Invasão de ?estrangeiros? em Curitiba

Há muito tempo Curitiba deixou de ser apenas dos curitibanos. A cidade continua sendo referencial para muitos moradores do interior do Paraná. Mas graças à qualidade de vida que oferece para seus habitantes, Curitiba também atraiu a atenção de pessoas oriundas de outros estados. A capital paranaense acolheu muito bem todos aqueles que quiseram adotá-la. Tanto que 47,7% dos habitantes de Curitiba não são naturais da cidade, conforme análise do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) sobre os dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Pode até parecer uma invasão de ?estrangeiros?, mas o fenômeno migratório é considerado normal, a exemplo do que acontece em outros grandes centros do País. ?As cidades mais industrializadas e que oferecem mais empregos sofrem grandes processos migratórios, principalmente as capitais. Mas não recebem apenas. Também servem como passagem de migrantes. Em capitais, é normal que haja grandes movimentos de entrada e saída?, afirma Marisa Magalhães, pesquisadora do Ipardes.

De acordo com ela, em alguns momentos, o fluxo migratório de entrada pode superar o de saída e vice-versa. Esse trânsito de pessoas acontece por diversos motivos, como oportunidade de emprego, tratamento de saúde, qualidade de vida e presença de familiares na cidade. Segundo ela, a intensa migração representa que o município é próspero.

No caso de Curitiba, os índices de crescimento já foram mais altos, mas vêm caindo gradativamente. No último censo do IBGE, em 2000, a taxa de crescimento era de 2,1%. ?A cidade vai ficando urbanamente saturada, criando uma cidade de custo elevado?, comenta Marisa. E isso cria um fluxo migratório de saída, das pessoas que procuram locais com um menor custo de vida. Como a cidade vai ficando elitizada, o tipo de migração também muda. Acabam vindo pessoas de maior poder econômico.

A procura por um menor custo de vida é um dos motivos para a migração em direção às cidades da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Nessa situação estão curitibanos e não curitibanos. ?Este é o fenômeno da periferização. Muitas vezes, as pessoas preferem morar em locais mais distantes por determinadas questões econômicas e também em busca de qualidade de vida?, explica a pesquisadora.

A RMC experimenta grandes taxas de crescimento, mas os índices são menores do que os detectados nas décadas de 1970 e 1980. Neste período, foi a região metropolitana que mais cresceu no País. ?O crescimento tem se sustentado, mas vai ter fim. Não tem como sustentar o mesmo ritmo por muito tempo?, lembra Marisa.

Muitos vêm para estudar e trabalhar

Foto: Chuniti Kawamura

UFPR: muita gente de fora.

Hoje em dia, é muito comum encontrar uma proporção maior de não curitibanos em determinados ambientes, como escritórios ou salas de aula. Apesar de terem adotado Curitiba, muitas pessoas continuam mantendo uma certa relação com a cidade natal.

A farmacêutica Carla Juliene Monteiro da Rosa é natural de Tomazina, cidade do Norte Pioneiro. Ela seguiu o fluxo de muitas pessoas do município, que se mudam para Curitiba com o objetivo de estudar e trabalhar. Está há seis anos na cidade. Nos finais de semana, Carla se reúne com amigos que também são de Tomazina e de outras cidades daquela região em um restaurante. ?Sempre estamos nos reunindo e isso é muito bom?, afirma Carla. Além disso, a farmacêutica tenta ir para Tomazina com uma certa freqüência.

O analista de sistemas Carlos Alberto Mazzer é natural de Maringá e está em Curitiba há dois anos. Escolheu a capital paranaense por causa do mercado de trabalho. ?Sempre tive em mente vir para Curitiba. No começo, foi muito difícil. Mas tive a ajuda da minha irmã e de alguns amigos meus de Maringá que já moravam aqui. A cidade é super 10 e muito organizada. Só sairia daqui se aparecesse uma grande oportunidade profissional em outro grande centro?, comenta Carlos.

O analista de sistemas revela que fez amizade com curitibanos, mas a maioria dos ?novos? amigos também são de fora. ?90% das pessoas com quem trabalho não são de Curitiba. Chegamos a reunir em um encontro quinze pessoas que não nasceram aqui?, lembra. E este é um fenômeno cada vez mais natural para quem vive na capital dos paranaenses, dos paulistas, dos gaúchos, dos nordestinos…

Uns são temporários, outros permanecem

Foto: Chuniti Kawamura

José Rodolfo veio cursar Engenharia Civil, mas volta a Cuiabá quando o curso acabar.

Muitas pessoas que vêm para Curitiba chegam aqui com um propósito definido, como estudar. Porém, quando os estudos são concluídos, os migrantes acabam permanecendo na cidade porque realmente gostaram da cidade ou conseguiram um trabalho. Mas existem aqueles que vêm e já sabem exatamente quando vão voltar.

Este é o caso do estudante José Rodolfo Mura, natural de Cuiabá (Mato Grosso). Ele se mudou este ano para Curitiba para cursar Engenharia Civil na Pontifícia Universidade Católica do Paraná. O estudante conseguiu uma transferência após freqüentar uma faculdade na cidade de Lins, no interior de São Paulo. ?Ainda estou aprendendo a andar pela cidade, mas conto com a ajuda de familiares que moram aqui. É uma ótima cidade?, conta.

José Rodolfo já programou ficar em Curitiba por mais dois anos, quando terá concluído o curso. Depois, volta para Cuiabá. A família dele possui uma construtora na capital de Mato Grosso e ele vai aplicar no negócio o que aprendeu na instituição paranaense.

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