Festival de Curitiba

A vida de um casal enterrado em um deserto

As luzes do teatro Sesc da Esquina se apagam. Um breu intenso preenche os olhos. As cortinas abrem e como o raiar do sol, a luz focada no meio do palco gradativamente se acende, surgindo das sombras um bloco com aspecto arenoso. Um barulho ensurdecedor lhe faz pular da cadeira. Algo no canto direito do bloco se meche. Uma mulher enterrada da cintura para baixo desperta. Winnie acorda para mais um dia glorioso.

Assim começa a peça da obra de Samuel Beckett, “Oh os belos dias”, dirigida por Rubens Rusche e contracenada por Sandra Dani, no papel de Winnie e Luiz Paulo Vasconcellos, no papel de Willie.

Aclamada pela critica, “Oh os belos dias” recebeu duas indicações ao Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), na categoria melhor atriz e direção, e conquistou o Prêmio Cultura Inglesa Festival 2013.

A peça é divida em dois blocos e retrata a vida de um casal enterrado em um deserto. A tagarela Winnie se perde em pensamentos e vê a beleza em coisas cotidianas, enquanto seu marido Willie tenta sair do buraco que o aprisiona.

Segundo o interprete de Willie, Luiz Paulo Vasconcellos explana que Beckett quis metaforizar o século XX em sua obra, que teve o homem como o centro do mundo e assim sucessivamente duas guerras mundiais.

“Beckett retrata que você esta enterrado na guerra, na religião, na política, na família, no trabalho. Ele quis dizer que você estará enterrado sempre a alguma coisa.”, completa o ator.

Com duração de duas horas, o espetáculo conta com uma reflexão intensa e segmentada pelos pensamentos e as ações cotidianas da personagem principal Winnie. Para a atriz Sandra Dani, Beckett em “Oh os belos dias” quis comprovar a confirmação de nossa existência pelas pequenas coisas que acontecem em nossa vida e que para nós são ações mecânicas, como escovar os dentes ou pentear os cabelos.

“Contracenar essa peça me fez refletir muito sobre tudo. Isso quer dizer que não são os grandes pensamentos, as grandes teorias que confirmam a nossa existência, e sim o cotidiano.”, alega Sandra.

A preparação para contracenar Winnie foi difícil, pois Sandra fica os dois atos parada dentro de uma caixa, sendo que no primeiro ato estava coberta da cintura para baixo e no segundo ato do pescoço para baixo.

Segundo Sandra, foram dois meses e meio de ensaios que duravam até 4 horas pela tarde. A atriz ensaiava também sozinha pela manhã. “A peça exige muito, pois ela não tem uma sequencia lógica, assim como nossa memória.”, relata a interprete de Winnie.

Aplaudido de pé, o espetáculo surpreendeu e emocionou muitas pessoas. A atuação de Sandra Dani foi extraordinária e muito elogiada pelo público. A estudante de teatro Tamires Moraes relata que a construção da peça dirigida por Rusche foi maravilhosa. “A peça em si te deixa em um eterno ciclo de pensamentos.”, finaliza Tamires.