Tony Garcia se diz perseguido político

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Garcia nega crimes.

O ex-deputado Antônio Celso Garcia, o Tony Garcia, declarou ontem que ficou preso por 90 dias apenas por "perseguição política". Ele afirmou ser inocente e culpou por sua prisão o ex-governador Paulo Pimentel e seu grupo de comunicação, que supostamente teriam influenciado o Poder Judiciário e o Ministério Público Federal a mantê-lo encarcerado por envolvimento fraudulento no extinto Consórcio Garibaldi e na empresa Eldorado Corretora de Mercadorias Ltda. "Claro que fui perseguido. Quem foi preso foi o político Tony Garcia, não o cidadão Antônio Celso Garcia. Fui o primeiro preso político depois da ditadura", esbravejou.

Agora em liberdade, graças ao habeas corpus concedido na última terça-feira pelo desembargador federal Néfi Cordeiro, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4.ª Região, Garcia anunciou que pretende processar o Grupo Paulo Pimentel (GPP) e seu diretor-presidente, civil e criminalmente. Garcia alegou que nunca foi sócio do Consórcio Garibaldi e, segundo um de seus advogados, Antônio Augusto Figueiredo Basto, foi preso devido a uma carta anônima sobre esse caso. Basto também alegou que Garcia não foi preso por problemas com a empresa Eldorado. Todavia, em 5 de novembro de 2004, quatro dias antes da prisão de Garcia, o Ministério Público Federal (MPF) encaminhou ao juiz federal Sérgio Fernando Moro, da 2.ª Vara Criminal de Curitiba, anexos ao processo inicial colhidos através de quebras de sigilo e escutas telefônicas, onde há fortes indícios de que Garcia e seu sócio Roberto Ângelo Siqueira usavam laranjas como proprietários da empresa e cometiam crimes de sonegação fiscal, evasão de divisas, subfaturamento em importações e clonagem de veículos na Eldorado.

Embora diga ter patrimônio estimado em 20% dos R$ 5 milhões depositados como garantia para que obtivesse a liberdade provisória, ou seja R$ 1 milhão (o restante seria patrimônio de sua família), o ex-deputado afirmou já ter comprado três carros da Eldorado. Os anexos do MPF mostram a compra de um Porsche pela Eldorado pelo valor de R$ 284.456,81. A Polícia Federal estima que o valor real do carro seja de R$ 571.880,00, quantia maior que todo patrimônio que Garcia diz ter. "Não tenho relação nenhuma com a Eldorado. Era apenas cliente", disse, esquecendo que um dos imóveis dados para garantir sua liberdade era onde funcionava a empresa. A informação de Garcia é contestada pela nota divulgada pela assessoria de comunicação da Justiça Federal do Paraná no dia de sua prisão. "O empresário e ex-deputado estadual Tony Garcia foi preso preventivamente hoje pela manhã (9/11/2004) em Curitiba, por determinação da 2.ª Vara Federal Criminal, porque estaria, segundo representação do Ministério Público Federal, praticando, juntamente com seu sócio, Roberto Ângelo Siqueira, novos crimes por meio da empresa Eldorado Corretora de Mercadorias Ltda. Haveria indícios de crimes de sonegação fiscal, evasão de divisas, subfaturamento em importações e clonagem de veículos, dentre outros. A prisão também foi motivada por indícios da prática de fraudes processuais na ação penal do Consórcio Garibaldi e pelo risco de fuga do empresário. Além da prisão foram realizadas diligências de busca e apreensão em diversos endereços da capital. Tony Garcia responde ação penal por gestão fraudulenta do Consórcio Nacional Garibaldi, o que teria levado, segundo cálculos do Banco Central, a prejuízos de R$ 40.102.925,41. Segundo o Bacen, teria havido, dentre outras fraudes na gestão do consórcio, desvio de recursos dos grupos de consorciados, o que teria sido realizado por vários meios – transferências de numerário das contas dos consorciados para as contas da administradora, desvio de parcelas recebidas de consorciados e não-depositadas nas contas dos grupos, transferências de numerário das contas dos consorciados para terceiros, pagamento de despesas da administradora com recursos dos grupos, contemplações em nome de pessoas que não teriam pago qualquer prestação e com simulação de recebimentos, e concessão de abonos a consorciados, com compensação de dívidas da administradora", diz nota da Justiça Federal.

Quase mil processos pelo Garibaldi

Tony Garcia também garante que este é o único processo que responde. Entretanto, a 3.ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba e a 2.ª Turma do Tribunal de Justiça já reconheceram sua participação no Consórcio Garibaldi, que responde perto de mil processos judiciais, e decretaram a indisponibilidade de seus bens. Garcia salientou que desde 1996 não foi ouvido por qualquer órgão da Justiça sobre o Consórcio Garibaldi. "Fui preso apenas pela força política de meu adversário na eleição para o Senado em 2002", destacou. Conforme seu outro advogado, Carlos Alberto Farracha de Castro, esse processo de seqüestro dos bens corre em paralelo ao processo criminal e, em conseqüência, continua valendo.

Ex-deputado, que continua filiado ao Partido Progressista (PP) pretende seguir na carreira política, apesar de todas as manchas que o Consórcio Garibaldi e a Eldorado colocaram em seu currículo. Ele se orgulha dos mandatos cumpridos na Assembléia Legislativa e acredita que sua prisão o deixará mais forte para concorrer a uma vaga em 2006.

Nota da Redação

Tony Garcia foi preso por decisão judicial, a pedido do Ministério Público Federal e após investigações conduzidas também pela Polícia Federal. E, como bem diz a nota expedida pela assessoria da Justiça Federal, a ordem de prisão não tem qualquer relação com o Consórcio Garibaldi. O processo que corre agora na 2.ª Vara Criminal Federal esteve paralisado durante muito tempo, em virtude de uma liminar concedida em habeas corpus pelo então ministro Vicente Leal, do Superior Tribunal de Justiça. A liminar foi cassada pela Sexta Turma do STF e a ação retornou à Justiça Federal de primeira instância. Nos próximos dias Tony Garcia deverá retornar ao banco dos réus. Cerca de uma dezena de outras pessoas já foram condenadas pela mesma 2.ª Vara Criminal Federal por envolvimento com o Consórcio Garibaldi. A principal figura do caso, o ex-deputado Tony Garcia, tem contra si um rosário de acusações pesadas, que a Justiça analisa com serenidade, sem admitir qualquer tipo de ingerência.

Ao afirmar que sua prisão foi motivada por perseguição política, o ex-deputado tenta ludibriar a opinião pública, que tem pleno conhecimento das denúncias fundamentadas pelo Ministério Público Federal e deposita crédito no Poder Judiciário, que há tempos analisa diversas ações contra o dito, acusado de dar o calote em milhares de pessoas, apenadas sem defesa por gestão fraudulenta de seus recursos, num rombo que passa dos R$ 40 milhões.

A Tribuna do Paraná continua atenta às decisões judiciais sobre o caso e suas ramificações, que são muitas. Assim como acompanha de perto qualquer problema que aflija o povo, este sim, vítima de perseguição de todo naipe. Inclusive política!

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