Atrás de um bom piano tem que ter ótimo afinador

d11.jpgUm piano deve ser afinado e limpo pelo menos uma vez ao ano. Sensibilidade musical, conhecimento e bom, ouvido. Nem só um grande pianista está por trás de um bom piano. Para a música chegar aos ouvidos da platéia, além das infindáveis horas de estudo do músico, existe o trabalho de outro artista que permanece oculto para os apreciadores da música, o afinador de piano.

Profissional dotado de uma sensibilidade acústica incomum, é ele quem propicia aos virtuoses um instrumento em condição de tocar. Um dos afinadores mais requisitados em Curitiba é Donizete Bonifácio. Escondido em sua oficina, trabalha nos pianos de pessoas comuns, que têm um instrumento pelo prazer de tocar; pianos de professores, comprometidos com o ensino da música, e pianos de virtuoses como o que ele nos mostrou – um belíssimo piano preto de cauda com teclas de marfim, de Artur Moreira Lima. ?Trabalho com o Moreira Lima há quinze anos?, contou Donizete, que é filho de outro músico reconhecido, o violinista José Bonifácio.

Com clientes como Artur Moreira Lima, Arnaldo Cohen e João Carlos Martins, Bonifácio também fez trabalhos para a Orquestra do Guaíra, Balé Bolshoi e Orquestra Filarmônica de Berlim. Disse ainda que toda família transpira música e os vizinhos só reclamam do som quando eles não estão tocando. ?Às vezes tenho vontade se ser concertista, mas precisaria de tempo para os estudos. Como sou afinador não consigo largar as cordas, diapasão e o piano. Ser afinador é como se apaixonar por uma mulher. Ficamos atrás o tempo todo e quanto mais aprendemos, mais queremos saber?, contou animado. Segundo Donizete, o trabalho do afinador exige horas em cima do piano e só quem ama a música deve seguir no ofício. Em seu trabalho, o primeiro passo é fazer a escala temperada (começando pela nota 49, geralmente o lá central) de 3.ª, 6.ª, 10.ª e 8.ª, depois de oitavas em oitavas, primeiro os graves, depois os agudos. Em seguida, se faz a entonação, que é o funcionamento do perfil mecânico, a velocidade dos martelos, profundidade das teclas, toque, pós-toque, escapamento e sensibilidade de retorno. Na última parte se faz o igualamento do som, para tirar a diferença do timbre. ?O processo é feito nota por nota. Alguns afinadores escolhem a 4.ª e 5.ª, mas hoje o padrão é 4.ª, 5.ª, 3.ª e 6.ª, do contrário o som do piano fica seco. Sendo que o objetivo é que ele fique sonoro?, explicou.

Cuidados com o piano

O piano bem cuidado pode durar por várias gerações. En tretanto, um dos cuidados que se deve ter é fazer sua manu tenção com limpeza pelo menos uma vez ao ano. Isso porque o instrumento sofre com as traças, cupins e a broca. ?A broca é o pior. Enquanto o cupim só come o pedaço de madeira em que está, a broca caminha em linha reta devastando o piano todo?, alerta Donizete. Ele ainda disse que é fácil saber qual bicho está comendo o instrumento. Quando são os cupins um pó branco fica espalhado na madeira, já a broca deixa um pó marrom.

Depois que um piano já está bastante prejudicado, sua res tauração pode levar até seis meses, principalmente se tiver que trocar as cordas. Para se estabilizar, a afinação é feita a cada quinze dias, durante vários meses.

Essenfelder

Como diversos afinadores da cidade, Donizete foi empregado da fábrica de pianos Essenfelder, em Curitiba. ?Foi um tempo excelente. Lá aprendi a construir pianos e afiná-los. Nós éramos como se fôssemos uma família. Uma vez nossa diretora havia saído para a rua e resolvemos aproveitar para fritar pipoca. Como ela chegou antes do esperado tivemos que jogar milho e óleo dentro de um lixão. Como se não bastasse o cheiro, de repente o milho começou a estourar lá de dentro e não deu para inventar desculpa?, contou relembrando os velho tempos. Serviço: Próximo mês de agosto Donizete fará o rencontro dos ex-funcionários da Essenfelder após o fechamento da fábrica. Para isso está entrando em contato com os velhos companheiros e os convoca para a reunião. Contato através do telefone (41) 621-2196.

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