Investigação

Testemunhas complicam situação de Carli Filho

O promotor Rodrigo Chemim, do Ministério Público Estadual, que conduz o caso do deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho, afirmou que está documentada, por depoimento de testemunhas, a embriaguez do político no acidente da madrugada de 7 de maio.

Na colisão, Gilmar Rafael Souza Yared e Carlos Murilo de Almeida foram mortos. O promotor se baseia também no documento do Siate, divulgado ontem pelo Paraná-Online, que indica o “hálito etílico” do deputado no momento do socorro.

Segundo Chemim, o sangue coletado do parlamentar no dia do acidente existe, está preservado e agora o Instituto Médico-Legal (IML) deverá analisá-lo para verificar se há vestígios de bebidas alcoólicas ou outras substâncias.

Em entrevista à Rádio Banda B, o diretor do Hemobanco do Hospital Evangélico, Paulo Tadeu, disse que sempre que um paciente necessita de transfusão é coletada amostra de sangue, e esse foi o caso de Carli Filho. O sangue fica armazenado por 10 dias antes de ser descartado, mas até agora, segundo ele, nenhuma autoridade o solicitou para exames.

Velocidade

O promotor aguarda laudo do Instituto de Criminalística que comprove a alta velocidade do Passat alemão que Carli Filho dirigia naquela madrugada, o que já está demonstrado nos autos do processo.

“Uma testemunha disse que viu o veículo em alta velocidade, mas não posso precisar, ainda, qual a velocidade.” A análise deve ficar pronta no começo do mês que vem.

Chemim ainda vai solicitar à Urbs informações complementares sobre as imagens de radar. Ele explicou que uma câmera flagrou o Honda Fit entrando na rua, diminuindo a velocidade, e sendo atingido pelo Passat do deputado.

Filmagem das câmeras do restaurante onde Carli Filho teria jantado antes do acidente também serão analisadas pelo MP. Carli pode ser denunciado por homicídio culposo (sem consciência do risco) ou com dolo eventual (quando a pessoa assume o risco de matar).

Advogado suspeita de hospital

Mara Andrich e Nájia Furlan

Arquivo
Câmera registrou Honda Fit entrando na rua, devagar.

O advogado da família de Gilmar Rafael Souza Yared, Elias Mattar Assad, suspeita que o Hospital Evangélico tenha “mascarado boletins médicos” durante o tempo em que Carli Filho esteve internado. Assad disse que solicitou esses documentos ao Evangélico e afirmou também que há um documento do hospital que atesta o estado de embriaguez do político.

A reportagem tentou, durante toda a tarde de ontem, contato com o hospital, mas a assessoria de imprensa permaneceu incomunicável. O promotor Rodrigo Chemim deve começar a ouvir os funcionários do hospital hoje.

Laudos

Sobre a suspeita levantada por Assad, a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná (Fehospar) afirmou que confia nas informações do laudo médico do Hospital Evangélico.

Mesmo porque, segundo a assessoria de imprensa da Federação, a autonomia do hospital, em relação às informações contidas no laudo e no prontuário, é total, assim como a responsabilidade ética da equipe médica.

O presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Miguel Ibraim Sobrinho, explicou que se existe a suspeita o primeiro passo é que seja formalizada a denúncia, para que possa ser investigada em sindicância.

“Vomitando impunidade”

Mara Andrich e Nájia Furlan

O acidente em que se envolveu o deputado foi o assunto de discussão na Comissão de Se,gurança Pública e Defesa da Cidadania da Câmara de Vereadores de Curitiba. Os pais de Gilmar Yared estiveram presente, juntamente com Assad.

“Foi um banho de sangue, mas homens de Deus não se calam. Quem é que engole a história de que uma junta médica disse que ele estava em coma por tempo indeterminado quando funcionários do hospital me ligaram dizendo que ele estava bem, até brigando com uma enfermeira? Estamos vomitando impunidade”, afirmou indignada Cristiane, a mãe do rapaz. A comissão, presidida pelo vereador Roberto Aciolli, deve encaminhar um relatório sobre o caso às autoridades policiais, políticas e judiciárias, nos próximos dias.

Deputado

O Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde está internado o deputado, não divulgou boletim médico ontem. O último boletim dava conta que Ribas Carli encontrava-se respirando e se alimentando com ajuda de aparelhos. A família do deputado, bem como seus assessores, não se pronunciaram sobre o assunto até agora. Chemim informou que nenhum advogado de defesa se apresentou no MP ainda.

AL estuda cassação

Elizabete Castro

O presidente da Assembléia Legislativa, Nelson Justus (DEM), reúne na próxima segunda-feira o corregedor Luiz Accorsi (PSDB) e os integrantes da Comissão de Ética, presidida pelo deputado Pedro Ivo (PT), para decidir os procedimentos que serão adotados no pedido de cassação do mandato do deputado Carli Filho (PSB). A reunião também vai analisar o pedido de revogação dos dois meses de licença médica concedida ao deputado pela mesa executiva.

O cancelamento da licença foi requerido ontem pelo advogado Elias Mattar Assad, que representa os pais de Rafael Souza Yared. Alega que o afastamento do deputado deveria ter sido votado em plenário e que a licença pode impedir a tramitação do pedido de cassação, que protocolou anteontem. No pedido de cassação, o deputado é acusado de falta de decoro parlamentar, por dirigir com a carteira de motorista suspensa devido a infrações de trânsito.

Homenagem às vítimas

Giselle Ulbrich

Átila Alberti
Pais de Gilmar Yared emocionaram quem participou do culto.

O culto ecumênico realizado ontem à noite, em memória a Gilmar e Carlos, reuniu centenas de pessoas na Igreja do Evangelho Eterno, mais conhecida como “Igreja do Balão”, no Alto da XV. Ao redor da construção, faixas resumiam o desejo das famílias das vítimas: “190 km/h é crime”, “Queremos a verdade”, “Vida para os nossos jovens”.

Cristhiane Yared, mãe de Gilmar, disse que o culto celebrava os 26 anos vividos por seu filho. “Agora não temos uma causa só nossa, mas de uma sociedade inteira que está indignada”.

Já o tio, Jorge Yared, resumiu em uma frase a tônica de toda aquela manifestação: “Mais dolorido que a dor da perda de um ente querido, é a dor da injustiça”. Também assistiram ao culto a mãe e a irmã de Carlos. Várias pessoas discursaram, falando da boa índole dos rapazes. Por conta dos depoimentos, vários amigos das vítimas se retiraram chorando, da igreja lotada.