Práticas de leitura na escola resultados de pesquisa sobre leitura docente

Refletir sobre a leitura – e conseqüentemente sobre a atuação do professor e o trabalho com o texto em sala de aula – tornou-se comportamento mais do que adequado para resolver o impasse de incapacidade de grande parte da população brasileira em atribuir sentidos ao se deparar com um texto. Dificuldade esta que aponta para uma crise de leitura e atraso cultural, que teve início com o achamento do Brasil e se estende aos nossos dias.

Em busca dessa reflexão, realizei pesquisa que pretende identificar os graus de interferência decorrente do perfil e das experiências de leitura do professor no exercício de seu papel de mediador de leitura. A pesquisa de campo entrevistou 23 docentes que lecionam na Educação Infantil e primeiras séries do Ensino Fundamental em Curitiba. Ao compartilharem suas vivências de leitura e a mediação desempenhada em sala de aula, as entrevistadas, cuja formação é de ensino superior completo ou incompleto em Letras, Pedagogia e Normal Superior, provaram que a qualidade da mediação oferecida na docência está intimamente relacionada às práticas de leitura por elas vividas desde a infância até a fase adulta. As professoras, que são leitoras, são capazes de propiciar um contato mais significativo do aluno com o texto. O mesmo não ocorre com aquelas profissionais com repertório restrito ou limitado a leituras repetitivas. A ausência de leitura do professor, portanto, é a grande responsável pela dificuldade na formação dos alunos para a leitura. Uma efetiva formação leitora exige a simetria de comportamentos entre aluno leitor e professor leitor.

A concepção de leitura como um trabalho, nem sempre prazeroso, e que se desenvolve com a prática, só está presente na fala e entendimento de poucas entrevistadas. Contaminadas por uma visão restrita de leitura, a maioria delas aponta para a necessidade de desenvolver no aluno o amor, o gosto e o prazer por ler, desconsiderando a tarefa de reflexão e significação, inerente à ação de ler.

A leitura deveria ser a fonte e raiz do trabalho docente. No entanto, algumas entrevistadas afirmam não recorrer a ela enquanto auxilio para a vida profissional. Isso porque nossa cultura compreende a prática de falar muito, ler pouco e escrever menos ainda.

Quando levadas a citar atividades de leitura com os alunos e a sugerir outras que os incentivem a ler, as professoras mostram ciência da necessidade de praticar uma mediação que leve a uma leitura menos mecânica, menos obrigatória e com fins puramente avaliadores. No entanto, parece existir um receio (pela comodidade ou falta de conhecimento e repertório de leitura) em apontar novas práticas pedagógicas para o trabalho com o texto verbal e o não-verbal. Suas práticas limitam-se às que já foram testadas e cuja validade já foi comprovada por outrem. O trabalho com diferentes gêneros textuais, por exemplo, nem foi citado.

Os conceitos de leitor e de mediador parecem não ser claros para algumas entrevistadas, o que está na origem da contradição de sua atuação docente. Ao mesmo tempo em que uma dessas professoras afirma contar histórias para seus alunos, (?Ah, geralmente a gente tenta contar uma história, a gente tenta colocar adereços na história pra ficar mais atrativa ainda?.), outra professora não se considera mediadora de leitura: ?Não, não. Estou tentando me dedicar a isso, mas…? Por desconhecer a existência de diferentes níveis de mediação, ela não se considera mediadora.

O conceito de leitor também gera contradição pessoal: ?Na verdade leitora só de literatura infantil, porque é com o que eu trabalho e trabalho todo o dia. Mas leitora mais pra minha idade, acho que não?. Nesse aspecto, a professora acerta, pois leitor não é aquele que lê apenas textos de um dos gêneros textuais. É fundamental à constituição do leitor o contato com a variedade de textos.

Para formar efetivos leitores o professor precisa pensar sua prática docente e a relação com a leitura, questionando-a qualitativamente. É saudável inquietar-se a fim de buscar novos caminhos para a prática pedagógica, permitindo que a mudança de paradigmas atinja seu trabalho, e permita a descoberta de outras estratégias de mediação, capazes de dar conta dos novos conhecimentos produzidos pela sociedade. Essa decisão se faz urgente na prática do professor.

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