O Espaço Cultural BRDE, conhecido historicamente por Palacete dos Leões, casarão centenário com portas e janelas entalhados em pau-brasil, construído com requinte no auge do ciclo da erva-mate, abre suas portas na próxima terça-feira, dia 21 de junho. Seus primeiros visitantes são o pintor paranaense Jair Mendes e seus convidados para a abertura de sua exposição de pinturas inéditas. O casamento é perfeito: o pintor contemporâneo que utiliza cores vibrantes para retratar um ser humano múltiplo, onde não faltam religiosos, pecadores, homens e mulheres do povo, exibe sua obra nos salões elegantes do antigo palacete que virou história.
Construído pelo engenheiro Cândido de Abreu no início do século passado, o casarão serviu de moradia para a família Leão, prósperos ervateiros, até hoje detentores de uma das mais tradicionais marcas de chá do Brasil, com forte presença no comércio externo. Os dois acontecimentos simultâneos representam para Curitiba uma nova fase na sua vida cultural. O dia do surgimento de um novo espaço para a Cultura e as Artes, aliado à volta de Jair Mendes, que não expunha em Curitiba há 12 anos, deve ser considerada uma data expressiva no calendário da Cidade.
O artista e seu testemunho
Pintor, desenhista e gravador, Jair Mendes teve sua formação acadêmica na Escola de Música e Belas Artes do Paraná e Pontifícia Universidade Católica do Paraná, com estágios no Centro Georges Pompidou, em Paris e na Academia di Belle Arti di Brera, na Itália. Suas obras integram diversas exposições coletivas nacionais e internacionais, além dos salões onde recebeu inúmeras premiações. As mostras individuais aconteceram em Curitiba, Santa Catarina, em Córdoba, na Argentina e em Portugal.
Diversos museus brasileiros e o Palácio do Governo do México possuem obras do artista em seu acervo. Jair ficou famoso pela sua habilidade na execução de painéis. Um dos mais recentes, realizado na entrada do Teatro Juarez Machado, em Joinville, narra a história do teatro através dos tempos. Em Curitiba, no Aeroporto Afonso Pena, bem como no Centro de Criatividade e no Tribunal de Contas, esses painéis traduzem o pensamento crítico do autor, como testemunha de uma época.
Além das tintas e dos pincéis, Jair Mendes é o que se pode chamar, "um administrador cultural". Foi diretor do Centro de Criatividade, na década de 70, quando aquele local se caracterizava um ponto de encontro de arte e lazer dos artistas de várias gerações. Quando a Fundação Cultural de Curitiba criou, na mesma década, o Museu Guido Viaro (de quem é um dos discípulos mais diletos) o filho do artista, Constantino, o indicou para que dirigisse aquele espaço. O acervo de Viaro, o mestre italiano, que adotou Curitiba, conviveu durante alguns anos com obras de importantes artistas brasileiros, transformando aquele espaço em um referencial das artes visuais no Estado.
Jair foi ainda o coordenador do Sistema Estadual de Museus, órgão da Secretaria da Cultura durante o primeiro governo de Requião, diretor artístico da Secretaria de Cultura de Joinville, durante a gestão do então prefeito Luiz Henrique, e atualmente dirige o Museu de Arte Contemporânea do Paraná. No final de 2004, organizou uma semana de arte paranaense na cidade de Córdoba, na Argentina, dentro da política do Governo do Estado de integração cultural com os países do Mercosul. Sua próxima empreitada é a coordenação da equipe de artistas paranaenses que participa no mês de julho, das comemorações do ano cultural Brasil-França, em Paris.
O Palacete e o BRDE
O palacete dos Leões, construído nos primeiros anos do século XX, em meio a um bosque com árvores e plantas, a maioria delas em estado nativo, teve vidros e porcelanas importados da França e da Bélgica, e em 1906, serviu como residência oficial do presidente Afonso Pena, durante visita ao Paraná. Varias gerações da família Leão viveram naquele bucólico e requintado recanto de Curitiba, na época considerado uma chácara, e hoje endereço nobre na Rua João Gualberto. O casarão, tombado pelo patrimônio histórico estadual, pela sua riqueza histórica e arquitetônica, permaneceu por muitos anos inabitado até ser comprado e restaurado pela IBM do Brasil, em 1984.
A empresa multinacional integrou àquela paisagem povoada de lendas, que até hoje povoam o imaginário popular, um moderno centro administrativo, construído com cuidado para não ferir a harmonia daquela minirreserva ambiental. O casarão transformou-se num dinâmico e importante centro cultural, onde aconteceram muitos concertos, exposições, lançamentos de livros e palestras. Ocuparam ainda aquelas instalações a Inepar e o próprio BRDE, que agora adquiriu definitivamente a propriedade, adaptando os escritórios para as suas atividades de investimento e restaurando o palacete.
A exemplo de outras instituições financeiras que também administram espaços culturais, como Banco do Brasil, Caixa Econômica, HSBC, Santander e Unibanco, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, que neste mês de junho completa 44 anos, passa a fazer parte do clube dos investidores culturais. O BRDE está com sua agenda ainda em formação, mas os responsáveis pela programação garantem que alguns eventos vão acontecer nos próximos meses. Para o início do ano que vem já está confirmada a vinda de dois importantes escultores chilenos, Cristina Pizarro e Felipe Castilho, conhecidos em vários países da América Latina e Europa.
Serviço:
Exposição de pinturas de Jair Mendes. Onde: Espaço Cultural BRDE – Av. João Gualberto, 570.
Abertura: 21 de junho de 2006, das 18h30 às 22h30.
Até 28 de agosto – das 10h30 às 18h30 / de 2.ª a 6.ª.