recuperação de centros antigos é um desafio enfrentado não só por Curitiba, mas por toda grande cidade, por conta da formação de bairros novos e iniciativas em crescimento, como grandes shoppings centers.

Sesp não divulga números

Números de assaltos e roubos a outros estabelecimentos comerciais não são divulgados pela Secretaria de Estado Segurança Pública (Sesp). Também por orientação da Sesp, policiais tampouco fornecem as informações. O tão divulgado projeto de geoprocessamento de dados do governo estadual, o Mapa do Crime, não divulga a atualização desses números desde o ano passado. Assim, não se tem informações oficiais de quantos são os homicídios, latrocínios, crimes contra a pessoa ou contra o patrimônio cometidos em nenhuma região do Paraná neste ano. A promessa da Sesp é que os dados referentes ao primeiro semestre deste ano sejam divulgados “em breve”.

O Mapa do Crime sempre foi anunciado pelo secretário da Sesp, Luiz Fernando Delazari, como uma das mais modernas ferramentas do País para controle e combate à criminalidade, gerando estatísticas que guiariam o trabalho policial. Por isso, o projeto deveria fornecer dados atualizados sobre estatísticas criminais do Paraná.

Recomendação é atenção

Aos comerciantes, a orientação é que se preste atenção em qualquer movimentação estranha, como aproximação de automóveis ou motos que cheguem com duas pessoas ou mais e que uma delas permaneça dentro do veículo ligado. A dica é do tenente Wagner de Araújo, comandante do 20.º Batalhão de Polícia Militar, do Boqueirão, que atende uma população de quase 100 mil habitantes. Segundo o tenente, há uma viatura que faz a cobertura de toda a da área do Boqueirão. “A recomendação é sempre chamar a viatura ao local para que se possa fazer a abordagem necessária, e não reagir. Atitudes como a do comerciante que atingiu o assaltante com um tiro de espingarda calibre 12, há três semanas, nós não aconselhamos”, diz. Na região, muitas apreensões são feitas ao longo do eixo de comércio distribuído na Avenida Marechal Floriano Peixoto. Em caso de necessidade, o comerciante deve telefonar para o celular do Projeto Povo de sua região disponibilizado pela Polícia Militar ou ligar para o 190.