Expedição avalia rios voadores

Sxc.hu/Divulgação
O Atacama está na mesma latitude das regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil.

São Paulo – Na mesma faixa de latitudes onde se encontram as regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil estão alguns dos maiores desertos do mundo: Atacama (Chile), Namibe (Namíbia), Kalahari (sul da África) e o deserto australiano. Por que então esse pedaço do Brasil é chuvoso e biodiverso? A explicação, já sabem os cientistas há alguns anos, está na Amazônia. Mas se a floresta for destruída com desmatamentos e com o aquecimento global, o que vai acontecer com o clima do resto do País?

 Para responder a essa pergunta, um grupo de pesquisadores brasileiros, em parceria com o casal de exploradores ambientais Gérard e Margi Moss, vai percorrer o País atrás do que eles chamam de ?rios voadores?, correntes de ar que carregam umidade do norte para o sul do Brasil e são responsáveis por grande parte das chuvas no sul e no sudeste do País.

A expedição é a nova etapa do projeto Brasil das Águas, iniciado em 2003 pela dupla com o objetivo de traçar uma visão panorâmica dos principais mananciais do País. Agora eles vão estudar como ocorre o transporte dos vapores de água resultantes da transpiração das árvores para outras regiões do território brasileiro com o objetivo de entender quais podem ser as conseqüências das mudanças climáticas. ?O fluxo de vapor que sai da floresta é equivalente ao Rio Amazonas. Por isso dizemos que temos um rio voador?, explica Moss.

De acordo com o responsável científico da expedição, o pesquisador Eneas Salati, pioneiro do estudo de chuvas na Amazônia, a analogia faz sentido porque a quantidade de água que evapora das árvores e que é transportada do norte para o sul do Brasil por ano é igual à vazão do Rio Amazonas, de 200 mil m³/s. Para se ter uma idéia da grandeza, uma única árvore da floresta é capaz de transpirar 300 litros de água por dia. ?Essa quantidade que chega ao sul, sudeste e centro-oeste por meio dos vapores é maior do que a vazão de todos os rios da região.

Salati foi o primeiro a mostrar a existência desse fluxo no final da década de 70. Por meio das chamadas técnicas isotópicas, que rastreiam os isótopos de oxigênio e de hidrogênio, ele mostrou que a água que evapora no Oceano Atlântico entra na Amazônia trazida pelos ventos alísios (que sopram de leste para oeste), reflete nos Andes e se espalha pelo resto do Brasil.

O trabalho, previsto para durar 18 meses, funcionará em várias etapas. Para fazer esse rastreamento, Saleti vai usar a mesma técnica isotópica, rastreando o oxigênio 18 e o hidrogênio 2 para descobrir quais são os mecanismos de transporte de umidade e de que forma a cobertura vegetal afeta a quantidade de vapor d?água.

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