Criadores defendem cães da raça pit bull

Nos últimos anos, os pit bulls se tornaram os grandes vilões do mundo canino. Notícias de ataques a seres humanos veiculadas nas mídias impressa e televisiva fizeram com que o cão passasse a ser temido pela grande maioria das pessoas, sendo associado à ferocidade e desequilíbrios de comportamento.

Entretanto, nem todos os representantes da raça merecem a fama que carregam. Quem cria o pit bull para venda ou o tem como animal de companhia garante que ele pode ser dócil, amigo e bastante educado. ?Crio pit bulls há três anos, mas me interesso pela raça há bem mais tempo. Minha esposa está grávida e vou fazer questão que minha filha conviva com os cães. Ao contrário do que muita gente pensa, eles podem ser extremamente carinhosos?, afirma o criador Eduardo de Matias, que vive em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.

Segundo Eduardo, a raça pit bull foi desenvolvida no início do século XIX, na Inglaterra. Fruto do cruzamento entre o antigo bulldog inglês com o extinto terrier inglês, o animal inicialmente foi criado para participar de rinhas com touros e outros cães. Foi aí que começou sua fama de mau, intensificada por cruzamentos indevidos que fizeram com que alguns indivíduos fossem mais agressivos. ?Muitos pit bulls são cruzados sem seleção genética, o que acaba descaracterizando a raça. Além disso, a agressividade de qualquer cão também é resultado da forma como ele é criado.?

Muitas pessoas que compram um pit bull, de acordo com Eduardo, já o adquirem com a mentalidade de que o cão vai ser bravo. Por isso, passam a condicioná-lo para isso. ?Mesmo um poodle passa a ser agressivo se for condicionado a atacar e morder. O temperamento de um cão está muito ligado ao tratamento que ele recebe do dono.? O criador diz ainda que é um erro acreditar que o pit bull é um cachorro destinado à guarda, sendo que as características da raça não são voltadas a essa finalidade.

Atualmente, as rinhas de animais são proibidas. Por isso, os pit bulls são bastante utilizados em exposições, onde tanto a beleza física quanto o temperamento e a capacidade de obediência são avaliados, e para esportes, como escalada, tração e mergulho. No Paraná, as atividades esportivas com pit bulls ainda não são tão divulgadas, ao contrário do que acontece nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. ?Os cães são fortes e bastante resistentes a doenças. Se dão bem com crianças e precisam de cuidados semelhantes aos dedicados a cães de outras raças.?

O corte geralmente feito nas orelhas dos pit bulls também é herança dos tempos em que o animal participava de rinhas. Naquela época, as orelhas eram cortadas porque, bastante irrigadas de sangue, eram consideradas o ponto fraco do animal. Hoje, o corte acontece mais por motivos estéticos, sendo que há tendência de que deixe de ser realizado. Proprietários de animais com a orelha cortada devem ser cuidadosos no momento de banhar os cães, evitando que eles desenvolvam otite.

Embora possam viver em apartamentos, os pit bulls necessitam de espaço. Quem os mantêm em ambientes pequenos deve proporcionar-lhes passeios diários, evitando assim que eles fiquem estressados. Por lei, o animal deve utilizar focinheira ao ser levado a espaços públicos. O preço de um pit bull de boa procedência normalmente varia de R$ 800 a R$ 1,5 mil. As fêmeas geralmente são mais caras. Animais adultos consomem diariamente cerca de um quilo de ração. 

Aumenta número de cães abandonados

A fama de mal dos pit bulls tem trazido conseqüências negativas para os próprios representantes da raça. Nos últimos anos, em diversas regiões do País, tem aumentado o número de pit bulls encontrados abandonados em praças, parques e demais locais públicos.

?A grande maioria das pessoas tem adquirido pit bulls por modismo, passeando com os cães como se estivessem andando com uma arma, por pura exibição. Por isso, quando cansam e percebem que os animais dão trabalho, acabam decidindo se livrar dos mesmos e os abandonando?, conta o defensor dos direitos dos animais Paulo Sérgio de Melo, que vive no Estado de São Paulo.

Morador da cidade de Guarujá e sensibilizado com o problema, Paulo, que aprecia a companhia de pit bulls, resolveu iniciar um trabalho envolvendo cães pertencentes à raça abandonados. Em sua cidade, ele recolhe os animais, realiza com eles um trabalho de socialização e reeducação e os encaminha para adoção.

Entretanto, o defensor da raça informa que não é qualquer pessoa que pode ser proprietária de um pit bull. ?O pit bull é um cão muito potente, forte e que, como qualquer outro animal, necessita de cuidados e gera gastos financeiros. Além disso, se a pessoa tiver algum desvio de comportamento pode transferi-lo ao cão?, diz.

A falta de responsabilidade no momento da aquisição do cachorro e o posterior abandono do animal faz com que o mesmo fique sujeito a uma série de perigos e crueldades. Nas ruas e sem saber se defender, o bicho fica sujeito a atropelamento, aquisição de doenças, chuva, frio, fome e outros tipos de sofrimento. Como forma de defesa, também pode acabar atacando seres humanos, inclusive crianças e idosos. (CV)

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