Ministro do Meio Ambiente do Líbano se recusa a renunciar

Uma autoridade do Líbano contrariou neste domingo a demanda de milhares de manifestantes no fim de semana para que deixe o cargo, dando mais combustível para o movimento contra o governo.

O anúncio do ministro do Meio Ambiente, Mohammad Machnouk, ocorreu horas depois de milhares de manifestantes se reunirem na histórica Praça dos Mártires, no centro de Beirute, na noite de sábado, na maior demonstração de força do chamado Movimento “Você fede”. Os manifestantes planejam realizar mais protestos em Beirute na semana que vem, mas as autoridades rejeitaram pedidos de demissões, advertindo que isso criaria mais problemas de governança.

“Eu não vou desistir das minhas responsabilidades durante esta fase crítica”, disse ele, em comentários ao jornal An-Nahar na tarde de sábado, quando o protesto terminava. “A renúncia do gabinete está fora de questão para todos os poderes políticos, porque isso significaria um salto no vazio e caos.”

Os militantes disseram neste domingo que vão anunciar em breve uma resposta à recusa de Machnouk a demitir-se.

“O ministro já desistiu de suas responsabilidades quando ele não conseguiu abordar e resolver a crise do lixo”, disse Lucien Bourjeily, que integra a organização do movimento. “Se ele não renunciar em seguida, ele deve ser julgado. Ele falhou como ministro do Meio Ambiente.”

Ativistas organizaram o movimento original “Você fede” no início deste mês. O grupo exigiu que o governo do Líbano encerre a crise do lixo que começou quando os moradores do sul de Beirute obstruiu um aterro sanitário, depois de reclamar de gases tóxicos. Pilhas gigantes de lixo malcheiroso foram deixadas não recolhidas nas ruas da cidade, como resultado.

A agitação violenta no Líbano pode ter grande efeito regional sobre a antiga guerra civil de quatro anos na vizinha Síria e em países em toda a região.

A estagnação política do Líbano é resultado da disputa entre os dois principais blocos parlamentares, sendo que cada um deles recebe apoio considerável do exterior: a coalizão pró-Irã, muçulmana xiita, e a pró-Arábia Saudita, de maioria muçulmana sunita.

A população do Líbano de quatro milhões também é responsável por mais de um milhão de refugiados sírios, a segunda maior população de refugiados na região.

A milícia poderosa que domina o sul do Líbano, Hezbollah, enviou milhares de combatentes para reforçar as forças que atacam o presidente sírio, Bashar al-Assad.

No protesto de sábado, as pessoas exigiram que os políticos do país sejam substituídos e se manifestaram contra um sistema que, por décadas, levou a uma legislação paralisada por diferenças sectárias dentro do Parlamento.

A manifestação foi a maior desde que os protestos começaram, no início de agosto, em Beirute, e foi pacífica na maior parte do tempo. Apenas um embate entre manifestantes e policiais à noite deixou dois policiais feridos e cerca de 10 pessoas foram presas.

Mas a resistência de Machnouk aos pedidos de que renuncie arrisca inflamar o sentimento contra o governo, justamente quando ativistas se preparam para manifestações ainda maiores nesta semana, com o intuito de pressionar para a realização da reforma política. Os líderes do movimento disseram à mídia libanesa no sábado que esperam expandir os protestos para fora da capital do Líbano.

Falando por meio de um alto-falante na Praça dos Mártires, no sábado à noite, um organizador do movimento também falou da responsabilidade do ministro do Interior do Líbano e daqueles responsáveis por aquilo que muitos manifestantes acreditam que tenha sido uma força policial excessiva. Na semana passada, a polícia usou mangueiras de água e gás lacrimogêneo contra as multidões.

Se as exigências dos manifestantes não forem concretizadas no prazo de 72 horas, disse ele, haveria uma chamada para novas manifestações e uma ampliação das reivindicações para incluir novas eleições parlamentares e uma solução ambiental sustentável para a crise da coleta de lixo.

Nas primeiras horas após a marcha de sábado, os líderes dos partidos políticos mais influentes do Líbano – os mesmos grupos cuja ineficiência e a corrupção percebida fizeram com que fossem alvos de frustração dos ativistas – manifestaram apoio ao movimento.

“A presença significativa hoje de civis, com jovens homens e mulheres do Líbano reunidos na Praça dos Mártires, reafirma que todos nós estamos distantes de suas esperanças e aspirações”, dizia um comunicado divulgado no domingo pelo partido dominado pelos muçulmanos sunitas, o Movimento Futuro.

A milícia xiita apoiada pelo Irã e o partido político Hezbollah também declararam apoio aos manifestantes, porém não mantiveram uma presença visível nos protestos de sábado.

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