Cai a cúpula do Instituto de Criminalística

O diretor-geral do Instituto de Criminalística do Paraná, Ari Ferreira Fontana, e o chefe da Divisão Técnica do Interior Geraldo Gonçalves de Oliveira Filho foram presos, em Curitiba, no início da manhã de ontem em ação conjunta entre a Promotoria de Investigação Criminal (PIC) de Cascavel e a Secretaria de Segurança Pública. Simultaneamente, foram presos, em Cascavel, os peritos criminais Jayme Cazarote Júnior (chefe do Instituto de Criminalística em Cascavel), Osvaldo Panissa e Décio Mitmann.

Em Guarapuava, foi presa a estagiária da Seção Técnica do Instituto de Criminalística, Maria do Rócio Martins Ribeiro. Em Manfrinópolis, o médico Mitsuo Inafuko foi preso em flagrante por porte ilegal de arma. Ele é acusado de ser perito "fantasma" no Instituto de Criminalística de Cascavel. O ex-chefe da Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) de Cascavel Josmar dos Santos está foragido.

Falsidade

As prisões são resultantes de investigações iniciada em 2003, em Cascavel. Todos são acusados de integrar uma quadrilha que realizava perícias falsas ou desnecessárias em veículos, com o objetivo de extorquir dinheiro de vítimas. Ao grupo ainda é atribuído o crime de "esquentar" carros roubados ou furtados com chassi adulterado. Eles foram indicados pelos crimes de concussão, corrupção passiva, falsa perícia, peculato, prevaricação e formação de quadrilha.

O trabalho dos promotores e policiais iniciou antes das 8h. Enquanto uma equipe cumpria os mandados de prisão temporária, outra foi até o Instituto de Criminalística da cidade, munida com mandado de busca e apreensão, e recolhia inúmeros documentos e computadores. As apreensões foram realizadas nos departamentos técnicos do Instituto de Cascavel e Guarapuava. Além de documentos, foram apreendidos armas, objetos e uma viatura da Polícia Científica em situação irregular.

Perícias esquentavam carros irregulares

As investigações realizadas pela Promotoria de Investigação Criminal de Cascavel (PIC), com o apoio da Secretaria da Segurança Pública, apuraram que Fontana e Oliveira Filho coordenavam o esquema que visava extorquir dinheiro de pessoas que necessitavam de perícias, tanto as relacionadas a crimes ou acidentes, como as utilizadas para transferência de propriedade de veículos. Segundo as investigações, o esquema era concentrado em Cascavel e Guarapuava.

De acordo com a acusação, o ex-chefe da Ciretran de Cascavel Josmar dos Santos seria a pessoa responsável por escolher as "vítimas", que seriam extorquidas, através de perícias desnecessárias. Isto ocorria quando alguém procurava o Ciretran para fazer a transferência do veículo e era informado por Josmar que seria necessário o automóvel ficar recolhido para perícia. Após as 18h um dos três peritos criminais presos, em Cascavel, se dirigia ao local para efetuar a perícia. Pelo "serviço-extra", eles costumavam cobrar 10% do valor de mercado do veículo para emitir o laudo. Ainda de acordo com a acusação, a quadrilha também cobrava para "esquentar", com laudos periciais, carros e caminhões com chassis adulterados, com indícios de furtos e roubos.

Guarapuava

O esquema seria semelhante em Guarapuava. Segundo as acusações, a estagiária Maria do Rócio Martins Ribeiro trabalhava ilegalmente no local, na função de secretária. Ela é apontada como coordenadora e controladora das perícias e ainda de "arrumar" pessoas para serem extorquidas pelo grupo. Segundo as investigações Maria do Rocio escolhia as perícias mais lucrativas. Depois, entrava em contato diretamente com Ari Fontana, que determinava o perito que iria executar o serviço. Segundo a PIC de Cascavel, a mulher não é funcionário do Estado e nem recebia nenhum tipo de gratificação formal.

Não param de aparecer vítimas

Em entrevista coletiva, no fim da tarde de ontem, os quatro promotores que participaram das investigações sobre o Instituto de Criminalística de Cascavel não descartaram a hipótese de ocorrerem prisões de outras pessoas envolvidas com a quadrilha.

Os promotores Fernanda Garcez, Vera Moraes, Ângelo Ferreira e Ronaldo Costa Braga contaram que as investigações começaram há dois anos, após receberem uma série de cartas anônimas acusando os peritos de praticarem fraudes. Eles informaram que, no decorrer das investigações, identificaram várias vítimas e, após a notícia das prisões, outras pessoas entraram em contato para denunciar o esquema, se propondo a prestar depoimentos contra os acusados.

Na entrevista, os promotores não falaram sobre o teor dos interrogatórios dos peritos Jayme Cazarote Júnior, Osvaldo Panissa e Décio Mitmann, que ocorreram na tarde de ontem em Cascavel. Eles avisaram que na sexta-feira devem falar mais detalhes sobre as investigações.

Diretor-geral era conceituado

Ari Ferreira Fontana, 63 anos, foi empossado diretor-geral do Instituto de Criminalística do Paraná no dia 8 de dezembro de 2003. Anteriormente, havia chefiado as seções de Acidentes de Trânsito, Locais de Crimes Contra a Pessoa, Grafotécnica e Contabilidade, Identificação Pericial e Judiciária e da Divisão Técnica da Capital.

Em sua carreira como perito criminal e acadêmica recebeu diversas condecorações. Fontana também é sócio-fundador da Associação Brasileira de Criminalística e da Associação Criminalística do estado do Paraná. Além de membro efetivo da Associação Latino-americana de Criminalística.

Intervenção determinada

O secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari anunciou ontem a intervenção administrativa na Direção Geral do Instituto de Criminalísitca do Paraná e nas seções técnicas de Guarapuava, Cascavel e Francisco Beltrão. Delazari também determinou a abertura de procedimentos administrativos contra os acusados que foram presos na operação.

Ele disse que, além das denúncias apuradas na investigação da Promotoria de Investigação Criminal (PIC), de Cascavel, também serão investigadas outras irregularidades, como a emissão de diárias frias que seriam emitidas com o conhecimento do diretor-geral do Instituto. "Temos denúncias e sérios indícios de que foi desviado dinheiro do Instituto. Isso será apurado com muito rigor tanto para punir os responsáveis como para servir de exemplo e valorizar o trabalho dos peritos honestos", declarou Delazari.

Defesa se prepara para agir

O advogado Cláudio Dalledone informou ontem que está analisando o decreto de prisão temporária de seus clientes Ari Ferreira Fontana e Geraldo Gonçalves de Oliveira Filho. "Apesar de não poder me manifestar, porque o inquérito está em segredo de Justiça, antecipo que é um decreto frágil e não vai resistir ao menor contraditório", adiantou o advogado.

Dalledone contou que seus clientes foram convocados para serem ouvidos na Secretaria de Segurança Pública. "A meu ver querem execrar meus clientes com fins de dividendos políticos, já que a Secretaria não tem fins de execução policial", explicou o defensor. Ele disse que Fontana e Geraldo serão ouvidos hoje na Promotoria de Investigação Criminal (PIC) de Curitiba.

Médico fantasma

Não havia pedido de prisão temporária contra o médico Edson Mitsuo Inafuko, acusado de ser perito criminal fantasma. Ele foi preso porque, no momento em que seria notificado para prestar depoimento no Ministério Público, portava uma arma ilegalmente.

Inafuko é médico concursado pela prefeitura de Francisco Beltrão, onde cumpre expediente diariamente e plantões nos finais de semana. Porém, também é contratado do Estado e está lotado no Instituto de Criminalística de Cascavel.

Segundo investigações do Ministério Público, o médico era contratado com gratificação por tempo integral e dedicação exclusiva, mas não cumpria expediente. Segundo as investigações do MP, o médico repassava parte de seu salário para os peritos de Cascavel.

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