?A dança é mais a pessoa que o bailarino?, dia Sofia Neuparth

A bailarina e pesquisadora portuguesa Sofia Neuparth faz parte de um dos mais avançados centros de dança do mundo, o CEM, de Portugal, que ajudou a criar. Em Curitiba até o dia 16 de março para workshops na Casa Hoffmann, Sofia traz à cidade algumas das idéias que deram notabilidade ao CEM. ?A dança é mais a pessoa que o bailarino?, afirma Sofia, que falou também sobre as primeiras experiências como bailarina, aulas para comunidades carentes de Portugal, dança na atualidade e sobre sua vinda a Curitiba.
 
Você dá aulas há 25 anos. O processo é muito diferente hoje do que no início?
Desde aquela época, eu já sentia que dança não era só técnica, precisava ir além e perceber os movimentos do corpo para usá-lo em relação ao outro corpo e à vida, ativamente. Ao longo dos anos, descobri que muitas pessoas formadas em dança têm menos ?elasticidade mental? que as pessoas que a usam de outras formas.
 
Qual o espaço da dança no desenvolvimento cultural?
As pessoas que trabalham com a dança são elos fundamentais para o processo de desenvolvimento do ser humano. É preciso pensar o bailarino como pessoa antes de entendê-lo como um profissional do movimento. Se a dança já trabalha a sensibilidade da presença e a potencialidade da existência, é natural que esse estado de atenção nos permita ser cada vez mais atuantes de uma forma global em todos os níveis. No início da década de 90, na Holanda, percebi que o trabalho que eu estava elaborando e desenvolvendo também fazia parte de conceitos de outros profissionais e pesquisadores em dança de diversos lugares do mundo. A partir disso, dediquei-me inteiramente a esse conceito de dança em que arte é ferramenta para desenvolver a cultura de uma forma abrangente e do corpo como um lugar para desenvolver a dança.
 
Qual o papel do artista neste contexto?
Estabelecemos uma ligação entre a ciência e a arte assim como a dança com o social. Minha experiência com as comunidades carentes revelou a qualidade dos movimentos e percebi que não fazia nada além do que ampliar a capacidade desses movimentos nas pessoas. O artista é um revolucionário eterno, mesmo que tentem enquadrá-lo em conceitos formatados. É preciso mexer com as águas.
 
O que você está trazendo a Curitiba?
A criação, minha característica mais pertinente. Minha experiência aqui em Curitiba é única, muito especial. Nunca trabalhei com um grupo integrado culturalmente num país tão distante. Na Europa trabalho com pessoas de diversos lugares do mundo, porém, numa dinâmica multicultural. Não crio expectativas em relação às oficinas e o reflexo disso no grupo, mas sei que venho aqui também para aprender.

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