Profissão: professor. Diagnóstico: estresse

Diz o ditado popular que o trabalho dignifica o homem. Porém, em alguns casos, ele também pode causar estresse ou trazer distúrbios psicológicos. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), profissões como médico e professor, estão entre as mais desgastantes, de modo que entre esses profissionais, a incidência de afastamento por recomendação médica é significativa.

Entre os professores, o contato direto com o público, no caso com os alunos, é o agravante para a deflagração de doenças psicossomáticas. "Lidar com outras pessoas, com o grau de responsabilidade de um professor, pode ser muito desgastante", diz a psicóloga Rosa Endo.

O aumento cada vez mais significativo de casos de afastamento de professores por problemas psicológicos, segundo a profissional, está diretamente ligado à mudança cultural em sala de aula. "A dinâmica educacional mudou e os alunos já não mantêm o mesmo respeito que tinham em relação ao professor em outros tempos. Está mais difícil para eles lidarem com os estudantes, cujos limites se perderam", acredita.

Porém os alunos mal comportados não são os únicos causadores dos problemas psicológicos em professores. O excesso de trabalho também conta pontos para o desgaste mental. "É um reflexo da remuneração insuficiente. Para ganhar mais, alguns professores dão aulas em duas ou mais escolas. Pior que isso, muitas vezes não têm uma válvula de escape, momentos de lazer."

No caso dos professores, os problemas mais comuns são o estresse e a Síndrome de Burnout, que se resume na desmotivação em continuar no magistério. "Esses problemas existem há um bom tempo, mas hoje estão em maior evidência."

Os reflexos dos males psicológicos podem se traduzir em agressividade excessiva, descontrole emocional ou depressão. "No caso do estresse, a manifestação de sintomas pode vir no corpo, como dores-de-cabeça, dores pelo corpo ou no estômago."

Uma vez diagnosticado o problema, não há saída senão o afastamento do professor para o tratamento, que pode ser apenas através de terapia ou se estender, em casos mais graves, para atendimento psiquiátrico, com medicação. "Depende de cada caso, mas o tratamento é sempre necessário, sob o risco de agravamento caso não haja intervenção."

Prevenção

Como em todos os males físicos ou psicológicos, a prevenção é o ideal. Muitas escolas têm desenvolvido momentos de pausa para ginástica laboral, porém a saída mais eficiente, segundo a psicóloga, é tentar buscar locais alternativos para as aulas. "Com a agenda cheia, dificilmente os professores conseguem uma pausa. O interessante é mudar de ambiente, o que também ajuda a tornar os alunos mais interessados. Porém, tudo depende da disciplina ministrada."

Prevenção desenvolvida pela Prefeitura de Curitiba

O programa Saúde Mental, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Curitiba, caminha na filosofia que prega que é melhor prevenir do que remediar. Segundo o médico-ocupacional Paulo Coelho, os números de professores da rede municipal de ensino não fogem aos números da população comum, mas há um trabalho para que eles sejam cada vez menores.

"Quanto maior o número de afastamentos, mais onerosa a reposição, pois o professor afastado continua recebendo, mas faz-se necessário a contratação de substitutos. É uma situação extremamente complicada", diz.

Através do programa, é repassado aos professores os sintomas do estresse e métodos de como lidar com ele, especialmente como se previnir, antes que se torne um mal maior. Ele foi desenvolvido pelo departamento responsável pela saúde no trabalho, existente na prefeitura desde 1973, vinculado à Secretaria Municipal de Recursos Humanos.

"Temos fichas de dados anualmente para fazer o monitoramento das doenças, físicas ou psicológicas, de todos os trabalhadores. A partir daí, sabemos onde devemos trabalhar mais forte e desenvolver frentes que possam combater esses problemas", diz o coordenador do departamento, Edevar Daniel. Segundo o médico Paulo Coelho, o nível de afastamento de professores por questões de ordem psicológica é de 15% a 20%, mas não há como especificar os motivos exatos desses males.

"A maior parte dos casos é estresse ou depressão, mas não há como precisar que a causa seja, de modo específico, decorrente da profissão de professor, pois trata-se de problemas multifuncionais. Mas não há como negar que o fato de lidar com crianças pode ser estressante", explica.

Trocando em miúdos, há a possibilidade do problema vir da sala de aula, mas a vida que o professor leva fora das salas de aula também pode ser agente deflagrador do problema. "Uma pessoa que não tem nenhum hobby ou lazer para que se possa desligar do trabalho, tem tendências a desenvolver estresse. O descanso é natural e benéfico para qualquer profissional", diz Coelho.

Além do programa de conscientização saúde mental, a Prefeitura incentiva a prática de atividades através do Curitiba Ativa e incentiva a pausa para a ginástica laboral, entre uma aula ou outra.

Afastamento

Como a maioria dos professores que apresentam problemas de ordem psicológica precisam ser afastados, a prefeitura estuda o incremento da lei municipal de reabilitação, para que o professor afastado não perca os benefícios.

"Deslocado para uma nova função, ele precisa de um curso de capacitação e isso que queremos oferecer. Adaptado a uma nova função, a recuperação certamente é mais rápida", conclui Coelho. (GR)

Reclamações constantes

Como não poderia deixar de ser, o representante legal dos professores – o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), – é o ponto de convergência das queixas de professores que sofrem distúrbios de ordem psicológica. Muitas vezes, eles pedem ao sindicato para intermediar as negociações do afastamento.

Segundo o presidente da APP-Sindicato, José Lemos, as reclamações são contundentes e têm constatação documentada.

"Um estudo da Universidade de Brasília (UnB) revelou dados alarmantes sobre o Paraná. No retrato da escola, há a confirmação de que 62% dos professores da rede estadual de ensino sofrem de algum tipo de problema psicológico", diz Lemos.

As causas citadas por Lemos, que resultam no problema estão diretamente ligadas às condições de trabalho e à remuneração precária dos professores. "Pior que a depressão provocada pelo mau comportamento da classe, são as condições de trabalho precárias. As salas estão lotadas, às vezes tendo que fazer turnos alternados", diz o sindicalista.

Perícia

A perícia médica do governo do Estado não costuma separar os tipos de problemas psicológicos que atingem professores e funcionários da Secretaria Estadual da Educação. Porém, os dados fornecidos ficam muito abaixo do revelado na pesquisa da UnB. Pelo menos em 2005, o número de professores e funcionários da educação estadual que sofreram problemas psicológicos foi de 5.623 e de distúrbios de fundo nervoso, 412. (GR)

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