Metade do ‘top 10’ registra baixa permanência

Em cinco das dez melhores escolas no Enem 2014, 20% ou menos dos alunos cursaram todo o ensino médio no mesmo colégio. Isso significa que metade das escolas no topo do ranking não trabalhou com a maioria dos estudantes ao longo dos três anos da etapa. Algumas, segundo especialistas, adotam a prática de trazer alunos de alto rendimento no 3.º ano do ensino médio para unidades menores, com o objetivo de elevar o desempenho no ranking.

Esse cruzamento é possível por meio do novo indicador de continuidade dos alunos na mesma escola, divulgado pelo Inep neste ano. Esse é mais um esforço do órgão de contextualizar os resultados e permitir comparações mais adequadas. Neste ano, o órgão também divulgou, com as notas, as taxas de aprovação, reprovação e abandono escolar.

Colégios com índice de permanência muito baixo alcançaram nota média de 545 pontos nas provas objetivas. Naqueles com índice de permanência alto, a média foi de 508 – a diferença é de 37 pontos.

No top 10, a predominância também é de escolas pequenas: nove delas têm menos de 60 alunos. A exceção é o Colégio Bernoulli, de Belo Horizonte, que tinha quase 300 alunos no fim do ensino médio. Em relação à edição anterior, a taxa de pequenos cresceu: eram cinco com menos de 60 estudantes.

Líder do ranking geral pelo quarto ano consecutivo, o Objetivo Integrado, na Avenida Paulista, região central, teve 42 participantes no Enem 2014. A unidade campeã, que reúne alunos de alto desempenho, teve taxa de permanência intermediária: de 60% a 80% dos alunos fizeram todo o ensino médio ali.

No mesmo endereço há outra escola Objetivo, em que 314 alunos fizeram o Enem 2014. Essa unidade ficou no 610.º lugar.

Novatos

A segunda colocada deste ano é uma novata, que segue o mesmo modelo do Objetivo Integrado. Criado no ano passado, o Colégio de Aplicação Farias Brito, em Fortaleza, teve 44 candidatos no Enem.

Como esse grupo foi formado por alunos de outras unidades da Farias Brito, a taxa de permanência está na faixa mais baixa (menos de 20% dos alunos cursaram toda a etapa na escola). Já escolas maiores da rede aparecem em posições mais baixas. Também na capital cearense, o Colégio Central Farias Brito teve 500 participantes no exame e ficou só no 1.483.º lugar.

Tales de Sá Cavalcante, superintendente da Farias Brito, nega que a concentração de alunos de alto nível em uma escola menor seja uma estratégia para subir no ranking. “O estudante consegue ter um retorno melhor se a turma for mais homogênea”, afirma. “Nossa meta é chegar ao primeiro lugar.”

Para Cavalcante, o Inep deveria contar como permanência estudantes que trocam de unidade dentro de uma mesma rede. A Farias Brito planeja abrir nova unidade em 2016.

Outras duas redes cearenses – a Christus e a Ari de Sá – também estão na parte alta do ranking com unidades pequenas e permanência inferior a 20%. Só o Ari de Sá estava no top 100 no Enem 2013. Essas escolas são famosas por aprovar grande número de alunos no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

Avaliação

De acordo com a consultora em educação Ilona Becskehazy, divulgar a taxa de permanência melhora o processo. “Estão sendo aprimoradas as ferramentas para evitar que os resultados sejam maquiados”, aponta. Mas ainda é preciso, defende ela, pensar em como combater a segregação de alunos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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