FHC deixa para Lula dívida de US$ 242 bilhões

Washington

– Uma gigantesca dívida pública de US$ 242,5 bilhões é o fantasma que o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, encontrará no Palácio do Planalto. Lula vai ter que exorcisar rapidamente a ameaça de uma moratória se quiser liberar recursos para atender os problemas sociais. Ainda que os analistas americanos estejam propensos ao pessimismo, a maioria aceita, no entanto, que a situação ainda pode ter um controle, graças ao potencial da economia brasileira, e Lula tem a oportunidade de lançar uma animadora “energia positiva” capaz de gerar uma rápida recuperação.

O ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Michael Mussa, em recente apresentação, aconselhou Lula a dar um “choque de confiança”, se comprometendo a criar um superávit fiscal primário de 5%, até que a relação Dívida Pública/Produto Interno Bruto (DP/PIB), atualmente de 64%, baixe de 55%, e manter o superávit em 4% até que o índice seja menor que 50%. Este objetivo poderia ser conseguido em alguns meses, diz Mussa, isso se a esperada valorização do real reduzir o custo da dívida interna indexada ao dólar. Mas, o preço disso seria colocar em prática um programa rigoroso de ajustes em todas as frentes, o que seria contraditório em relação às promessas eleitorais do presidente eleito.

A alternativa seria uma reestruração da dívida, que implicaria num choque negativo de uma só vez, mas que “poderia ser manejado construtivamente e não preecisaria se transformar num desastre do tamanho do que aconteceu na Argentina”, analisa Mussa. Outros analistas – incluindo o megafinancista George Soros, que geralmente é otimista, estima em mais de 50% as possibilidades de que o Brasil tenha que reestruturar sua dívida.

A relação DP/PIB do Brasil era uma das mais baixas da América Latina, com 28% em 1994, mas em agosto passado mais que duplicou, a 58,09%, e em setembro chegou a 63,87%, segundo o Banco Central. O último “salto” de mais de cinco por cento em um mês obedeceu a uma boa medida da aceleração da desvalorização do real, que este ano perdeu mais de 40% de seu valor, aumentando o custo da dívida interna indexada ao dólar.

A deterioração foi provocada em grande parte pelas incertezas em torno da campanha eleitoral e as políticas que Lula e seu partido aplicariam. Mas, após sua eleição, no domingo passado, Lula reafirmou sua promessa de manter a disciplica fiscal, e já começaram a surgir sinais de recuperação. Não obstante, a ameaça da dívida continuará assustando enquanto o governo for forçado a pagar taxas reais de juros de mais de 20%, e a taxa de crescimento do PIB continuar oscilando ao redor dos 2%, menos da metade do potencial do país, segundo o próprio Banco Central. As taxas de juros incluem um risco que leva em conta a possibilidade de um calote da dívida ou reestruturação, fator que desapareceria com o restabelecimento da confiança, anunciou Mussa. Um estudo feito em julho pelo BC afirma que, num cenário “razoável” de crescimento do PIB, de 3,5%, taxas de juros de 9% e superávit fiscal primário próximo a 3,75% do PIB, a dívida entraria a meio prazo numa dinâmica de queda.

El País critica a herança de FHC

São Paulo

– O periódico El País, principal jornal da Espanha, publicou em sua edição de ontem uma análise em que critica a herança deixada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para Lula, principalmente no que se refere à dependência externa. O artigo destaca que FHC foi o teórico da dependência e na prática quem mais a estimulou. Sobrou para Lula a tarefa de procurar uma saída para o País. O jornal espanhol diz que “os interessados profetas da catástrofe progressista prevêem toda sorte de desgraças para o Brasil quando Lula assumir o poder, mas se esquecem de dizer que a atual situação do país não pode ser mais dramática. Com um crescimento que em 2002 chegará a apenas 1% – um dos mais baixos de sua história -uma dívida pública de mais de R$ 600 bilhões, a maior parte da população economicamente ativa trabalhando na economia paralela”. O artigo destaca que “essa herança vem das mãos de um intelectual político que aplicou durante oito anos, com profissionalismo e diligência, o modelo social liberal do equilíbrio econômico, a flexibilização trabalhista e o neoliberalismo financeiro dominante nos países do norte. Seu fracasso, pois, mais que o fracasso de um homem, é o fracasso de um sistema”.

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