Traficantes queimam ônibus no Rio, matam 5 e ferem 12 pessoas

Numa das ações criminosas mais cruéis já ocorridas no Rio de Janeiro, traficantes invadiram ontem um ônibus lotado, na Penha, na zona norte, jogaram gasolina em seu interior e também sobre os passageiros, atearam fogo e impediram que eles fugissem.

Cinco pessoas morreram no ataque, entre elas uma mãe com um bebê no colo, e outras 12 sofreram queimaduras. A polícia identificou cinco suspeitos, cujos nomes não foram revelados, porém, até o início da noite de ontem, ninguém havia sido preso.

Na guerra de traficantes do Rio, coletivos são constantemente depredados. Normalmente, os veículos são evacuados antes de serem queimados. Dessa vez, os criminosos agiram com a clara intenção de matar. Segundo a polícia, o crime ocorreu em represália à morte de um traficante do Morro do Quitungo, Leonardo de Souza Ribeiro, de 22 anos, num confronto com PMs ocorrido na favela no fim da tarde de terça-feira

Após o tiroteio, os traficantes convocaram moradores para fazer um protesto numa das entradas do morro, mas eles se recusaram a participar, de acordo com a polícia. Isso porque a comunidade não tem afinidade com a quadrilha que domina o tráfico atualmente, que é egressa de outra favela, o Morro da Fé perto dali. O grupo, rival, invadiu o Quitungo há algumas semanas. Como não tiveram apoio, os criminosos decidiram incendiar um ônibus.

Por volta das 22 horas, um grupo de dez rapazes desceu o morro e foi até a Rua Irapuá com quatro garotas. As adolescentes fizeram sinal para um ônibus da linha 350 (Passeio-Irajá), da Viação Rubanil, como se fossem passageiras. O coletivo parou e começou o terror.

O motorista, Clóvis de Moraes Pinheiro, de 50 anos, que fazia sua última viagem antes de ir para casa, foi arrancado de seu banco. Em seguida, dois bandidos entraram no ônibus, pularam a roleta, que fica na parte dianteira, e, com garrafas de plástico de dois litros (de refrigerante), espalharam combustível pelo chão e bancos. Jogaram ainda nos passageiros, apavorados. Do lado de fora, outros criminosos lançavam pedras contra o veículo.

Cinco pessoas morreram dentro do ônibus. Entre elas, Vânia da Lúcia Barbosa, de 33 anos, e sua filha Vitória, de dois anos. O marido de Vânia, Rogério Mendes de Oliveira, de 27 anos, teve queimaduras de 2º e 3º graus está internado em estado grave no Hospital do Andaraí. Os outros três mortos não haviam sido identificados até o fim da tarde, porque os corpos estão irreconhecíveis e sem documentos, que foram queimados no ataque. Deverão ser feitos exames de DNA.

É crítico o quadro de Viviane de Souza Eusébio, de 21 anos, que ficou com 40% do corpo queimado e está no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do hospital do Andaraí. Também estão internados a cobradora, Ana Crispim Dias, de 48 anos, e passageiros Fábio Ferreira, de 31 anos; Erika Bernardo, 40 anos; Francisca Adriana Lopes, 30 anos; Roberta Teixeira Lopes, 25 anos. Cinco pessoas tiveram alta.

O caso será investigado pela delegacia de Brás de Pina e pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). O delegado da DRE, Luiz Alberto Andrade, acredita que os traficantes agiram como terroristas. "Foi uma ação terrorista, muito mais violenta do que as que costumamos ver. Os bandidos costumam mandar as pessoas saírem. Foi uma afronta à sociedade", disse.

O secretário de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, discordou: "Não há processo ideológico por trás dessa ação. Terrorismo é outra coisa completamente diferente". Para ele, não se deve "criar rótulos para essas pessoas que não sejam de criminosos, de facínoras, de assassinos."

O Disque-denúncia recebeu informações apontando os autores do ataque e indicando onde são seus esconderijos. Até o início da noite, ninguém havia sido preso.

Duzentos e vinte PMs ocuparam ontem de manhã os morros da região da Penha, à procura dos autores do ataque. Entre os suspeitos, está o traficante Paulo Rogério de Souza Paes, o Mica, de 27 anos, um dos líderes do Quitungo, que faz parte do grupo vindo do Morro da Fé. Ele pode ter ordenado a ação, segundo investigações preliminares. Para o secretário de Segurança, o trabalho de repressão da polícia no morro tem sido "excepcional" e "praticamente acabou com o tráfico".

A governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), que está descansando, por ordem médica, na casa de veraneio do governo do Estado, e o governador em exercício, Luiz Paulo Conde, não se pronunciaram a respeito do ataque.

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