Lula lava as mãos. Radicais são com o PT

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva exigiu ontem que os deputados petistas sigam as orientações do partido. Em uma reunião almoço com a bancada petista no Congresso, Lula utilizou um exemplo do passado do partido para alertar que os dissidentes podem ser expulsos. Em 1984, três deputados petistas votaram contra uma orientação do partido no Colégio Eleitoral, e foram expulsos. Lula lembrou que chorou, na ocasião, mas que a decisão foi acertada. “Assim o PT fez sua história”, teria dito Lula na reunião.

Em um recado direto aos rebeldes, Lula disse que era contra a expulsão dos três deputados daquela época. Mas, como era uma decisão do partido, ele a acatou chorando. Na prática, isso significa que o presidente não irá interferir nas decisões partidárias. Durante a reunião, o presidente Lula tentou convencer a bancada da necessidade de ter paciência e esperar as mudanças. Segundo ele, as mudanças propostas pelo PT levarão quatro anos para serem incrementadas e que os grandes derrotados, se estas mudanças não ocorrerem, serão ele, Lula, e o PT.

“Nem sempre dá para dar para o filho o presente que gostaria”, afirmou Lula aos deputados petistas. De acordo com Lula, as mudanças, assim como um presente, têm que esperar o melhor momento para acontecer.

Lula falou que todos os petistas estão no mesmo barco, no mesmo mar e no mesmo oceano, cercados por tubarões. Para o presidente, se o governo do PT fracassar a esquerda brasileira não voltará ao poder em 50 anos. De acordo com o presidente, os deputados podem falar as “bobagens que quiserem”, mas devem seguir a orientação do partido, senão serão expulsos. O passo seguinte foi a reunião dos deputados petistas na Câmara para definir se cabe punição aos “radicais” da bancada.

De qualquer forma, a bancada petista está rachada. Apesar de a maioria dos convidados posar para fotos dizendo slogans de união, neste momento de união, não participaram os principais integrantes da ala radical como os deputados Babá (PT-PA), Luciana Genro (PT-RS) e Lindberg Farias (PT-RJ).

Quanto a situação da senadora Heloísa Helena, ela é complicada. Apesar de ter conseguido adiar por 15 dias a decisão da bancada sobre sua possível punição, ela é praticamente insustentável e sua saída deve ser pedida na próxima reunião da Executiva. A tendência da punição máxima também ficou mais evidente depois que ela foi entregue à própria sorte pelo presidente da legenda, José Genoino. Ele lavou as mãos e deixou o seu destino para a Executiva, onde estão vários petistas governistas com a intenção de expulsar um dos radicais como exemplo aos demais. Os líderes do PT no Senado, Tião Viana (AC), e do governo, Aloizio Mercadante (SP), acham que é preciso dar um basta nas ações solitárias e radicais da senadora.

Hauly e Andes contra o governo

Brasília – O deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) entrou na tarde de ontem com uma ação popular, com pedido de liminar, para suspender a publicidade do governo em favor da reforma da Previdência Social, veiculada na TV. Numa clara provocação ao PT, Hauly inicia o documento com uma frase da senadora Heloísa Helena (PT-AL): “Recurso público não pode ser utilizado para incentivar a população com uma visão unilateral.” Ele afirma que “a propaganda pública tem de ter caráter educativo, informativo ou de orientação social. Jamais defender uma tese, causando danos ao patrimônio público”.

Na ação popular, Hauly pede ainda, além da suspensão da publicidade o ressarcimento da despesa com a produção e veiculação das peças publicitárias. Dirigentes do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) também entregaram ontem à 13.ª Vara da Justiça Federal de Brasília uma ação popular pedindo a suspensão da propaganda do governo federal que pretende convencer a população sobre a necessidade da reforma da Previdência Social. A ação é assinada apenas pelo sindicato, sem o apoio formal de qualquer político do PT.

Para o presidente do Andes, Luís Carlos Lucas, o governo está usando a publicidade institucional, paga com dinheiro público, com o objetivo de fazer lobby para que o Congresso aprove, sem alterações, o projeto de reforma previdenciária. “Isso é imoral”, afirmou Lucas. Ele observou que, em geral, nas discussões sobre políticas públicas há divergências e que tudo deve ser resolvido de forma democrática, no Congresso.

Na ação entregue à Justiça, o Andes argumenta que a propaganda trata das mudanças que surgirão em conseqüência da reforma sem observar que o projeto ainda será discutido pelos parlamentares. “As informações contidas na propaganda são inverídicas posto que informam à Nação alterações que podem não vir a ser efetivadas”, afirma a entidade.

Lucas explicou que na ação o Andes sustenta que a propaganda violou o princípio da Constituição Federal que prevê a moralidade administrativa. Além disso, a campanha teria desrespeitado a regra constitucional.

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