Atrás da “caixa-preta” do Passat de Carli Filho

Para tentar desvendar em que velocidade o veículo Passat alemão do deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho (PSB) estava na noite em que se envolveu no acidente que matou duas pessoas no Mossunguê, em Curitiba, a polícia e o Ministério Público Estadual (MPE) já solicitaram à Volkswagem – fabricante do carro do parlamentar – informações para saber se o carro teria algum tipo de banco de memória, uma espécie de “caixa-preta” automobilística, ou ainda algum dispositivo que pudesse controlar o sistema de freios ABS. Enquanto isso, a perícia no carro, que é feita pelo Instituto de Criminalística do Paraná, ainda não foi concluída.

Há outras perguntas que a polícia e o MP ainda não conseguiram responder no inquérito que trata do acidente. Uma delas é por que os radares do trajeto possível que o deputado fez não flagraram seu Passat alemão na noite dos fatos, 7 de maio.

Uma das hipóteses pouco prováveis é que Carli Filho tenha feito algum outro trajeto naquela noite, uma incógnita que ainda precisa ser investigada. Ontem, a polícia deu continuidade à oitiva de testemunhas ouvindo os socorristas do Siate que atenderam o deputado e também o manobrista do estacionamento em que o amigo de Carli Filho havia deixado seu carro.

Os socorristas comentaram sobre o “hálito etílico” que foi constatado no relatório de atendimento, e o manobrista falou sobre a embriaguez do parlamentar, já confirmada por outras testemunhas.

O Instituto Médico-Legal (IML) também entregou ontem à polícia o laudo do exame toxicológico, feito em duas amostras do sangue do deputado colhido pelo Hospital Evangélico.

Nenhuma das amostras apresentou vestígios de cocaína, ecstasy ou anfetamina. No laudo 5476/09, o perito José Escorsin Neto, da Seção de Análise Instrumental, informa em observação que as amostras de sangue não foram coletadas especificamente para a pesquisa toxicológica e sua manipulação para outros exames poderia interferir no resultado dessa análise.

“O resultado do exame do IML é 100% confiável. Entretanto, não podemos afirmar que as amostras de sangue foram manipuladas e acondicionadas da maneira específica para este exame, o que pode interferir no resultado”, explicou o interventor do IML, coronel Almir Porcides Júnior.

Expulsão

Carli Filho corre o risco de ser expulso de seu partido. Segundo o presidente estadual do PSB, Severino Araújo, o parlamentar tem até amanhã para apresentar sua defesa. No último dia 15, o PSB enviou uma notificação ao deputado para que ele a fizesse. Para Severino, as perspectivas não são nada boas.

“A situação está difícil para ele e o clima é favorável à expulsão”, comentou. O fato de o parlamentar ser expulso só se refere à desfiliação partidária, e não ao mandato. Sobre a possibilidade de quebra de decoro e cassação, quem vai julgar será a própria Assembleia Legislativa do Paraná, daqui a dois meses.