Três travestis mortos em dez dias em Curitiba

Mais um travesti foi assassinado, ontem, desta vez no centro, tornando-se o terceiro caso em dez dias na capital. Conhecida pelo nome de “Jenifer”, e identificada apenas como Rodrigo, a vítima levou um tiro nas costas, pouco antes da 1h, e morreu na calçada da Rua Visconde de Nácar, quase esquina com a Rua Saldanha Marinho.

Apesar do clima de apreensão entre os colegas das vítimas, a polícia acredita que não há vínculo entre os crimes que possa indicar algum tipo de perseguição a travestis.

Investigadores da Delegacia de Homicídios (DH) apuraram que “Jenifer” fazia ponto na região onde foi morta. O travesti era usuário de drogas e, ao que tudo indica, uma dívida com traficantes teria motivado o assassinato. Também surgiram comentários de que “Jenifer” costumava praticar furtos e roubos na região.

Testemunhas contaram à polícia que viram “Jenifer” descer a rua e, logo em seguida, escutaram três disparos. Um dos tiros acertou as costas da vítima, que tombou na calçada.

Dois veículos foram vistos deixando o local em alta velocidade – um Gol bola branco com película nos vidros e um Palio preto. Porém, até o momento, nenhum suspeito foi identificado pela polícia.

Onda

Dois travestis foram assassinados nos últimos dias, ambos próximo ao trevo do Atuba. Na segunda-feira da semana passada, Douglas Martins, a “Juliana”, 28, levou um tiro à queima-roupa na barriga, na Rua Javert Manfredini. Na última segunda-feira, Alexsander Botelho, a “Fernanda”, foi assassinada a poucas quadras dali, na margem da BR-476 (antiga BR-116).

O delegado Hamilton da Paz, da DH, afirmou que os três casos são investigados isoladamente e, até o momento, não há indícios de que possam estar relacionados. “Já temos suspeitas do que pode ter motivado cada um dos crimes.”

De acordo com o delegado, “Juliana” foi apontada, por outros travestis, como assaltante. “Ela costumava roubar até de seus clientes”, ressaltou. Por conta disso, a suspeita é que o assassinato de “Juliana” tenha relação com esses roubos. “Os outros travestis teriam envolvimento com drogas e as primeiras notícias são que ‘Jenifer’ devia para traficantes”, acrescentou Hamilton.

O delegado lembrou ainda que, pela vida que levam, os travestis ficam expostos à violência e tornam-se vítimas em potencial, já que se envolvem com pessoas, muitas vezes drogadas e bêbadas. Embora as autoridades policiais não acreditem em “extermínio de travestis”, Hamilton lembrou que nada está descartado.

Apoio às investigações

Janaina Monteiro

De acordo com Marcio Marins, coordenador do Centro de Referência João Antônio Mascarenhas – um serviço do Cepac (Centro Paranaense de Cidadania) que presta atendimento social, psicológico e jurídico gratuito a homossexuais e travestis vítimas de violência e discriminação – 30 travestis foram assassinados nos últimos três anos em Curitiba e região metropolitana. Os dados, segundo ele, são da Secretaria da Segurança Pública. “Nenhum inquérito foi transformado em processo criminal”, reclamou.

Marcio disse que quem tiver alguma pista sobre os crimes pode entrar em contato com os investigadores Emir e Tadeu, da DH, pelo telefone 3363-1518. Assim como a polícia, Marcio acredita que as três últimas mortes não têm relação. “Não dá para associá-las com qualquer tipo de grupo homofóbico, como os skinheads. Estamos acompanhado todos os casos.”

Serviço:

Centro de Referência João Antônio Mascarenhas. Telefone (41) 3222-3999, ramal 23.