Perigo

Ônibus de linha na mira de criminosos contrabandistas

Quem costuma viajar de ônibus pelas rodovias do Paraná corre o risco de estar dividindo um veículo com criminosos. Além de simplesmente usar os veículos para passeio, eles também o utilizam para transportar produtos ilícitos na bagagem. Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Federal (PF), os criminosos transportam de tudo – desde mercadorias de bazar e eletroeletrônicos, até drogas (maconha e crack são as mais comuns) e medicamentos ilegais. Dessa forma, a realização de blitze por parte das polícias em ônibus nas rodovias é de praxe e, por mais que os agentes estejam à procura de contrabando, o cidadão de bem que apenas viaja acaba exposto a esse tipo de ação.

Todo esse quadro leva a uma indagação: até onde o turista tem segurança ao se deparar com uma situação de abordagem policial do ônibus? Para os policiais, as pessoas não correm risco algum, como por exemplo ficar exposto a uma troca de tiros. “Até porque os contrabandistas não querem chamar a atenção, dificilmente alguém vai entrar armado em um ônibus”, disse o inspetor da PRF, Fabiano Moreno.

Segundo ele, outra evidência de que o passageiro comum não corre perigo é que além do contraventor procurar se manter ao máximo no anonimato, há também o fato de que as mercadorias ilícitas carregadas não chamam a atenção. “Eles optam por coisas que ocupam pouco espaço, justamente para não chamar a atenção. No momento da abordagem policial, a pessoa suspeita é retirada do ônibus. Toda nossa ação é feita no sentido de preservar a segurança do restante dos passageiros”, reiterou Moreno.

Outro problema que pode ocorrer para um passageiro que não age na ilegalidade é o fato de que o ônibus pode ser apreendido com todos os ocupantes até que se encontre o responsável por determinada mercadoria. As empresas de ônibus devem identificar as bagagens, mas pode acontecer de um passageiro entrar com uma mala de mão, por exemplo, e isso passar despercebido.

O responsável pelo Núcleo de Policiamento da PRF em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná – uma das regiões mais visadas pelos contrabandistas – Ricardo Schneider, compartilha da opinião de Moreno com relação à segurança do restante dos ocupantes do veículo. Para ele, uma das garantias para que o passageiro não seja colocado em situações inesperadas é a identificação das bagagens. “Uma das reclamações das empresas é justamente não poder averiguar o que há na mala dos passageiros. Porém, na rodoviária já há o controle do excesso de bagagem e a identificação da mesma”, comentou.

O chefe do Núcleo de Comunicação da PF em Foz, Nasser Sati, recomenda aos turistas que, além de identificarem suas bagagens, as lacrem também, para evitar inconvenientes. “E nunca deve-se levar bagagem de outra pessoa, pois você pode estar correndo o risco de carregar coisas ilícitas sem saber e ainda acabar preso por isso”, lembrou. Sati compartilha da opinião dos outros policiais. “Não há risco para o passageiro, pois é difícil uma pessoa que esteja levando produto ilícito porte uma arma. O que pode ocorrer é ele não identificar sua bagagem. No caso dos ônibus fretados, é importante que as empresas saibam o que estão levando”, disse.

Pouco controle de bagagens

Apesar das polícias garantirem que o passageiro comum – que utiliza o veículo para passeio – não corre riscos ao dividir o ônibus com um contraventor, quem representa as empresas de ônibus diz o contrário. Afinal, as rodoviárias não têm dispositivos de segurança para controlar a bagagem dos passageiros, tampouco as empresas podem fazê-lo ou mesmo ter acesso à ficha de ‰todas as pessoas que compram passagens. Dessa forma, o perigo pode ser pensado como iminente para o cidadão de bem que viaja de ônibus.

A,s empresas dizem que uma das únicas maneiras de controlar a bagagem do passageiro é com a identificação, ou seja, cada pessoa é responsável pelo material que leva na mala. Na opinião do diretor do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário Intermunicipal de Passageiros do Estado do Paraná (Rodopar), Thadeu Castello Branco e Silva, os terminais rodoviários é que deveriam ter mais condições de fazer este controle.

“Hoje os riscos são enormes por conta da falta de um dispositivo nas rodoviárias. Os terminais não estão adequados para receber passageiros do ponto de vista da segurança. Já discutimos muito isso, mas as prefeituras não conseguem entender que as rodoviárias são importantes para elas”, observou Silva.

Segundo informações da assessoria da Urbs e da Rodoferroviária de Curitiba, as câmeras de segurança que estão sendo instaladas no local têm como objetivo minimizar os atos ilícitos no terminal. Até agora foram colocados seis equipamentos, mas a meta da URBS é instalar 30. (MA)

Problemas de segurança

Os ônibus clandestinos são outro grande problema de segurança para os passageiros de ônibus de viagens, apontado pelo Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário Intermunicipal de Passageiros do Estado do Paraná (Rodopar). O diretor do Rodopar, Thadeu Castello Branco e Silva, chama a atenção para esses ônibus que, segundo ele, são os que mais causam acidentes. “São precários e os motoristas não têm treinamento.

Os clandestinos e a falta de fiscalização nas rodoviárias são os calcanhares-de- aquiles da área hoje. O usuário tem que se negar a entrar nesse tipo de veículo”, afirmou. A fiscalização das condições dos ônibus estaduais é realizada pelo Departamento de Estradas e Rodagem (DER). Já os interestaduais são fiscalizados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Somente este ano, o DER emitiu aproximadamente 640 autos de infração no Estado. Os motivos são os mais variados: desde a falta de condições mecânicas para operação ou simplesmente um banco rasgado, até a falta de documentação necessária, que pode levar à constatação da clandestinidade. Como explica o coordenador de Transporte Comercial do DER-PR, Sérgio Bonatto, ainda é muito comum flagrar veículos clandestinos em circulação. “Alguns não têm o registro no DER mas têm boas condições mecânicas, outros não têm condições de rodar mas esquecem do registro, enfim, encontramos de tudo”, comentou.

Ele orienta os usuários a utilizarem somente ônibus de empresas registradas no DER (no site do órgão há uma listagem). A reportagem de O Estado entrou em contato com a ANTT, mas nenhum entrevistado foi disponibilizado pelo órgão. Porém, a assessoria lembrou alguns direitos do usuário, como por exemplo: as empresas são obrigadas a oferecer o cinto de segurança e a localização das saídas de emergência do veículo; não podem transportar passageiros em número superior à lotação autorizada no veículo e não podem transportar
ou permitir o transporte de produtos perigosos. (MA)

PRF já realizou muitas apreensões na região de Foz

Para se ter uma ideia da frequência com que as polícias realizam apreensões em ônibus de viagens no Paraná, somente na BR-277, na região de Foz do Iguaçu, no oeste do Estado – local onde mais se encontra mercadorias ilícitas por conta da proximidade com o Paraguai – a PRF flagrou este ano 17 pessoas com drogas e outras três com remédios em ônibus de viagem. Em todo o ano passado, a PRF regional prendeu 48 pessoas que portavam drogas em ônibus e outras 17, com medicamentos.

Mas o que chama a atenção é a quantidade de gente pega com mercadorias em geral, a chamada muamba: 137 em todo o ano passado e 156 só nos primeiros cinco meses deste ano. Em 2008, a PRF em Foz apreendeu 88 ônibus. Em todo o Estado a PRF fez perto de 20 abordagens este ano em ônibus de viagem. E, por mais que as polícias apertem o cerco, os criminosos sempre têm uma maneira de burlar a fiscalização. “Você pode tenta,r inibir o contrabando de todo jeito, unindo todas as forças. Mas eles sempre mudam a maneira de operar”, comentou o responsável pelo Núcleo de Policiamento da PRF em Foz do Iguaçu, Ricardo Schneider.