Dor no enterro das duas vítimas do acidente com brinquedos

Emoção e dor marcaram os velórios de Amanda Oliveira Vieira, 8 anos, e Luís Eduardo Weiber da Silva, 5, que morreram no acidente com brinquedos infláveis, no início da tarde de domingo. Ontem, mais de 500 pessoas compareceram ao sepultamento das duas vítimas fatais no Cemitério Jardim da Saudade. O do garotinho ocorreu às 15h e o da menina, às 16h30.

As crianças estavam na festa de confraternização de empregados da empresa Siemens, na Cidade Industrial, quando um dos brinquedos, o castelinho pula-pula, decolou a uma altura de 10 metros e crianças despencaram. Ficaram feridas 35 pessoas. Nove precisaram ser levadas a hospitais. Somente duas permanecem internadas. Aline Pires dos Santos, 9 anos, e Maria Mogolin, 83 anos, não correm risco de morte, de acordo com informações do Hospital do Trabalhador. Aline, que sofreu ferimentos no braço e na barriga, deve receber alta hoje.

Dor

O sargento do Exército Luís Fernando da Silva estava muito emocionado durante o velório. Ele lembrou que casou com Rosleima em 1990, mas o filho do casal só nasceu em 2001. ?Foi planejado. Tivemos nosso filho por opção. Quando ele nasceu, tínhamos toda a estrutura. Nós sempre demos para ele do bom e do melhor. Trabalhávamos para ele. Investimos nossos sonhos nele?, contou. ?Foi uma fatalidade. Menos de cinco minutos e meu filho teve a vida ceifada. Voou como se fosse um balão.?

Apesar da dor, Luís Fernando aproveitou para aconselhar outros pais. ?Cuidem de seus filhos. Por mais que pareça um brinquedo ingênuo, observem a segurança?, reforçou. ?A cena que tenho é do meu filho voando. Não desejo isso para pai nenhum. Meu filho teve multitraumatismo.?

Atropelada

Mal tinha terminado o sepultamento de Luís Eduardo e o corpo da garotinha Amanda, chegou ao cemitério. Muitos amigos e parentes estavam presentes. A mãe Neusa e o pai Adir foram amparados pelos amigos, mas preferiram não falar sobre o assunto. Neusa é funcionária da Siemens. A tia de Amanda, Cleide, desmaiou durante o sepultamento e teve que ser retirada do local.

Segundo amigos da família, há um mês, Amanda foi atropelada por uma motocicleta e jogada dentro de uma valeta. A menina foi socorrida e apesar do choque não sofreu nenhuma fratura. ?Saiu ilesa de um atropelamento e agora morreu por causa de um brinquedo?, comentou um amigo da família, que prefere não se identificar.

Brinquedos seriam novos

O delegado Carlos Alberto Castanheiro, titular do 3.º Distrito Policial (Mercês), que preside o inquérito sobre o acidente, passou a tarde de ontem na Secretaria da Segurança Pública em conversa com o secretário Luiz Fernando Delazari.

Pela manhã, ele interrogou os sócios da empresa Casquinha Eventos, responsável pelos brinquedos, e outras três pessoas prestaram depoimento. Em seus interrogatórios, os sócios da empresa de brinquedos alegaram que os equipamentos eram novos. ?Pedimos urgência na conclusão dos laudos. O resultado deve sair entre 10 e 15 dias?, disse o delegado. Além do exame do local, o delegado aguarda a necropsia realizada nas duas crianças no Instituto Médico Legal (IML). Castanheiro informou que nos próximos dias as vítimas que foram internadas devem ser ouvidas.

Empresa garante que foi ?vento encanado?

Patricia Cavallari

A empresa Casquinha Eventos, que locou os brinquedos infláveis à Siemens, garante que o acidente foi causado por vento encanado, espécie de redemoinho. Segundo o sócio-gerente Ocimar Rodrigues, que estava na festa monitorando os brinquedos, não há possibilidade de eles terem explodido.

Há oito anos no mercado, a Casquinha realizou diversos eventos como o da Siemens, para empresas de grande porte e, segundo Ocimar, nunca houve qualquer acidente semelhante. ?Certamente foi o vento, pois seria impossível explodir dois brinquedos ao mesmo tempo. Além disso, a tragédia poderia ter sido ainda maior. Cinco minutos antes do acidente, desmontamos o escorregador inflável porque o sol o deixou quente. Se ele estivesse montado, também seria levado pelo vento?, disse.

Soltos

O touro mecânico, que foi arremessado contra uma parede, pesava 300 quilos. Nem ele nem o castelinho inflável -uma espécie de cama elástica, estavam amarrados ao solo. Entretanto, essa não é uma regra para o funcionamento dos brinquedos. O que ocorre é que não há uma norma técnica para eles registrada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), logo não há como exigir essa medida dos proprietários. Em nota enviada à imprensa, a Casquinha Eventos afirma que ?se colocou à disposição das autoridades competentes para que as causas do acidente sejam devidamente apuradas. Mais uma vez, a Casquinha Eventos lamenta profundamente o ocorrido e reitera sua disposição de colaborar ininterruptamente para o esclarecimento dessa fatalidade?.

Vento

De acordo com o Instituto Tecnológico Simepar, no horário do acidente não houve registro de vento forte em Curitiba. Entretanto, o meteorologista Lizandro Jacobsen afirma que há possibilidade de ter ocorrido uma rajada de vento isolada, o que não é registrado pelo instituto. ?Não podemos emitir qualquer opinião quanto ao quesito vento, neste acidente. Tanto pode ter ocorrido como não. Cabe à perícia dizer o que realmente aconteceu?, comentou o meteorologista.

Faltam regras para uso de infláveis

De acordo com a assistente de projeto da ONG Criança Segura, Cristiane Carvalho, por não haver regras técnicas para o uso de brinquedos infláveis, não é possível julgar as condições em que eles estavam instalados na festa. Entretanto, ela afirma que estudo feito nos Estados Unidos revela que o número de acidentes em camas elásticas, como o castelinho pula-pula, aumentou em 100% entre 2000 e 2005. ?A maioria dos acidentes em parquinhos está nas quedas e no choque entre as crianças que brincam juntas. Quando a criança cai de uma altura de 1,5 metro, aumenta em quatro vezes o risco de lesão?, diz Cristiane.

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